Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

emცromo

Pra ser sincera, eu devia estar prestando atenção na aula. Devia anotar aquele artigo sobre o qual o professor está falando e estudá-lo depois. Pra ser sincera, estou em dúvida sobre ter você de volta em minha vida. E, sinceramente, estou prestando atenção em você.

Pra ser sincera, estou com medo. Tenho quase certeza de que agi precipitadamente ao abrir de novo aquela porta, e que foi também um erro você ter entrado. Pra ser óbvia, tenho pensado ainda mais em você ao ouvir Engenheiros. "Pra ser sincero" é tudo sobre você.

E naquele "piano bar", tenho cantarolado "eu que não amo você", e repetido aquele "refrão de bolero". Ao olhar você neste exato momento, me pergunto se um dia vou encontrar "alívio imediato" ou se seguirei mantendo a "pose". E, olhando o escurecer lá de fora (e aqui de dentro de mim), vejo que o céu é só uma promessa...


Pra ser sincera, acho triste mudar a canção. Queria aquelas lembranças "de fé", mais do que estes pensamentos de agora. Queria aquele período longe de você, antes de eu estragar tudo. Queria não ter sido precipitada naquela vez, e queria não tê-lo sido novamente. Dois erros não são passíveis de se converter em um acerto.

Pra ser sincera, a ideia de não soar nada certa para você me é frustrante. A ideia de que você ainda me pareça perfeito é ridícula e angustiante. Te ver, e me ver tão feliz, é irônico; um paradoxo cruel e sutilmente infeliz. Pra ser confusa, eu me arrependo de cada escolha individual, e não menos da soma delas. Aqui de trás, de fora (tão longe sem estar); eu queria que você sumisse sem que eu precisasse voltar a pedir.

E a mera menção de algo assim me dá vontade de chorar. E eu odeio não saber o que fazer. Temo o que você faria; a imagem de você indo tão facilmente ainda me corrói. Porque, para mim, partir nunca foi algo tão simples. É substancial.


Pra ser sincera, de tudo o que mais sinto falta, a saudade é de ficar naqueles degraus conversando. De termos ideias e ideais tão diferentes, e de parecer que podíamos nos incluir nos planos alheios. A falta é mais da perfeição do encontro aleatório do que das suas pequenas e adoráveis imperfeições. Mas, pra ser sincera - pensando agora -, acho que não valorizamos ambas o suficiente.

Pra ser sincera, eu acredito que ter a sorte de uma segunda chance de te conhecer é uma prova do tamanho deste meu azar. Perceber que, mesmo sem saber, eu queria aquela chance parece uma piada de péssimo gosto. Pensar que fui eu a destruir tudo me mostra que eu não merecia esbarrar em você.

Agora o professor está fazendo algo errado (que eu não sei como descrever), e é divertido pensar que em todo o tempo eu apenas discorri sobre erros: minha vida é uma soma deles. E eu detesto que você seja parte disso.


Pra ser sincera, a sinceridade contida neste texto é dolorosa. Porque admitir que eu devia ter deixado as coisas como estavam é admitir que não há mais nada que possa ser recuperado; e que "pra ser sincero" é muito mais do que o pouco que podemos ser. E que, por mais que eu sinta que temos menos do que podemos; no final tudo vai se resumir ao sonhos que EU pude ter.

Pra ser sincera, eu espero que "um dia desses, num desses encontros casuais, talvez a gente se encontre; talvez a gente encontre explicação.

Um dia desses, num desses encontros casuais, talvez eu diga:

                                Meu amigo
Pra ser sincera
                                                                      Prazer em vê-lo
Até mais."


domingo, 22 de novembro de 2015

ᗩᗰᗩᖇᗩᑎTᕼᑌᔕ

É inocência demais acreditar que nunca voltaria aqui para escrever sobre você? E seria perda de tempo fazer isso agora? Eu não sei a resposta para nenhuma das perguntas, e admito que desde nossa última conversa tenho tido dúvidas também sobre elas.

