Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

𝔔𝔲𝔞𝔰𝔦𝔪𝔬𝔡𝔬

Há dias aquela música que compartilhei ontem invade minha mente. Há dias a sensação de que "é uma ideia que existe na cabeça e não tem a menor pretensão de acontecer" me percorre, e eu sinto que preciso escrever. Sei que prometi deixar o assunto pra trás, mas eu simplesmente não consigo. É o pensamento mais constante na minha vida há muito tempo, e nem sequer exige que eu esteja consciente.

Ninguém deveria saber que sonho com ele todas as noites. Tampouco que estou passando por um processo similar a uma desintoxicação e que me sinto uma drogada participando de um programa de 12 passos. Se ele perguntasse, eu claramente negaria. Mas ele não vai falar nada.

O silêncio me incomoda. Aprendi que não receber uma mensagem também é uma mensagem, e esta é uma que eu não gostaria de receber. É uma certeza de tudo o que eu já sabia, mas que ainda tinha esperanças de estar errada; aquela sensação intermitente e profundamente constrangedora de que eu me iludi novamente. A aceitação de que eu não consegui evitar esperar.


Em partes, tudo isso devia me dar uma nova esperança; uma vez que confirma que ainda existe algo dentro de mim capaz de sentir. Mas sentir demais dói. Dói tanto que eu tentei me afastar como quem não pretende voltar nunca mais, e acabei me encontrando à beira do abismo de mim mesma - num ponto em que a escolha era me render ou me perder. E acho que me rendi por medo.

Não ouvir aqueles comentários idiotas e sem muita importância era mais torturante do que a angústia de sentir que - em troca - ele me escutava mas não me entendia. Não sentir o coração acelerar de repente, e parar nos momentos mais inoportunos foi o mesmo que não sentir o sangue pulsando nas veias. Se alguém perguntasse qual foi a sensação, eu mentiria; jamais admitiria que não tê-lo em minha vida fazia eu me sentir meio morta.

Falar essas coisas em voz alta combinaria com o meu "eu" de 16 anos. Mas me sentir tão impotente em relação a alguém aos 25 vai contra tudo o que acredito agora. Senti que podia ser independente, mas vi meus dias serem bons ou ruins conforme as atitudes dele; e lutei pra me sentir livre - o suficiente para aceitar que talvez um dia eu venha a me prender a alguém.


Todas essas palavras correm soltas agora (parece que esperaram tempo demais pra sair), mas acontecem diante da certeza de que ele não dará importância o suficiente para ler. O que chega a ser irônico, porque uma vez eu medi as palavras esperando que ele entendesse o que eu dizia nas entrelinhas - claro que não funcionou.

Então eu admito pra quem tenha interesse, mesmo que não saiba bem de quem estou falando. Pela primeira vez em muito tempo eu fiquei bem em estar vulnerável. E a verdade é que, em dias alternados, eu quis dizer tudo isso a ele. A cada sorriso, eu quis (e na maioria das vezes, fiz) sorrir de volta. E todos os dias eu o desejei total e conscientemente em minha vida. E ainda quero.

E quando me abraçou, eu - que sou péssima em relação a contato físico - quis (desta vez, inconscientemente) dizer que te amava. Dizer as palavras que eu não ouço sair da minha boca há longos anos. Expor um sentimento que eu ansiava por reviver, e tinha medo de nunca mais conseguir.

Amor. Total, inteiro, sem reservas. Apesar do medo, e talvez em parte por causa dele. 


Uma devoção completa que travesti de quases.

A "quase" coragem de me declarar.

A "quase" beleza que eu vi no medo.

O "quase" homem que me conheceu.

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Lebenslangerschicksalsschatz

Depois de tudo o que escrevi aqui ao longo dos anos, chega a ser vergonhoso falar que "desta vez o sentimento é diferente", porque a gente sempre acredita que é. Mas daqui, do topo do monte de minhas desilusões, chega a doer fisicamente admitir que nem me lembrava como é me sentir assim. Da última vez, eu tinha 15/16 anos e a vida inteira pra viver a filosofia de Tránsito Ariza:

"Aprovecha ahora que eres joven para sufrir todo lo que puedas, que estas cosas no duran toda la vida.";

no entanto, acreditava verdadeiramente que não tinha porque sofrer à partir de algo que, aparentemente, me fazia bem. Desta vez, não vejo motivos para amar algo que me faça sofrer. E ainda assim não consigo evitar.


