Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sábado, 11 de julho de 2020

Variações de um mesmo tema

A vida toda eu cresci acondicionada à acreditar que o amor (romântico) viria naturalmente. Que chegaria pronto e caberia a mim apenas desfrutar de seus louros. Em partes, estive baseada na história de meus pais, que se apaixonaram ainda na adolescência e que - apesar de terem se perdido em parte da idade adulta - se reencontraram e foram juntos até o fim. Em outras partes, nutrida pelo forte instinto que me dizia em quem valia a pena apostar.

Para ser sincera, eu recebi poucos foras. A verdade é que não investi antes de ter certeza de que não enjoaria e, sobretudo, não disse que gostava de alguém a não ser que tivesse certeza de que estava disposta a sofrer por isso. Na maioria das vezes eu me omiti. Fingi que não gostava ou, se chamei para sair, sempre foi muito mais na cota da "atração física", do que na da "atração psíquica". Ninguém gosta de ser rejeitado.

Eu gostei de muitas pessoas - este blog é prova concreta disso -, mas não me declarei para muitas (talvez devesse ter feito isso). Claro que, na prática, eu contabilizei todas as rejeições como iguais, mas muitas aconteceram por mim mesma que, por medo ou por não ter certeza, me calei. A maioria das minhas paixões se foi do mesmo modo que chegaram: calma e silenciosamente.

Talvez eu esteja escrevendo tudo isso à toa, mas acordei com uma necessidade imensa de fazê-lo. Talvez o amor venha de forma natural, afinal, ainda não veio e eu não deveria opinar sobre algo que não conheço. Mas eu acho que é algo que se trabalhe. Eu não gosto da pessoa que idealizei;gostei durante um mês, quando o conheci, e hoje sinto uma espécie de repulsa a ouvir falar dele. Um homem com todas as características que eu mais queria e uma clara devoção a mim, e nada adiantou. Ele me beijou, e foi ruim. Ele me pediu em namoro, eu disse não. Ele me pediu mais tempo, e eu quis sumir.

Hoje estou com medo de ser essa pessoa para alguém. Não que eu esteja dizendo que sou tudo o que - em teoria - ele quer. Só tenho medo de estar rodeando alguém que já se decidiu. A pessoa de quem eu gosto, e para quem estou correndo meia maratona para me fazer notar, talvez esteja correndo essa mesma meia maratona por outra pessoa. Ou, talvez, só esteja correndo de mim.

Eu não gostei dele instantaneamente. Talvez (minha palavra favorita hoje) essa seja a diferença. Normalmente, me apaixono no primeiro olhar trocado ou na primeira conversa (para paixões virtuais), mas não foi assim. Veio gradativamente. Claro que os olhares contaram muito - apesar de eu não saber exatamente qual a história por trás deles -, mas foram as conversas. No plural e, na realidade, fora de contexto pessoal. A primeira cena que me vem a cabeça quando pergunto "quando?", é uma reunião.

Ele não é como eu fantasiei. Provavelmente também não será com ele que vou descobrir se amor é construído. E tudo bem, não precisa ser. Eu ainda tenho uma vida inteira pra tentar e não me arrepender, e quando disse no texto passado que ele já não era meu assunto inacabado, era sobre isso. Não precisa dar certo agora.

Eu me conheço melhor hoje, também sei melhor do que eu gosto e o que eu quero para mim. Minhas fantasias românticas são mais amplas e mais realistas. O passado e o futuro são tempos que eu não controlo, e o presente - prepare-se para o clichê - é uma dádiva. Eu não tenho que ser melhor do que ninguém, apenas ser melhor do que eu fui ontem. E hoje eu tenho certeza de que sou uma mulher maravilhosa, e muito capaz de me fazer feliz (a gente não devia depositar essa responsabilidade nos braços de mais ninguém).

Ainda assim, eu quero um parceiro para a vida. Mas ela há de continuar independente disso. Tudo o que eu vivo só faz parte da minha jornada. E espero cruzar a jornada de outra pessoa, um dia. Mesmo que não seja a dele. E talvez a minha canção para hoje seja muito menos romântica do que eu esperava:
Sean eternos los laureles / Que supimos conseguir / Coronados de gloria vivamos / O juremos con gloria morir