Mas a questão é que com o tempo eu percebi que, mais do que odiar a sua aparente indiferença, eu odeio a cordialidade. Detesto conseguirmos lidar tão facilmente um com o outro como se fôssemos desconhecidos. Detesto que não pareça ensaiado, e que eu só seja capaz de sentir minha própria dor. Porque duvido que você sinta alguma, e quero duvidar também desta minha certeza.

E eu não devia querer isso.


Os últimos meses foram torturantes. Cada olhar, cada vez que esbarramos acidentalmente. "Pro tanto que eu te queria, o perto nunca bastava; e essa proximidade não dava". Me senti muito mais distante de mim do que de você, e o mais infeliz é que nossa proximidade era somente física. Tentei fingir que não mas, durante todo esse tempo, tenho me sentido perdida.

Tenho me sentido com medo. Como se nunca mais pudesse ser capaz de me despedir completamente, como se o tempo nunca fosse passar. Por vezes parece que ele literalmente para, e que é tudo mentira ou pesadelo. Às vezes você me olha e eu sinto você tão perto que a dor dá uma trégua. Mas quando o relógio volta a contar seus minutos; quando os ponteiros voltam a girar, sinto que a ferida se reabre... volta a sangrar.

Eu só queria não sentir nada disso. Nunca mais.


E é tanto desejo camuflado por este "não querer", que tentei apagar cada detalhe que ficara para trás e que transbordava uma paixão não concretizada. É incrível como - pensando nisso agora - as coisas também pareçam ter sido fáceis para mim.

Apaguei fotos, cada vestígio do teu sorriso. Deletei desenhos que recordavam tão claramente aqueles dois pontos que convertiam os meus dias em noites. Até me convenci de que todos os meus textos foram muito mais ficcionais.

Tentei não transformar romance em drama.


Mas ao cortar tudo o que eu julgava ser laço, vi que não tinha ainda desatado todos os nós. Então precisei apelar para um esforço final: cortei a trança. Cortei os fios que se uniam naquele eterno penteado rebuscado, ainda que figurativo. Tentei destruir ali as memórias de suas mãos entre os meus cabelos, como se nunca tivessem existido ou, mesmo ao existir, nunca tivessem significado nada.

A ideia é doar. Dar à alguém que precisa, além dos fios, dos sonhos ali impregnados. Passar adiante toda a esperança que cultivei estando perto de você. Porque vejo agora, bem mais do que antes, que foi amor o que nutriu as madeixas e as fez mais fortes, de modo a permitir que suportassem o peso e todo o significado implícito naquele gesto.

E agora sim posso afirmar: reescrevi as memórias. Para nunca mais me perder no que era real e no que eu inventei.


terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ƶιηηια

Será que, assim como na música - que eu gostaria que você ouvisse - "se eu soubesse antes o que sei agora, erraria tudo exatamente igual"? Será que, se eu tivesse ideia do quanto esses dias fossem se somar igualmente dolorosos e vazios; e que eu não me arrependeria daquela escolha três vezes por dia; teria agido tão precipitadamente quanto naquela noite? Se eu conseguisse quantificar a raiva e mágoa de mim mesma, teria preferido ficar sozinha comigo? Será que, se eu soubesse que os "quando" que me enchiam de esperança se converteriam todos nesses estrondosos "se", eu teria preferido essa ilusão de não estar completamente só?

Essa é a terceira vez em menos de duas semanas que procuro abrigo aqui, procurando por um sentido naquilo que eu fiz e pra vida que tenho que seguir agora. Irônico que hoje esteja fazendo frio e isso me mostre todo o vento que eu quis e que agora não parece resposta. Sinto que ele é muito menos a sensação de quando você passa, e muito mais a ausência do seu movimento.