Se isso era um teste, sinto que fracassei. Ter conseguido, com sucesso, fugir de todos os que chegaram com calma, pedindo licença foi fácil. Dizer "não" à quem me fazia uma pergunta era a resposta óbvia; a única que eu poderia imaginar. Mas expulsar alguém que entrou sem pedir (e provavelmente sem perceber) e que nem eu mesma notei a tempo é complicado. É como erva-daninha que aparece sabe-se lá de onde. É como algo que se torna parte de nós e vai ficando pela comodidade. Eu tenho medo de ter me acostumado.

E eu queria ser capaz de escrever este texto inteiro sem começar uma única frase com "ele" ou algo que o remeta; sem parecer uma personagem de um filme que ou fala com homens ou fala deles. Mas eu sou fruto do que acompanhei. Sou mulher que acreditou em príncipes encantados - e que depois se desencantou -; que se apaixonou por Mr. Darcy, e sonhou com um amor como o de Florentino e Fermina. Sou do tipo que chorou assistindo dorama, só por ver que o final feliz não estava óbvio. E do tipo que procurou o "guarda-chuva amarelo" acreditando que, depois dele, ainda haveria a "trompa francesa azul". 

Sou do tipo, agora, que olha pra ele e não vê nada.


E este é mais um fracasso: citá-lo depois de prometer não mais o fazer. Mas ele é o reflexo de todas as minhas promessas não cumpridas. É ter me apaixonado cega e inevitavelmente apesar do tanto que eu tentei evitar em todos os outros casos. É não conseguir ir embora, pela primeira vez. Ele é a vontade insana de chorar em dias alternados, e a dor excruciante diante da ausência. Ele é a soma das contradições.

Pela primeira vez em nove anos, deleguei a escolha a outra pessoa. Pedi para ele não sair da minha vida quando eu saísse por aquela porta. Fiquei, apesar da certeza do não. Acho que algo em mim ainda queria estar errada.  E era certo que seria um erro. E apesar de ter dito para mim que sim, eu não me arrependo. Só imploro que tenha sido a última vez; que eu aprenda a reforçar minhas defesas, porque eu descobri que não estava preparada para o inesperado.

Irônico, pois parece que esperei por isso a minha vida inteira.


Ele é Beinaheleidenschaftsgegenstand. E eu sou só o acúmulo dos "quase".

terça-feira, 14 de novembro de 2017

ℳ𝓪𝓻𝓲𝓪𝓷𝓪 ¸¸.•*¨*•✩

E depois de falar sobre diferentes personagens fantásticos, fantasiosos e ficcionais, chegou a hora de falar sobre a personagem que ninguém notou. Aquela que talvez seja mais real do que era de se esperar e que, consequentemente, não chama tanta atenção. Esse texto não é sobre alguém do tipo que para o trânsito, é sobre alguém que tentou parar o tempo.

Desta vez a pessoa não é um "ele", nem alguém que soube ser um elo na vida de outro alguém. É sobre "ela"; a versão de mim que não se permite sequer protagonizar a própria história. E antecipo, não é uma história bonita; não tem um final feliz (nem ilude com a promessa de um). É só um conto adjacente sobre a coadjuvante.

Este texto é sobre alguém que tem medo de seguir em frente e, por se recusar a voltar atrás em relação às escolhas erradas, acaba por permanecer inerte no mesmo lugar.


