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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

quinta-feira, 9 de abril de 2015

Michelangelo

Ele não pediu que eu escrevesse sobre ele. Mas eu também não pedi para ele aparecer e mudar algo na minha vida e, no entanto, cá está ele me munindo de timidez e coragem.

Eu poderia falar sobre os olhos, sorriso ou cabelo. Podia falar da forma que ele se movimenta ou sobre nossos gostos em comum. Podia falar das marquinhas no rosto ou sobre o tom de sua pele. Mas eu não sei o que nele me agrada tanto a ponto de ocupar meu sono e meus sonhos quando acordada. Não sei o que vejo nele que me faz desejar vê-lo em mim.

Porém, eu só sei que quero e - embora saiba que é pouco provável que eu faça tudo para conseguir - não quero desistir ainda. Porque, desta vez, sinto minha face ruborizar como a de uma adolescente, e isso me lembra como eu era feliz naquela época. E, de qualquer forma meio louca, gosto de pensar que ele me faz bem sem sequer saber.


Hoje me pego aérea em momentos que exigem minha total atenção, e a mínima atenção por parte dele me deixa eufórica. A cada instante eu quero ainda mais do que estas poucas coisas, e sinto que posso conquistar o mundo inteiro.

Cada uma destas sensações me soa como uma pequena e enorme obra de arte. E ele parece ser o melhor desse lugar; a "Monalisa" deste Louvre. E eu me pego imaginando os segredos que se escondem em seus enigmáticos sorrisos.

Sei que falar isso agora soa como besteira ou até mentira, mas algo em mim está diferente agora, e eu gosto de ver isso como coragem. Mas talvez não seja nada disso, afinal, me sinto como uma criança que descobre que o sexo oposto é meio chato. "Meninos, argh". Por mais que eu queira ficar próxima a ele todo o tempo, a tensão me é tão grande que me sinto queimar a um metro de distância. Tocá-lo é entrar em combustão.


E é neste fogo tão unicamente meu que eu perco cada um dos meus sentidos. É onde perco minha sanidade. E onde encontro mais e mais loucura, a qual me parece mais lógica do que todas as outras coisas. Porque ele é como um ponto de chegada, e preciso de foco se um dia quiser chegar até lá. Ele é segredo, é secreto. Mas soa como a mais escancarada verdade.

Seria injusto, nesta etapa da minha vida, dizer que ele é o que eu queria ter encontrado antes? Seria injusto encontra-lo agora e dizer que é a hora errada? Ou a certa? Porque eu não sei bem o que fazer a respeito deste turbilhão de sentimentos. Às vezes sinto como se devesse simplesmente ficar aqui, sentada, e esperar passar.

E em outras horas, sinto como se devesse correr e encontra-lo antes que ele próprio se perca. Antes que suma toda aquela soma que não consigo dividir. Porque, lendo estas palavras agora, vejo que ele vai sempre ser algo da minha mente, por mais incrível que seja na vida real.


Então agora - instante em que eu mesma me perdi completamente - tento achar um novo rumo. É real quando colocamos uma obra, um artista, no centro de tudo? É real quando buscamos em um mero ser humano uma parte nossa que não existe mais? É surreal que eu talvez queira ser quem eu sou agora, num futuro perto dele?

Agora é a hora de eu ser a obra dele também. Já que, aparentemente, eu já o pintei conforme os meus sonhos. Gostaria que ele me pintasse de realidade. E que, ao retirar essa camada superficial de expectativas postas por mim sobre ele, ele retirasse de mim esta máscara. Porque eu tenho me esforçado em parecer mais forte do que sou. Porque tenho me expressado com mais sensibilidade do que normalmente o faço.

E só para ele quero ser aquilo que - só para que um dia fosse dele - me tornei.


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