Se tiver curiosidade em saber - aproximadamente - como isso tudo me toca, é como faca. Não aquele corte profundo, que sangra. É aquele aparentemente leve, superficial, e que dói constante por dias. Talvez seja corte de papel, causado pela pressão dessas palavras nessa folha rasurada. E curar essa "ferida" que ninguém mais vê me parece muito mais complicado do que eu poderia ter imaginado. Principalmente, porque vai simplesmente cicatrizar e sumir.

Como cogitar buscar "equilíbrio" no que já me parecia tão natural?


Como você pode achar que aquela "felicitação" não parecia falsa, quando escolhi delicadamente cada palavra para que você enxergasse o que eu precisava que você me dissesse? Como perguntar diretamente aquilo que já perguntei tantas vezes através das ofensas veladas e desse meu olhar? Eu preciso entender o que aconteceu. Preciso que me conte a verdade, para que eu me convença de que nem tudo foi mentira. Porque eu não suporto olhar para você e pensar que fui capaz de me enganar tanto.

Falar sobre você me parece errado. Parece sujo falar tanto de como eu tenho me sentido, mas você não fala nada e eu continuo escrevendo. A cada instante tenho mais dúvidas de que haja realmente algo seu nestes textos, além daqueles dois pontos que são físicos. Mas, se nem eles são imutáveis, como posso acreditar que você era o mesmo garoto que eu via?

Eu queria que sentássemos e conversássemos. Que você discordasse da minha opinião e das minhas atitudes. Que agisse menos como se aquela "escolha" fosse uma decisão permanente minha, e mais como se fosse um pedido de uma decisão inconstante nossa. Difícil acreditar em alguém que discute equilíbrio, mas que não se inclui na balança.

Te quero na minha vida, e quero igualmente participar da sua, da mesma forma que quis no segundo em que entrei naquela sala e você virou e sorriu para mim.

Mas não quero ser a sua agenda.


Queria que estivesse aqui. Agora. Naquela cadeira em que se sentou comigo para discutirmos sobre um trabalho, e acabamos discutindo sobre religião. Queria que discutíssemos e quase brigássemos neste como fizemos naquele dia. Que você me contasse sobre o que acredita e que sorrisse irônico quando eu te falasse sobre minhas crenças - ou o que você consideraria como ausência delas. Queria sentir quase palpável a sua chateação, que ainda é melhor do que essa aparente indiferença. Não saber por quem de nós dois você ainda se mantém distante me agonia. A quase certeza de que é por você, me incomoda.

Então eu te peço um sinal se estiver lendo (o que eu duvido). Se puder, e realmente quiser, senta ao meu lado e comenta que vai chover. Para de agir como se não houvesse nada errado, e eu tento achar um desequilíbrio nisto que já é tão artificial. Me mostra - se ainda acredita - que há "como" e "o que" consertar, ou ambos nos convencemos que a invisibilidade é a melhor, e talvez única, opção. Me ensina que o que eu não pude prevenir ainda pode ser remediado. Ou assumimos que foi erro nosso.

Só não me convence que "se eu soubesse antes o que sei agora, iria embora antes do final"...


terça-feira, 1 de setembro de 2015

inVENTO

Desde o início eu sabia que sentiria alguma dor. Achava que seria principalmente por falta, por saudade daquele pouco que eu tinha e ia - aos poucos - se perdendo. No entanto, por mais que seja similar em intensidade, acho que a dor que eu sinto de fato é muito pior: sinto uma pontada no peito por constatar que eu não estou perdendo nada. Absolutamente nada. E por então perceber que "nada" foi tudo o que eu sempre tive.

Eu sabia que para você não seria tão complicado e potencialmente doloroso como essa "ruptura" seria para mim. Mas ver que, para você, partir é tão fácil, só torna as coisas piores. E isso talvez fizesse com que eu fosse idiota outra vez.