Recentemente, um amigo a descreveu como "muito geminiana". E ela, que nunca foi de dar muito valor à astrologia, optou por se agarrar naquelas palavras que pareciam tão familiares. Para ele (e de acordo com um tal de "Mapa Astral"), ela tem três planetas posicionados em Gêmeos: (1) Sol, que rege sua essência; (2) Mercúrio, que rege a comunicação e (3) Vênus, que rege os relacionamentos. Com ascendente em Capricórnio, ela se apresenta ao mundo como uma pessoa fria, metódica e trabalhadora. Com lua em Leão, tem um lado emocional criativo, agitado e imediatista  E talvez seja interessante eu começar com essa definição, porque esse texto e as ações que o impulsionaram foram decisões tomadas de cabeça quente.

A verdade é que, agora, depois que a poeira abaixou, ela se encontrou num caminho sem volta. Talvez aquele amigo possa explicar qual signo em qual planeta é responsável por todo esse orgulho que a impede de admitir que estava errada e que está arrependida. Ou que justifique os porquês de, toda vez que ela pensa, ter mais certeza de que fez a coisa certa (mesmo que soe tão errada).

Não foi culpa de nenhum astro ou de qualquer outro ser imaginário e onipresente. E ela nem culparia as pessoas - em que ela ainda teima em acreditar -; ninguém senão ela mesma. E não foi uma frase mal colocada, um coração partido ou a soma de uma série de frases desconexas que a impeliu. Foi a necessidade de admitir que a culpa pelo fracasso inerente seria exclusivamente sua.

Este texto é sobre a promessa que ela fez e que não seria capaz de cumprir (embora pretendesse).


Ao longo dos anos, ela se descreveu como uma pessoa que fugia antes de se machucar, diante da simples possibilidade de se magoar. Ela sabia que podia só não criar expectativas, mas a música mesmo já dizia que "todo mundo espera alguma coisa". E ela esperava, embora vá negar. Hoje, vendo em retrospecto, nem era muito: reconhecimento, amizade, consideração. Nada de amor, promessas do tipo que todo mundo faz sem nenhuma pretensão de cumprir, a ideia da eternidade mesmo que por uma noite. Só a sensação de que faz diferença estar ali. 

Então, este texto é sobre as horas que ela passou a cronometrar, ansiosa por não regressar. Sobre o poema que ela, ainda criança, acabou decorando e cuja cena foi um marco em sua infância; sobre as "10 coisas que eu odeio em você" que, embora baseado em um rompimento, se tornou um ideal romântico para ela que se auto-denomina realista. Todas essas palavras são sobre a única palavra que atuou como "estopim" neste caos. E todas as frases são sobre o que, sobre ela, ninguém soube reconhecer.

Ela não queria parecer que estava culpando alguém. Mas não queria assumir toda a culpa.


Tudo o que foi escrito outrora parece ter perdido seu significado, parecem parágrafos soltos e desconexos que ela não é mais capaz de reconhecer. Talvez seja sua mente se preparando para um recomeço, ou a muralha que ela teima em construir como uma forma de se proteger. Ela queria poder evitar, mas trancada aqui as coisas parecem fazer mais sentido.

E eu, a soma das metades, o inteiro do que faltou ser, peço um sinal (só um, mesmo que sutil); algo que transforme o muro em ponte. Um sinal de que (ainda que ela não tenha certeza) você ainda sabe quem eu sou.

Esse texto é o último que escrevo sobre o que, de você, existe em mim.


domingo, 29 de outubro de 2017

Nα̃σ

Várias vezes nestes últimos dias eu me peguei pensando em tudo o que há e que não pode ser dito ou descrito. Percebi que escrever apenas sobre o que pode ser contado através de palavras era muito vago para exemplificar este misto de emoções que tomam conta de mim. Porque eu sempre quero acreditar que desta vez é diferente.

Invariavelmente, escrever você tão explicitamente neste texto torna-o um clichê como todos os outros. Torna você uma soma do que a gente quer que funcione, o meu "Trem Bala", meu "Stranger Things" - com a diferença de que, em relação a você, eu realmente gosto do produto final.

Todavia, a dúvida ainda é constante e me motiva a voltar a escrever. Bilhetes, cartas, somas e notas que ficarão guardadas, arquivadas como um relato de tudo o que eu senti em vão. Mensagens que você não lerá e que, quiçá, eu venha a enviar a um desconhecido através de uma garrafa. A certeza de que o sentimento é universal me inspira a amontoar essas linhas mal traçadas, com a sensação de que - mesmo sem sentido - quaisquer pessoas que as lerem as sentirão.

