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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Biblioteca da Memória

Às vezes convém fazer um retrospecto, um introspecto. Vale vasculhar memórias antigas, lembranças que foram importantes e que ainda nos guiam. Às vezes a gente precisa guardar certas pessoas, relevar experiências, revelar segredos. De tempos em tempos a gente precisa se perguntar quem a gente é, e o quão distante estamos de quem gostaríamos de ser.

Normalmente eu faço isso no final do ano, mas o ano passado foi atípico. No final de 2017, naquela cerimônia que me fez tão absurdamente feliz, a grande questão foi se, na infância, podíamos nos imaginar ali. E eu certamente não podia. Mesmo num passado mais recente eu não poderia. Sempre mudei muito fácil de opinião. Porque sempre me pareceu que o "para sempre" era longo demais, e eu não tinha tempo suficiente. Ainda parece. Mas eu não sou mais criança.

E, tampouco, sou quem fui na semana passada.


Eu sempre gostei de ler. Sempre imaginei algo enorme em cada livro, uma nova realidade em cada universo. E, consequentemente, sempre gostei de escrever. Eu sempre soube que faria isso a vida inteira, só não imaginava sobre o quê e - pensando agora - uma espécie de diário me pareceria pouco. Mas acabou se ajustando.

As palavras acabaram me levando ao tal sonho do jornalismo - viver à partir da escrita, da curiosidade, do conhecimento. O amor me tirou da utopia. Ele não foi o primeiro para o qual escrevi, mas moldou minha escrita - ele se tornou meu objetivo. E, até hoje, tantos anos depois, ainda escrevo um modo de me sentir como me sentia com ele. Ainda converto "querer" em "gostar; "gostar" em "estar apaixonada" e "paixão" em um "quase amor". 

Mas nunca foi a mesma coisa. E tudo bem.


A dor me levou à empatia. Com o tempo, fui aprendendo a me colocar no lugar dos outros, e a sentir suas dores como se fossem minhas. Então eu quis ser psicóloga, pra tentar encontrar algo bom no sofrimento alheio. Como se assim eu pudesse aprender a lidar com os meus próprios monstros. Ou, ao menos, na tentativa de mascara-los.

No intervalo, veio o relacionamento bumerangue que nunca levou a lugar nenhum. Veio o amigo que, felizmente, ainda se mantém amigo. Uma série de "tanto faz" atrelados à nenhum significado. "O amor em seu formato mínimo", como na canção do Skank que eu amei de primeira. Veio uma série de caras que inspiraram meus textos e que foram sucedidos sempre por outro que eu achava mais estimulante.

E eu, que era toda sonho, me tornei ar.


Em algum momento, veio aquele texto sobre buscarmos sempre alguém que tivesse algo que nós mesmos não temos. Eu não sei se alguém serviu como molde para ele; acho que foi uma conversa despretensiosa. Mas então eu passei a reparar o que buscava naqueles com que me envolvia. E ainda reparo. Só parei de reparar no que, de fato, ficava em mim.

Terminei um curso técnico que gostava, mas não muito, e ingressei num curso que amava, numa faculdade que "não muito". De lá ficou uma pessoa com a qual não converso muito mais, mas que ainda é um dos maiores amigos que encontrei na vida. Encontrei uma alma que combinava com a minha. Com o nome que me trazia dor ao proferir. E ainda o vejo como uma forma de cura.

Lá, aprendi que eu podia ter mais do que me falavam.


Então comecei a sonhar ainda mais alto, porque eu queria ir além dos meus sonhos infantis. Eu queria encontrar meu lugar no mundo e tinha pressa. De lá, veio a realidade exatamente do jeito como ela é. E ainda bem que a conheci - não é bonita, mas eu precisava aprender a lidar com ela.

Também veio o sorriso mais bonito que já me pertenceu. Ele não sabe, mas eu adorava a liberdade de estar "presa" a ele. Estar onde eu queria estar, muito além de onde queriam que eu estivesse. Os cantos escondidos, os segredos de liquidificador. A "beleza de gestos, abraços, mãos, dedos, anéis e lábios, dentes e sorriso solto" que ele não tem ideia do quanto foi difícil ter que abandonar.

Eu gostei muito dele; quase acreditei que era amor. Mas eu não podia ficar.