Só que dessa vez eu não me sinto assim. Dar a cara a tapa e tê-la, de fato, batida; por mais que angustiante, não me incomoda agora. Depois de tantas vezes, o papel que uso para escrever esse rascunho não é mais o "papel de trouxa". Foi assim cada vez que tive medo do que sentia, sempre que tentava esconder esse sentimento como se fosse algum absurdo ou crime. Abrir o jogo, convida-lo a fazer um movimento neste tabuleiro, foi corajoso. Porque apesar de unilateral, esse "amor", "paixão", ou o que quer que seja que tenho aqui dentro, é maravilhoso. E eu quis dividi-lo e multiplica-lo com alguém.

Por isso, este texto não é por amores impossíveis. Mas por um amor possível, que optou por não se concretizar.


Não pensei que fosse escrever aqui novamente tão cedo, embora certamente soubesse que voltaria aqui por você. Mas dessa vez tenho coisas demais presas neste silêncio (meu e seu, que - egoístas - sequer compartilhamos), e dize-las em voz alta me soa ainda mais solitário.

Nesses últimos dias as coisas me parecem mais secas e confusas; as pessoas ao meu redor, mais hipócritas; e eu procuro palavras que não me façam - nunca mais - soar hostil. De todos os adjetivos que me deram, aquele foi o mais cruel. Eu só estava tentando me defender.

A verdade, que eu não posso te dizer na cara, é que percebi naquele dia que eu sentia ciúmes de você. Em toda a minha vida, poucas pessoas me incitaram isso (só consigo contabilizar duas) e nenhuma delas foi alguém por quem eu tivesse me apaixonado. Isso me prova - como se eu ainda duvidasse - que você me deixa insegura.

E eu tenho medo dessa insegurança.


Fiquei o resto da noite pensando e - como já escrevi antes - percebi que eu só queria estar ali e que, ao contrário do que imaginava, tenho medo de encontrar esse lugar onde quero estar e me acomodar... e então me sentir confortável nesta insegurança. Aprendi nos livros que não devemos gostar de ninguém a ponto de temer perde-lo. E a mera ideia de te ver ir embora me era sufocante.

Por isso pedi que fosse. E todas as palavras e frases - com sentido ou não - a seguir vão desmentir todo o texto anterior: você disse que te mandei embora; eu disse que só não impedi que você fosse. Depois eu disse que precisava ir embora, e você está deixando que eu faça isso.

E eu não consigo dizer que estou arrependida. Porque vou me arrepender de admitir assim, abertamente, que ligo tanto.


Isso é tudo para dizer que me importo. E que detesto que você não se importe.


"Entiende que aunque pida que te vayas,
no quiero perderte"

sábado, 29 de agosto de 2015

Aᴍᴀɴʜᴀ̃

Talvez esse não seja o último texto sobre você. Talvez eu ainda esteja só começando e tenha ainda muito a sofrer. Mas eu queria que soasse como um adeus. Queria que soasse mais definitivo do que qualquer outra coisa que eu possa ter te dito, na esperança de eu me fazer acreditar.

Eu disse que ter uma parte - mesmo que ínfima - de você era melhor do que não ter nada. Estava errada. As pessoas dizem que as coisas devem ser aproveitadas com moderação e que todo excesso faz mal, mas aprendi que em relação a você tinha que ser tudo ou nada. Não quero migalhas. Não quero aquilo que não posso ter.

Não quero o seu sorriso se ele não provocar o meu. Não quero um "meio abraço", ou dividir com você o meu amor que devia ser próprio.


Hoje estou te pedindo para sair da minha vida. Não quero ser mais do que estava destinada a ser. Quero ser a desconhecida que não se faz notar. Quero ser a garota fileiras à esquerda, cujo rosto não lhe é familiar. A pessoa que nunca mais vai cruzar o seu caminho.

Quero que volte a ser o rapaz com quem eu não simpatizava, embora tivesse a impressão de já ter visto antes. Quero que leve embora este rosto tão característico de "ligue os pontos", para que eu possa ligar quem sou a quem eu deveria ser.