Olho ao redor. Convido-o a fazer o mesmo. As paredes, móveis e pessoas têm seus cheiros, texturas e sonhos. Cada um é um livro que espera sedento por alguém que o leia, e por mais que pensemos que a vida é um livro aberto, ainda existe um segredo a ser descoberto. Eu queria saber qual é o seu; mas ainda não tenho coragem de deixar que você me descubra.

Raras vezes eu me expus tanto através do não-dito. Sempre me senti mais segura escrevendo, por isso escolhi essa forma para me declarar tantas vezes. Mas não posso escrever uma frase simples num papelzinho para lhe dar. Faltam palavras, mesmo que eu as escolha cuidadosamente. Você é um sentimento raro que ainda não dei nome.


Hoje estou aqui, com um bocado de medo que me impede de seguir em frente. Que me pede para me esconder e encolher num canto qualquer de um refúgio comum. E eu fico, como quem aceita uma proposta suja, com um pouco de vergonha de admitir. Fico como quem espera ajuda. E escrevo como quem espera você.

Uma vez ouvi uma música que dizia: "Ele é um pouco de mentiras inteiras, vazias, mas quando ditas se transformam em poesias.", e foi como ter você descrito ali, em palavras que eu jamais teria usado. Foi como ter exposto em versos tudo o que colori sobre você e que talvez me impeçam de distinguir o que há de verdade sobre quem é, e sobre tudo o que podemos ser.

Gosto da sensação, de qualquer modo. De fingir possibilidades dentro das improbabilidades. Gosto da sensação de intimidade, ainda que por vezes pareça forçada e às vezes pareça algo tão natural. Gosto da sensação de me sentir dopada, obcecada; como se sente em toda paixão. Sinto medo de que não passe logo. Sinto medo de deixar que passe sem deixar marcas.

O que eu digo faz algum sentido? Minhas frases lhe parecem críveis? (Porque eu me sinto incrível, se quer saber). Eu tento, mas não consigo imaginar você lendo uma coisa assim. Mas vejo claramente a cena de alguém que leia e entenda, e é por isso que escrevo. Você é um medo insano cujo nome quero gritar. Você é o barulho que vou reter. E silenciar.


sexta-feira, 27 de outubro de 2017

Sιм

Eu poderia te dizer várias coisas. Poderia dizer como adoro seu sorriso, apesar dos detalhes. De como anseio por vê-lo se sei que vai aparecer. Seria capaz até de dizer - ainda que a contragosto - sobre as vezes que cheguei a sonhar com você, e sobre como eu me sentia bem nas manhãs seguintes. Poderia até admitir que gosto de você.

Mas eu nunca conseguiria falar que em todas as vezes que me senti desconfortável naquele lugar, o motivo também foi você. Não diria em voz alta que, às vezes, me deu um nó na garganta e uma vontade imensa de nunca mais voltar ali. Sobre como eu fingia não ouvir, no início; e sobre como eu passei a fazer brincadeiras sobre o assunto apenas para me distrair.

Porque dizer que me senti mal em relação a você é admitir que as coisas em mim mudaram.


Desde o início eu soube que estava fadada a ser aquela que você não notaria mesmo se só existíssemos nós dois. Por isso me escondi atrás de uma fachada, na tentativa de parecer forte e impassível apesar das rachaduras em meu interior. Fingir não me importar nunca foi tão difícil, porque até então eu nunca tinha me importado tanto com uma única pessoa.

Você não sabe (e nem poderia saber) que pela primeira vez eu pensei no meu passado e realmente entendi que estava no passado. Que eu vi uma foto dos dois juntos e acreditei. Que eu aceitei que não havia como ter dado certo.

Você não vai saber que, pela primeira vez, eu sei que não preciso me contentar com o segundo.


