Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

quinta-feira, 16 de abril de 2015

Milonga

Há algum tempo tenho escrito mais espaçadamente. É que tem me sobrado calma e faltado palavras para resumir cada sensação individualmente. Mas hoje, menos de uma semana depois, venho novamente, porque há uma necessidade crescente de extravasar. Depois de me sentir vazia por tanto tempo, não sei o que fazer como todo este "conteúdo" que há em meu interior.

Uma música parece querer dizer mais do que normalmente, parece querer colocar para fora cada um dos meus pontos extras. Parece querer unir cada um e formar um caminho reto que devo cruzar. E cada verso vem me fazer lar, como se eu pudesse ser de fato o lugar onde mora alguém.

Engraçado... Não sei sequer se eu mesma tenho vivido em mim desde que ele surgiu.


A gente cresce ouvindo coisas bonitas que um dia devem passar a fazer sentido. Coisas como: "Lar é onde o coração cria raízes." e, quando começa a entender de fato o que queriam dizer com aquilo, surgem perguntas como: "Lar não deveria ser onde o coração deixa sementes?". Porque, se eu estivesse certa quanto a isto, não seria eu quem moraria nele, mas ele quem me habitaria. E é exatamente o que parece daqui do meu ponto de vista.

Nos últimos tempos tenho tido a imensa sensação - ainda que discreta - de que tenho cedido espaço meu aqui em mim mesma, no meu corpo e alma, para que ele se aconchegue. Para que ele chegue e fique. E é por ele estar se apossando, pouco a pouco, do espaço que anteriormente era unicamente meu; que hoje sinto estar ganhando o mundo inteiro.

Irônico... Eu, que criei tantos muros para me distanciar do passado, tive que destruir cada um deles para que houvesse espaço para um futuro.


É estranho como cada um destes segundos me fazem mais sentido do que todas as horas antes daquele dia. É estranho como - diante de tanta novidade - me sinto tão familiarizada com cada peculiaridade do seu ser. Às vezes, me soa como se o reconhecesse mais facilmente do que minha própria imagem no espelho.

Vivi tantas coisas que senti se acumularem uma a uma; e agora é como se nada disso nunca tivesse existido ou pesado sobre as minhas costas. Como se eu não tivesse carregado tantos pesos e dores, ou como se todas elas simplesmente se dissipassem quando ele sorri.

Diferente... A única palavra capaz de resumir. E o meu desejo parece ser apagar cada mínima coisa que pensei, escrevi ou falei sobre qualquer outro. Nada se assemelhou nem me preparou para ele.


Foram tantos encantamentos e feitiços que recusei chamar de paixão. Foram tantos beijos e leviandades que já não significam absolutamente nada. Foi tanto presente e tanto passado, que agora não consigo sequer negar. É tão superior e tão mais urgente que não há tempo para se esperar.

Há uma música que gostaria de não ter que citar, mas que diz: "Uma mulher adulta não deveria cair tão facilmente", e que me faz verdadeiramente duvidar da minha sanidade. Porque eu acreditei realmente que nunca mais nada seria desta forma. Que estava acostumada, preparada e até levemente armada contra estas armadilhas mentais.

Anatômico... Desta vez parece que vem do coração e que meu cérebro não tem culpa nenhuma.


E é desta culpa que não existe que surge essa sensação tão leve e tão pura. Parece uma nuvem que paira sobre minha cabeça constantemente e que, inconstante, chove. É tanta paz, que não consigo entender como eu poderia pensar em lutar contra isso. É uma emoção tão racional que não há argumento capaz de se sobrepor.

É uma dor tão prazerosa que eu permito que me fira a todo instante. Me queima tanto a pele, que faço dele tatuagem. Me anestesia de tal forma, que permito que conheça o que há de mais sagrado em meu interior.

É tanta paixão que temo um dia arriscar chamá-lo de amor.


quinta-feira, 9 de abril de 2015

Michelangelo

Ele não pediu que eu escrevesse sobre ele. Mas eu também não pedi para ele aparecer e mudar algo na minha vida e, no entanto, cá está ele me munindo de timidez e coragem.

Eu poderia falar sobre os olhos, sorriso ou cabelo. Podia falar da forma que ele se movimenta ou sobre nossos gostos em comum. Podia falar das marquinhas no rosto ou sobre o tom de sua pele. Mas eu não sei o que nele me agrada tanto a ponto de ocupar meu sono e meus sonhos quando acordada. Não sei o que vejo nele que me faz desejar vê-lo em mim.

Porém, eu só sei que quero e - embora saiba que é pouco provável que eu faça tudo para conseguir - não quero desistir ainda. Porque, desta vez, sinto minha face ruborizar como a de uma adolescente, e isso me lembra como eu era feliz naquela época. E, de qualquer forma meio louca, gosto de pensar que ele me faz bem sem sequer saber.


Hoje me pego aérea em momentos que exigem minha total atenção, e a mínima atenção por parte dele me deixa eufórica. A cada instante eu quero ainda mais do que estas poucas coisas, e sinto que posso conquistar o mundo inteiro.

Cada uma destas sensações me soa como uma pequena e enorme obra de arte. E ele parece ser o melhor desse lugar; a "Monalisa" deste Louvre. E eu me pego imaginando os segredos que se escondem em seus enigmáticos sorrisos.

Sei que falar isso agora soa como besteira ou até mentira, mas algo em mim está diferente agora, e eu gosto de ver isso como coragem. Mas talvez não seja nada disso, afinal, me sinto como uma criança que descobre que o sexo oposto é meio chato. "Meninos, argh". Por mais que eu queira ficar próxima a ele todo o tempo, a tensão me é tão grande que me sinto queimar a um metro de distância. Tocá-lo é entrar em combustão.


E é neste fogo tão unicamente meu que eu perco cada um dos meus sentidos. É onde perco minha sanidade. E onde encontro mais e mais loucura, a qual me parece mais lógica do que todas as outras coisas. Porque ele é como um ponto de chegada, e preciso de foco se um dia quiser chegar até lá. Ele é segredo, é secreto. Mas soa como a mais escancarada verdade.

Seria injusto, nesta etapa da minha vida, dizer que ele é o que eu queria ter encontrado antes? Seria injusto encontra-lo agora e dizer que é a hora errada? Ou a certa? Porque eu não sei bem o que fazer a respeito deste turbilhão de sentimentos. Às vezes sinto como se devesse simplesmente ficar aqui, sentada, e esperar passar.

E em outras horas, sinto como se devesse correr e encontra-lo antes que ele próprio se perca. Antes que suma toda aquela soma que não consigo dividir. Porque, lendo estas palavras agora, vejo que ele vai sempre ser algo da minha mente, por mais incrível que seja na vida real.


Então agora - instante em que eu mesma me perdi completamente - tento achar um novo rumo. É real quando colocamos uma obra, um artista, no centro de tudo? É real quando buscamos em um mero ser humano uma parte nossa que não existe mais? É surreal que eu talvez queira ser quem eu sou agora, num futuro perto dele?

Agora é a hora de eu ser a obra dele também. Já que, aparentemente, eu já o pintei conforme os meus sonhos. Gostaria que ele me pintasse de realidade. E que, ao retirar essa camada superficial de expectativas postas por mim sobre ele, ele retirasse de mim esta máscara. Porque eu tenho me esforçado em parecer mais forte do que sou. Porque tenho me expressado com mais sensibilidade do que normalmente o faço.

E só para ele quero ser aquilo que - só para que um dia fosse dele - me tornei.