Peço que leve seu nome consigo, para que eu nunca mais tenha medo de proferi-lo. Que pegue o desenho que não lhe mostrei e o queime. Quero esquecer que quis te dar de presente o maior presente que podia ter me dado. Faça dele passado.


Esqueça que me deixou bem mais leve e divertida. Esquece que era o "bom" antes do meu "humor". Esquece caretas e confidências que você nem lembra; e que eu te disse que normalmente não falava diretamente sobre meus sentimentos. Finge que eu não disse nada daquilo e que eu não confiei em mim para confiar em você. Faz de conta que os oito textos anteriores não são sobre você. E eu dissimulo que estou bem.

Me promete agora não sentar ao meu lado. Promete não falar sobre amenidades ou não deixar que eu comece a falar sobre qualquer coisa. Promete não perguntar se está tudo bem, se acaso esbarrar comigo. E, sobretudo, prometa ficar bem.

Por apenas um segundo, faz como se minhas frases fizessem sentido, como se eu não tivesse inventado você. Por um instante desse seu segundo, finge que me compreende.


Agora veja que aquela mulher - que eu tenho que ser, e que você não conhece - não tinha mesmo como saber que ficaria melhor sozinha. Que ela acreditou inocente e totalmente que as coisas podiam ser como antes. Perdoa que ela própria não tivesse visto que havia mudado. Entenda que ela não pode culpa-lo por ter criado em sua mente uma situação que não era consistente. Entenda que foi inconsciente que ela tanto te quis.

Veja os riscos que ela correu ao colocar-se novamente próxima a você, e o quanto ela estava despreparada para isso. Perceba que ela está com medo de tudo que já temeu outrora. Não se aproxime, não a assuste. Seja só um fantasma, porque ela não tem medo disso.

Seja só uma pessoa. Porque, para ela, você sempre foi mais canção. Deixe que ela termine de tocar no seu devido tempo.

Você foi a obra-prima do compositor.




Você disse que não se vai a um lugar pela música; vai pelas pessoas. Então eu percebi que estava ali naquela sexta-feira apenas por você, E quando você se afastou e eu fiquei sozinha, vi que não havia nenhum outro lugar no mundo em que eu quisesse tanto estar. Meu lugar.
Enquanto você estava ali querendo não estar.
E eu nunca tinha sentido que o seu lugar era tão distante do meu.

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Ƭєυ Lυgαя

Acho que esta postagem deveria ser mais para mim do que para você. Depois de te dizer adeus, vir aqui e continuar tentando este diálogo seria loucura. Mas loucura é a única palavra que tenho em mente para designar o que tem sido cada instante desde que você surgiu.

Quando penso em cada cara de quem gostei ou por quem posso ter me apaixonado, não consigo lembrar de nenhum que tenha me tocado como você. Dentre todos os meus maiores "problemas", você é o único que eu nem sequer imagino como solucionar.

Nunca foi sobre "não querer esquecer você". É um "não ter ideia de como fazer isso".


Achei que estava me preparando aos poucos, que seria mais simples dessa forma. Mas fui tola em acreditar que um sentimento que me tomou tanto em tão pouco tempo, seria capaz de se dissipar gradativamente. Mas, de qualquer forma, como apagar você em qualquer dimensão agora?

O problema não é a loucura, o que não tem nem teve sentido. O problema nem foi completamente o que eu criei na minha mente. Sempre esteve mais ligado à forma de você me olhar bem dentro dos olhos, como se estivesse me lendo. O problema foi eu encontrar tanto conforto no seu abraço.

Como colocar tudo isso em palavras?


Acho que vir aqui a esta altura do campeonato e escrever o mesmo que escrevi em todas as outras vezes é ridículo. Tentar compreender o que é tão sutil que não pode ser revisto, também é. No entanto, é o que eu continuo tentando fazer e, por falhar nisso, acabo sendo repetitiva e até um tanto quanto cansativa.