Quando você se sentar ao meu lado na próxima vez, me lembra de implicar com algo que eu faço de conta que tem importância; e de me fazer contar os detalhes entre seus olhos e seu jeito de andar, e que fazem de você quem você é. Se esquece de me lembrar que o cronômetro está rodando e que o tempo está prestes a acabar. Me faz acreditar que você ainda estará onde quer que eu esteja.

Lembra de cantar aquela música antiga e completamente cafona que vai ficar na minha cabeça pelo resto do dia. Me lembra, que eu vou lembrar de não te esquecer.

Faz um comentário qualquer que vai incitar uma discussão acalorada e sem sentido nenhum e que nos fará rir no final. Deixe que ela faça as analogias que lhe caem melhor, mesmo que eu não consiga entender de imediato e acabe falando besteira. Deixe agora que eu também passe a fazer minhas próprias.


Quando eu me sentar ao seu lado, vou tentar me esquecer de que precisei procurar uma solução para todos os problemas que você criou dentro de mim. Vou me esquecer de que acabei me forçando a procurar uma fuga rápida para um caos que me perseguia sem intenção nenhuma. E vou continuar fingindo que não ouvi quando ela me fez aquela pergunta.

Vou me esquecer dos pensamentos que me vieram à mente, e de como eu quis fugir do meu plano de fugir dali. Porque aquela era a única pergunta que eu não poderia responder. E ela me causou mais problemas dos que os que eu tinha antes. Porque quando uma das variáveis mudou, eu percebi que mudei tudo em mim por você.

E é difícil aceitar o fato de eu nem ter percebido a tempo.


Eu poderia dizer várias coisas. Dizer sobre a saudade que vou sentir. Sobre a indiferença que vou encenar. Eu poderia admitir coisas sobre mim que nunca admiti para ninguém. Poderia falar sobre coisas sérias, e sobre como eu queria poder mudar o mundo. Sobre coisas levianas, e sobre a vontade de segurar sua mão. Sobre o desejo de transformar seu canto em dueto, e sobre aquela música nova do cantor modinha.

Poderia até dizer que aquele texto também era sobre você.

Mas a única coisa que eu queria realmente poder dizer e nunca conseguiria é: SIM.


quarta-feira, 9 de agosto de 2017

𝒬𝓊𝒶𝓃𝒹𝑜 𝓈𝑒 𝒻𝑜𝓇...

Quando se foi, eu fiquei. Parada, estagnada, completamente sozinha. Fiquei procurando o erro. O meu erro. Fiquei como quem procura motivos ou desculpas. Como quem busca as respostas de perguntas que ainda não foram feitas.

Você andou e eu fiquei ali.

Quando se foi, me questionei: e seE se você não tivesse sido tão impulsivo? E se você tivesse, de fato, pensado melhor? E se nós tivéssemos conversado direito? E se eu nunca tivesse conhecido você?

E se eu não tivesse te dito aquelas coisas? E se fosse, naquela época, quem sou agora e tivesse calma? E se eu não me sentisse tão feliz ao seu lado?

Quando se foi, cada "e se" foi um corte lento e profundo que me auto afligi. E ferida aberta não cicatriza.


Mas o tempo passou (claro que passaria). E eu fui percebendo que a vida não gira em torno dos "e se', mas dos "quando". E as perguntas mudaram.

Quando você deixou de amar? Aliás, quando foi que eu comecei a amar você? Primeiro foram as palavras ou o sentimento? Quando eles pararam de significar a mesma coisa? Quando eu comecei a sentir medo de te perder? (Se é que senti medo a tempo.)

Quando você se descobriu apaixonado por outra pessoa? E quando "a gente" deixou de ser algo importante? Quando eu me sentiria capaz de amar outro alguém? (Embora essa pergunta ainda exija de mim um "e se" complementar: "e se eu nunca for capaz?")

Quando eu me esqueci do seu cheiro? Quando perdi o som do seu riso, e as palavras ao pé do ouvido? Quando troquei sonhos que eram nossos, por algo que seria só meu? Quando eu me esqueci de quem eu era? E quando eu deixei de me importar com isso; quando a tristeza virou ódio, e quando esse ódio se tornou indiferença?

