Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

segunda-feira, 27 de julho de 2015

$cuølα δι Αθήνα

Hoje eu decidi escrever um texto franco e direto. Escrever da forma que nunca conseguimos conversar. Vou escrever e me descrever sem rodeios, porque country nunca foi o estilo musical favorito de nenhum de nós.

Eu decidi escrever o que está entalado na garganta, pra ver se posso engolir - enfim - os "se" e seguir em frente sem olhar para trás. Sem pensar no que criei de você e nos laços que você cortou; eles nunca se tornaram nós, mas estão aqui me incomodando.

Vou escrever sobre o incômodo, e vai ser tão menos rebuscado, que será até feio de ler. Mas para quê criar beleza neste vazio?


Este texto é uma ode a toda angústia que ficou daquilo que seguiu direto, sem parar para que eu pudesse entender. Esse texto é sobre o vento que não balançou os meus cabelos e que impediu que as pipas pudessem voar. Sobre o vento que inventei e que, portanto, não deveria ter me arrepiado.

Se você tivesse surgido na minha vida - ambas as vezes - tal qual está agora, eu não teria me importado tanto. Talvez nem tivesse reparado, ainda que o visse. Mas você não podia fazer isso; não pôde fazer nada do que eu pedia. Então você, ao optar por ser "8 ou 80", acabou sendo mais do que eu podia domar. 

Entre ser quente ou frio, você optou por me queimar. E nem sequer consegui distinguir se foi uma queimadura de calor.


Mas você merece meu respeito. Me manipulou de um jeito que eu normalmente consigo evitar. Olhando no fundo dos seus olhos, eu não fui capaz de enxergar a armadilha que se formava em torno de mim, e cai totalmente sem defesas.

E eu ficava lá, te observando como se fosse morrer. Desejando beijar cada milimétrico e assimétrico detalhe entalhado em sua pele. Desejando o insano calor que aquele gelo produzia dentro de mim. Eu não via que estava tão enganada. Não notava o quão cega estava me tornando.

E agora eu fecho os olhos torcendo para, ao abri-los, não enxergar mais nada. Continuar naquela cegueira, que me parece tão melhor do que compreender toda a minha tolice.


Já pensei em escrever algo sobre essa sensação única e gritante que me percorre. Sobre a capacidade de entender o que você estava fazendo, sobre a impossibilidade de mudar alguma coisa no seu ou no meu comportamento. Sobre a vontade de apagar você em tudo o que me rodeia, e sobre o fato de que isto não minimizaria a presença de você dentro de mim.

E agora eu faço que não ligo, não quero notícias. Não quero o seu sorriso na minha timeline. Mas ainda assim observo sedenta por sinais de que algo em você seja, de fato, como eu delineei em minha mente. É desconfortável perceber que me apaixonei por uma mentira.

Porque se uma mentira foi capaz de me recuperar, minha "doença" era igualmente fantasiosa. E eu não sou hipocondríaca.


Um dia eu disse a você que não me apaixono ou me envolvo com rapazes mais novos do que eu. Sempre foi assim, apenas um preferência. Mas eu estava mentindo descaradamente, e nós dois sabíamos. Você não era como o que eu imaginava que devia ser, e eu acreditava que isso era um elogio; uma vantagem. Mas você tampouco era o que eu via, e vejo agora que eu errar em relação a isso foi fatal.

Ainda me pergunto vez ou outra como foi possível me enganar tanto assim. Como eu mesma fui capaz de me decepcionar; afinal, eu me conheço bem e não crio mais expectativas. Crio dúvidas, dores, dois cachorros, um cavalo e agora uma dúzia e meia de desaforos. Acredita que, quando a dor aperta, eu me forço a ficar encarando o espelho, para não chorar?

No final daqueles dias, eu me prometi nunca verter uma mísera lágrima em seu nome, ainda que o fizesse mais por mim mesma. Tenho cumprido a promessa.


Noite passada eu me prometi então escrever-lhe este adeus; o qual me parecia muito mais simples quando escondido na escuridão. Acabou sendo mais complicado, ainda que tenha me demorado tão pouco e me custado apenas o que eu já tinha aqui há tempos.

Durante muito tempo eu acreditei que as despedidas eram difíceis porque precisávamos encontrar as palavras certas e aprender a coordena-las, de forma a dizer tudo aquilo que ficará para sempre. No entanto, neste instante, escrevendo não sobre você mas para você, entendo enfim que se despedir é difícil porque demanda os medos anteriormente não declarados. Despedir-se é dizer tudo o que parecia errado, de forma a permitir que se silencie e que o presente possa se tornar passado.

Estava apaixonada. Adeus, Michelângelo.