Como explicar a vontade de perder meus dedos por entre seus cabelos; sua cabeça em meu colo e o pensamento de que este - mais do que qualquer outro - era o meu lugar? Como encontrar a resposta sobre qual é o teu lugar? E como suportar a dor de seguirmos viagem separados?

Nesta carta em que me remeto, você é meu destino. Destinatário.


Como colocar no papel a extensão daquele sorriso? Como me despedir dele? Quisera eu roubar um pedaço, para manter comigo aonde quer que eu vá. Porque, neste momento, guardo apenas na lembrança, e nem assim consigo vislumbrar a felicidade que me causava sem saber. Como então é possível que a recordação me deslumbre?

Quão profano é vir aqui e dizer que, se acreditasse em céu, vê-lo sorrindo seria - para mim - o paraíso? E que tenho tanta fé em você que chega a me doer não acreditar em tudo isso? Porque se eu fosse do tipo que reza, você seria minha oração.

Eu só queria ser capaz de distinguir o que é real.


Desta vez, não vou terminar o texto. Vou deixá-lo em aberto, porque tentar colocar um ponto final ignorando as constantes reticências não seria um final digno; e não sei sequer se seria um final. Eu não me forcei a gostar de você, nem consegui me forçar a dar um limite pra esse sentimento.

Não vou, nem quero te forçar a nada. Mas, se pudesse, recomendaria Humberto Gessinger. Porque eu tenho medo de cobras, já tive medo do escuro. Tenho medo de te perder

[...]


segunda-feira, 27 de julho de 2015

$cuølα δι Αθήνα

Hoje eu decidi escrever um texto franco e direto. Escrever da forma que nunca conseguimos conversar. Vou escrever e me descrever sem rodeios, porque country nunca foi o estilo musical favorito de nenhum de nós.

Eu decidi escrever o que está entalado na garganta, pra ver se posso engolir - enfim - os "se" e seguir em frente sem olhar para trás. Sem pensar no que criei de você e nos laços que você cortou; eles nunca se tornaram nós, mas estão aqui me incomodando.

Vou escrever sobre o incômodo, e vai ser tão menos rebuscado, que será até feio de ler. Mas para quê criar beleza neste vazio?


Este texto é uma ode a toda angústia que ficou daquilo que seguiu direto, sem parar para que eu pudesse entender. Esse texto é sobre o vento que não balançou os meus cabelos e que impediu que as pipas pudessem voar. Sobre o vento que inventei e que, portanto, não deveria ter me arrepiado.

Se você tivesse surgido na minha vida - ambas as vezes - tal qual está agora, eu não teria me importado tanto. Talvez nem tivesse reparado, ainda que o visse. Mas você não podia fazer isso; não pôde fazer nada do que eu pedia. Então você, ao optar por ser "8 ou 80", acabou sendo mais do que eu podia domar. 

Entre ser quente ou frio, você optou por me queimar. E nem sequer consegui distinguir se foi uma queimadura de calor.


Mas você merece meu respeito. Me manipulou de um jeito que eu normalmente consigo evitar. Olhando no fundo dos seus olhos, eu não fui capaz de enxergar a armadilha que se formava em torno de mim, e cai totalmente sem defesas.

E eu ficava lá, te observando como se fosse morrer. Desejando beijar cada milimétrico e assimétrico detalhe entalhado em sua pele. Desejando o insano calor que aquele gelo produzia dentro de mim. Eu não via que estava tão enganada. Não notava o quão cega estava me tornando.

E agora eu fecho os olhos torcendo para, ao abri-los, não enxergar mais nada. Continuar naquela cegueira, que me parece tão melhor do que compreender toda a minha tolice.


Já pensei em escrever algo sobre essa sensação única e gritante que me percorre. Sobre a capacidade de entender o que você estava fazendo, sobre a impossibilidade de mudar alguma coisa no seu ou no meu comportamento. Sobre a vontade de apagar você em tudo o que me rodeia, e sobre o fato de que isto não minimizaria a presença de você dentro de mim.