Quando passei a me sentir melhor sem você?


Quando, naturalmente, eu teria deixado de te amar e ficado com você apenas por conveniência? Quando nos tornaríamos dois estranhos vivendo uma vida em comum? Quando eu me convenceria a seguir outro caminho? Quando eu me tornaria a mulher que estava predestinada a ser, se tivesse continuado a ser a  mulher que você queria que eu fosse?

E quando você deixou de ser quem eu pensei que era? Quando mudou tanto a ponto de me fazer entender que toda história tem um ponto final e dura o tempo certo? Quando eu deixei de te reconhecer? E você, ainda sabe quem você é?

Quando passei a pensar em você em todas as minhas experiências ruins? Quando passei a ter medo das coisas boas?

O tempo passou, assim como as oportunidades de viver uma vida além da que foi escrita à partir das perguntas erradas.


E agora eu tento unir as respostas, em busca de uma solução comum pra tudo o que ainda não veio. Agora quero novas perguntas, sobre pessoas que ainda não conheci. Para pessoas que até já estão aqui, mas sobre as quais eu nada sei. 

Agora eu tento juntar as possibilidades de tempo e espaço, buscando o momento exato em que um sonho é capaz de se tornar realidade. E na esperança de, no meio de tudo isso, conseguir arrancar um sorriso daquele tal "outro alguém", que não é "outro", senão o único que importa nesse momento.


Quando se foi, eu procurei em vão pelo erro que não foi cometido.

Mas tudo bem. Agora está tudo certo.

quarta-feira, 2 de agosto de 2017

A ƜнσƖє Ɲєω ƜσяƖɗ

Quem me conhece sabe que me faz falta escrever. Sabe que nem sempre há assunto sobre o qual falar, mas a ausência das palavras me incomoda. Às vezes, é preciso recolocar as ideias em ordem e esperar que elas façam sentido. E é por isso que estou aqui.

Nestes últimos meses muitas coisas aconteceram na minha vida, e algumas delas podem ser consideradas marcos. Foram redefinidos alguns pilares da minha personalidade, ou talvez eu ainda os esteja buscando. A verdade é que acho que me reencontrei, embora nem sequer soubesse o quanto estava perdida.

Pode ser que eu volte a me perder, talvez ainda ao longo deste texto; mas a sensação atual é de que está tudo perfeitamente em ordem. Para fazer um comparativo - e pra quem sabe os efeitos que o café tem sobre mim - hoje é chá. Hoje, ou talvez ele.

Chá, pois tem o potencial de me fazer algum mal. Mas que é um risco que eu gosto de correr.


A bem da verdade, esse texto não se difere muito dos outros. Eu não sou muito diferente de quem eu era antigamente. As palavras que me definiam ainda são as que me caracterizam. Eu ainda sou a mesma "romântica não praticamente".

Eu ainda me apaixono por detalhes. Ainda me apaixono pela sensação de estar apaixonada. Eu ainda sou platônica. Ainda acredito na possibilidade de viver algo impossível. Porque, no fundo, a gente sempre quer acreditar.

E todas essas palavras vêm na tentativa de exalar e exaltar alguém que talvez esteja sendo criado letra por letra, num misto de adjetivos que nunca poderiam coexistir. Vêm e vão, como tudo o mais na vida, apenas para dar a este dia um sentido maior. Como se algum desses momentos banais tivesse sido verdadeiramente especial.


Quem me conhece sabe de toda essa minha ambiguidade de sentimentos. Sabe que, por vezes, são incertos e indefinidos. Sabe o quanto eu gosto de escrever sobre eles. E sabe que eu não os sinto com igual intensidade.

A verdade é que sou efêmera em tudo o que eu gostaria de eternizar. E é por isso que escrevo.

Porque eu quero falar sobre ele. Sobre tudo o que fica passando como um filme na minha cabeça, que ocupa todos os meus pensamentos e impede que eu me concentre. Quero dividir com alguém todos os monólogos que se firmam em minha mente.

Quero uma forma de me garantir que não estou ficando louca. Mas o meu medo é ficar vazia.