Eu ainda tinha um erro a cometer, mas que era inevitável. Tinha escolhido e trilhado esse caminho por tanto tempo que não tinha como escapar por um atalho - e ele merecia ser algo muito melhor do que uma fuga. Ele merecia ser o destino final, e agora eu vejo a ironia desta escolha de palavras. E eu agradeço por ele se sentar ao meu lado no restaurante naquele dia; por ter escolhido voltar e - então - ficar na minha vida.

Sobre o erro, estive com ele ontem à noite. E o saldo foi bem positivo, na verdade - o passado ficou no passado. Conversar com ele foi divertido, mas não o suficiente para eu não querer ir embora. E talvez, ao mandar embora - recentemente -  quem eu queria sim como amigo, eu tenha reencontrado alguém que me queria como amiga.

Nós somos apenas partículas de poeira dentro da galáxia.


Depois veio o cara que eu nunca deveria ter magoado. Ele riria se soubesse que estou exatamente no ponto em que ele se perdeu. Eu ainda concordo com alguns dos meus pensamentos - mesmo que agora eles se refiram a mim -, mas não devia tê-los expressado. Não sei o que dele ficou em mim, talvez certo grau de carência que me fez enxergar sentimento onde não havia nada, mas espero - se algo meu ficou nele - que ele tenha se tornado alguém mais seguro. Ele tinha muito potencial. E eu quase fiquei para descobrir.

Se eu tivesse ficado, onde estaria agora? Em uma casa de cercas brancas, vivendo o amor dito tradicional? Aquele relacionamento seguro, onde a gente sabe pra onde vai quando cai a noite; pros mesmos braços, mesmo sorriso, mesma conversa. Mesmas trivialidades. Eu não estaria escrevendo este texto. Não teria escrito a maioria destes.

E, provavelmente, ele teria escrito a minha vida.


Mas eu fui embora, e a verdade é que peguei tantos caminhos não previstos que não sei mais qual merece ser citado como uma experiência especial. Descobri que nem me lembro de alguns nomes, e que isso faz de mim alguém bem diferente do que eu imaginava no início dessa jornada. E muito distante do que desenhei para os meus 28 anos. Talvez eu precise desenhar um novo caminho com pressa, ou aprender a lidar com a possibilidade de nunca chegar ao meu sonho, afinal.

Enfim, teve aquele cara que já começou mentindo. Mas que, então, tentou se corrigir e eu acabei ficando pra entender melhor. Ele parecia uma pessoa bem bacana por trás do personagem que havia criado, mas ele sabia atuar muito bem. E incorporou tanto o personagem, que passei a não diferenciar quando era ele e quando era quem ele queria ser.

E pra mim já basta eu existir nessa dualidade.


Então veio você. O cara por quem e para quem eu tenho escrito com essa frequência absurda. O cara que respondeu à minha pergunta zoada e rebateu com outra de igual cunho. Eu ri demais naquele momento. Foi a melhor "primeira conversa" que eu tive em dez anos, e aquela também deixou marcas indeléveis. Você me tirou da minha zona de conforto, e é por isso que eu faço questão de guardar todas as impressões que ficaram. Não quero esquecer, porque não quero mais aquela monotonia de ter sempre as mesmas conversas.

Só estou lutando para não criar outro padrão inatingível. Pois nenhum outro cara vai ser você, e a memória é coisa cruel. Ela grava o que é bom, porque de dor já basta cada dia que a gente vive. Mas vai passar, todos os caras anteriores passaram. Só precisa chegar a hora certa para isso.

"Todos as horas ferem. A última mata."


Esse ano eu vou focar em ser menos quem eu fui, e bem mais em quem eu posso ser. Utilizar a sua dica e focar no campo profissional (espero que ele foque em mim também). Porque nada em ninguém pode me fazer mais feliz do que eu mesma.

"I've got so much love
Got so much patience
I've learned from the pain
I turned out amazing
Say I've loved and I've lost
But that's not what I see
'Cause look what I've found
Ain't no need for searching"

E o que eu escrevo sobre você fala muito mais sobre mim.






"Please, don't see
Just a girl caught up in dreams and fantasies
Please, see me
Reaching out for someone I can't see"

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