E agora eu faço que não ligo, não quero notícias. Não quero o seu sorriso na minha timeline. Mas ainda assim observo sedenta por sinais de que algo em você seja, de fato, como eu delineei em minha mente. É desconfortável perceber que me apaixonei por uma mentira.

Porque se uma mentira foi capaz de me recuperar, minha "doença" era igualmente fantasiosa. E eu não sou hipocondríaca.


Um dia eu disse a você que não me apaixono ou me envolvo com rapazes mais novos do que eu. Sempre foi assim, apenas um preferência. Mas eu estava mentindo descaradamente, e nós dois sabíamos. Você não era como o que eu imaginava que devia ser, e eu acreditava que isso era um elogio; uma vantagem. Mas você tampouco era o que eu via, e vejo agora que eu errar em relação a isso foi fatal.

Ainda me pergunto vez ou outra como foi possível me enganar tanto assim. Como eu mesma fui capaz de me decepcionar; afinal, eu me conheço bem e não crio mais expectativas. Crio dúvidas, dores, dois cachorros, um cavalo e agora uma dúzia e meia de desaforos. Acredita que, quando a dor aperta, eu me forço a ficar encarando o espelho, para não chorar?

No final daqueles dias, eu me prometi nunca verter uma mísera lágrima em seu nome, ainda que o fizesse mais por mim mesma. Tenho cumprido a promessa.


Noite passada eu me prometi então escrever-lhe este adeus; o qual me parecia muito mais simples quando escondido na escuridão. Acabou sendo mais complicado, ainda que tenha me demorado tão pouco e me custado apenas o que eu já tinha aqui há tempos.

Durante muito tempo eu acreditei que as despedidas eram difíceis porque precisávamos encontrar as palavras certas e aprender a coordena-las, de forma a dizer tudo aquilo que ficará para sempre. No entanto, neste instante, escrevendo não sobre você mas para você, entendo enfim que se despedir é difícil porque demanda os medos anteriormente não declarados. Despedir-se é dizer tudo o que parecia errado, de forma a permitir que se silencie e que o presente possa se tornar passado.

Estava apaixonada. Adeus, Michelângelo.


sexta-feira, 12 de junho de 2015

Bom... se é para manter a fama de "blog de menininha", nada mais justo do que escrever algo pelo dia dos namorados. (Como se essa data fizesse algum sentido na minha vida. kk)

Vou falar deles... Dos que foram ou que deveriam ter sido peças fundamentais na minha vida. Vou falar dos que se foram, gostando ou não dessa ideia. Vou falar de Cazuza, Frejat e Cássia. De como uma música mudou tanta coisa e me fez crescer.

Vou falar de: "Eu preciso dizer que te amo. Te ganhar ou perder, sem engano." De como, daquela vez, eu ganhei. Com enganos.

Mas, o amor - por si só - não é mesmo um engano?


Tem gente que diz que "dia dos namorados" é puro marketing. Que é só um jogo comercial que dá certo. E, de certa forma, estão corretos; os que dizem, e os que aproveitam. Se "o amor está no ar", não deveria ser dia dos namorados todo dia? Ou, para quem não respira, algum dia o deveria ser?

Então hoje farei uma ode aos não-namorados, aos "ex". Hoje é dia daquele primeiro beijo, do primeiro amasso... De todos os primeiros, todos os únicos. Uma ode a tudo que não foi o "último". Um texto que deveria ser um pouco poético. Ou não. Porque, no fundo, eles não foram poesia em mim.


Criei esta página aos 15 anos. Por baixo de um "quem sabe eu ainda sou uma garotinha", havia realmente uma garotinha que pensava ser mais adulta do que era. O contrário do que sou hoje, talvez, ou nem tanto. Mas o que importa é a quantidade de sonhos que eu ferozmente nutria naquela época. Meus textos eram horríveis, ainda que não tenham atingido um nível muito superior hoje. Mas acho que eu estava em um nível mais elevado do que estou hoje.

