Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

quarta-feira, 12 de junho de 2019

Rewrite the Stars ⭐


"Onde não puderes amar, não te demores."
Naquele dia de janeiro, quando o primeiro tchau ainda não tinha sequer sido dito, eu li e adaptei esta frase. "Onde não puderes ser amada, não te demores.". Foi a primeira vez que assumi a posição de afastamento, ainda que não a visse como uma forma de me proteger. Ainda que não soubesse as proporções que aquela história poderia tomar.

Agora, vendo tudo de um panorama diferente, as palavras que eu nunca encontrei momento exato para falar, podem enfim fluir. E as citações que ficaram pendentes encontram o lugar ideal. 

"Obrigada por ter sido quem eu precisava. Mesmo que isso tenha significado você não permanecer na minha vida."


Por certo tempo, me peguei pensando naquela conversa nossa, naquela sexta-feira antes de o meu mundo desmoronar. Pensando em como eu senti que ainda poderia existir um "nós" implícito no aparente "eu e você". Naquela conversa gostosa, despretensiosa. 

Pensando em como você não era mais uma preocupação, em como havia outra pessoa entrando na minha vida, e em como eu achava isso algo tranquilo. Eu e você permaneceríamos como amigos, ao menos até admitirmos que deveríamos ter tentado mais. Eu e ele permaneceríamos nos vendo ocasionalmente, até nossos caminhos - inevitavelmente - se separarem. Eu nunca gostaria dele como gostava de você; e nunca o teria como a ele.

Minha vida seguiria da mesma maneira, com as mesmas coisas pequenas que pareceriam gigantes.



Mas aí tudo mudou, e nós fomos obrigados a repensar o que estava acontecendo. Você se tornou um apoio tão forte e tão seguro que foi surpreendente. Eu quis que a gente tivesse se decidido mais cedo. Queria ter falado mais sobre você, para tranquilizar os corações de quem me amou até o último segundo.

Você perguntou se eu queria que fosse me ver naquela hora - deixando de lado tudo que estava fazendo. E veio quando eu disse que estava na hora de vir. Então você ficou. Na minha vida, nos meus braços, no meu sorriso no meio da tarde; seu cheiro nos lençóis.

E eu, que desde então me perguntava para onde ir, me senti estupidamente feliz com você ao meu lado. Me senti completa, me senti infinita. Nos seus braços acreditei que não havia perdido completamente o meu lugar no mundo - senti que só precisei redefini-lo. Que não importa tanto o destinatário; ao menos não mais do que o remetente. O que importa é a mensagem.

O que importa e que fica pra sempre, em nós e nos outros, é o que queríamos dizer com os sorrisos, o toque e até com o "não dito". O que fica é a vez que eu segurei o "eu te amo" pela primeira vez, e a vez que enfim assumi. É a certeza de que as ações do verbo "amar" abriram porta para esse sentimento.

Eu precisava sentir amor por alguém.


Porque - você sabe bem disso - aprendi naquele treinamento que "amar" e "amor" são diferentes. Que "amar" é verbo; e verbo exige ação.

Então te amei quando segurei sua mão ao sairmos da livraria depois do primeiro beijo. Ao entrar naquele carro no final do primeiro encontro. Você me amou quando colocou "Molejo" pra tocar, e cantou. E, antes mesmo de nos encontrarmos, me amou ao enfrentar a "pior chuva" da sua vida, no caminho para o shopping.

A gente amou em cada ação. Nas idas e então nas voltas. Nas conversas que talvez nem precisassem ter acontecido. No relógio que continuou contando mesmo quando nós dois estávamos parados. Nós dois conjugamos o verbo, e eu me arriscaria a dizer que de modo proporcional.

A questão que sempre ficou pendente foi o sentimento.


Um sentimento que nunca veio. Cuja ausência foi mais forte do que qualquer outro sentimento ou sensação que pudesse estar presente. Destruindo tudo antes que houvesse algo sólido o suficiente construído. Antes que eu tivesse tempo de te dizer que o seu sorriso sonolento me dava um pouquinho de sono também. Que eu mudei a minha posição para dormir, para que pudesse me encaixar nos seus braços.

A semana corria lenta demais pra saudade que me consumia. Com você, eu senti que amor era muito mais; uma entidade quase palpável. Algo ou alguém que esteve com a gente desde o início, embora sempre nesse descompasso fatal. Querer você, sem ter, mudou completamente minha vida e quem eu era.

Porque, depois de uma década, você foi a frase que eu tive tanto medo de voltar a dizer. Foi um amor impossível e, ao mesmo tempo, inevitável.


Ainda assim você se foi. E, ao cruzar aquela porta pela última vez, você nem olhou para trás quando fechei a porta. Pra você, não havia nada de valor a ser deixado. E eu voltei a ser somente "a garota chorando no escuro". Exatamente como tudo havia terminado daquela primeira vez.

Mas esse não é um texto sobre sofrimento, dor ou perda. É sobre o que você me disse no dia seguinte. Que você tinha ficado triste na volta pra casa, mas que tinha a sensação de ter tomado a decisão certa. Quase um mês depois, eu concordo.

****, você foi um anteparo onde antes havia estado a minha base. Foi alguém vindo sabe-se lá de onde para me dar um apoio que eu ainda não sabia que precisaria. Você foi primavera para a Rosa que ainda não havia desabrochado.

E então eu aprendi a ser o jardim inteiro.


Então, nesta quarta-feira (esse dia não poderia mesmo ter significado maior pra nós dois), eu te agradeço. Por ter entrado na minha vida como se já fizesse parte dela há tempos. Por ter me feito sorrir mais. Por ter me impulsionado a ser quem eu precisava ser e ainda não sabia. 

Por ter insistido todas as outras vezes que me afastei por medo de seguir adiante e sofrer mais. Por ter insistido no "nós" que você mesmo nunca acreditou. E por, naquele domingo de maio - quando eu achei que precisava me afastar de todos que me amavam -, compartilhar comigo sua própria família.

Quando tudo o mais pareceu sumir, você me ensinou a reescrever as estrelas.