A questão que sempre parece estar em voga na minha vida é quanto estou disposta a me ceder, para que alguém possa fazer parte de mim. O quanto é necessário para mesclar minha vida, meus planos, medos e sonhos com os de outra pessoa. E a verdade é que, no final, quando a balança é zerada e os ânimos se acalmam, nunca parece valer a pena. 

Sempre me parece que, nessa história de "amor", todos correm para chegar ao mesmo lugar. No final, todos voltam ao ponto de partida. Me parece um jogo de 90 minutos que nunca vai sair do 1x1. Porque amor parece só ter graça se houver um empate. E eu não consigo enxergar o sentido disso.

Talvez (mais uma possibilidade para a lista) neste instante, pensando nele, eu considere reavaliar essa história; porque - assim como na fantasia - a gente ainda quer acreditar. E é por isso que eu persisto no que eu digo ser um erro, visando um dia acertar.

É por isso que eu escrevo. Para manter um pouco de humanidade em mim.

Para manter um pouco de magia em nós.

E para criar algo meu nele.



Mas ele não sabe (provavelmente nunca vai saber) o quanto gosto dele neste momento.

E o quanto vou negar esse sentimento amanhã.

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

𝓒𝔞𝔣𝔢́

"Certas coisas não param de acontecer em nós até o fim da vida." Seria bem hipócrita da minha parte negar ou ignorar quem sou agora, mesmo quando a intenção é mudar.

A questão é que não me basta "querer ser melhor" quando volto a repetir certos hábitos, nem é possível fazê-lo sem perder parte da minha humanidade. E o problema é que eu já acho que me resta pouco dela.

Eu não queria vir aqui desta vez. Estou com medo principalmente do meu próprio julgamento. Os conselhos que dou aos outros não me cabem; a dor que desta vez é minha me cala. E enlouquece.


Às vezes, e quanto mais me pego pensando nisso, eu me questiono sobre quem eu me tornei. Digo que tenho orgulho, mas não tenho certeza sequer de que me conheço. Os padrões que adotei com o passar do tempo são tão diferentes daqueles que tenho criticado? Eu não sou melhor em nada.

Olhando no espelho; estudando o castanho dos olhos em busca do brilho; eu chego à conclusão de que não tenho nada. De que "nada" é tudo o que eu tenho. E, embora eu pudesse citar aqui aquela música que diz: "nada é uma palavra esperando tradução"; a verdade é mais pontual.

Ontem à noite eu não conheci um guri. Tampouco ele me pareceu sozinho - não parecia que era minha aquela solidão. Mas tudo queimou sem aquecer.


Hoje eu não quero citar Engenheiros. Essa banda não é dele, nem tenho o direito de atribui-la a ele. A ele cabe o que nunca coube a nenhum outro, pois nele também não há nada que seja de mais ninguém.

(Nesta hora eu até cogito dar a música real - SUA -, mas quero manter algo seu para mim. Quando você sair - ou já saiu - da minha vida, esta peça talvez me ajude a crescer.)

Desta vez eu quero agradecer, e quase quero fazê-lo pessoalmente, a todas as pessoas detrás das portas que precisei fechar para que esta pudesse ser aberta. Estar sozinha dentro dessa sala enorme e não me dispersar, me dá foco para não esperar que nada mais venha por esta porta. Não virá. E tudo bem desta vez.

Então, pelas horas que me restam desta primeira sexta-feira do ano, vou me permitir só ficar diante de sua porta. Com a esperança de ver alguma luz, e a aceitação do escuro como um amigo. Nós dois sabemos enxergar na escuridão. E eu posso até me acostumar.


Eu "amei te ver". Mas essa também não é uma música do Tiago Iorc e você não vai voltar. E, embora "teu jeito rime com o meu", tampouco somos Anavitória. Desta vez eu não vivi um clichê. Vivi uma fuga.

Não vou ser cruel. Não vou procurar mais pretextos. Eu não tenho para onde ir. Somos cúmplices. E sempre seremos fugitivos.

"Quanto tempo você vai ficar?
Preparo um café       
ou preparo minha vida?"