Eu escrevia sobre meus sonhos, sobre minhas esperanças; sobre tudo o que me fazia feliz. Hoje escrevo sobre dores e dissabores. Falo sobre aquilo que podia me fazer feliz. Falo sobre potenciais. Porque, em vista de quem eu era antes, estou na sombra de quem podia ter sido.

Eu queria ser jornalista. Queria viajar o mundo inteiro e conhecer cada cantinho de cada lugar e tudo que eles podiam me oferecer. Queria ter alguém com quem partilhar essas novidades. Hoje quero ser biomédica (o que não é, de forma alguma, ruim), me esconder num canto qualquer do meu quarto, e partilhar com uma folha comum a novidade de querer alguém.

A novidade de querer alguém como eu queria aos 15 anos.


Aos 16, achei que sabia de tudo. Que tinha encontrado de cara aquilo que procurava. Ledo engano. Caí numa armadilha, completamente sem defesas. E desde então tenho me defendido de todas as formas que conheço para que nunca mais me convençam de que estou onde sempre quis estar.

Acabei sem saber direito onde, de fato, eu quero estar. Se sozinha aqui, escrevendo sobre os muros deste meu castelo; ou se naquela sala, prendendo a respiração enquanto ele me olha sabe-se lá porque (talvez por eu estar ficando roxa por não respirar), e construindo pontes que não queria construir.

Se ele soubesse o quanto a mulher de 23 anos está lutando para que a menina de 16 não goste tanto dele, não se sentiria lisonjeado. Ele é tudo o que eu sei que não queria agora. Porque ele tem potencial para ser aquela armadilha que tenho evitado a tanto tempo.

E, aparentemente, ele é tudo o que eu desejava antes; quando eu sabia quem eu era, podia e queria ser.


Aos 17, eu achava que já conhecia a parte ruim do amor. Em partes, queria ser essa parte para alguém também. Ferir como tinham me ferido, comparar as cicatrizes, ver a marca que a dor deixava em cada um de nós. Achava que tinha o direito de ser cruel com alguém. E isso me fez cruel comigo.

Aos 18, comecei a ver que algumas feridas simplesmente não cicatrizam. Vi que ser a dor dos outros não me doía menos. Achei que ser a cura de alguém me curaria. Outro engano.

Aos 19, comecei a desconfiar que as dores de dentro da gente cicatrizam exatamente dessa forma: de dentro para fora. Até achei que dava para consertar logo. Não dava, mas também não me machuquei mais. 

Depois disso foi tudo um bolo só. Uma mistura que não dava liga. Um medo misturado com destemor. Um cálculo que não dava certo, desproporcional. Achei então que o jeito era lidar com as marcas, com as dores.


Precisei fazer da ferida aberta, uma amiga. Cuidar dela como cuidava de mim mesma, um dia por vez. Achei que por ela estar sempre ali, eu nunca estaria sozinha. E então eu fui ficando só, apesar dessa presença constante. Era um "estar sozinha" tão acompanhada, que eu quase não senti. Precisei me sentir vazia para aprender.

Aos 22, conheci uma pessoa completamente errada que sabia que eu não era a certa. Alguém que não me conheceu aos 16, mas que provavelmente teria se dado bem com quem eu era. Porque ele acordou essa parte minha - idiota não? -; e a versão de mim que foi machucada foi a única versão capaz de acalentar nossa velha amiga.

É estranho dizer que me sinto duplamente ocupada? E, ao mesmo tempo, dizer que sou toda eu? Porque metade de mim carrega uma série de decepções e a outra metade acredita que não se decepcionou o suficiente.

Metade de mim escreve sobre os inícios e meios. A outra metade anseia por um final feliz. 


Eu prometi, para hoje, escrever sobre os ex - 1 -, os não-namorados. Prometi escrever sobre o único; sobre mim mesma e a dor que hoje parece estar silenciada. E falei. Prometi falar do que não seria o último: ele. Porque a mulher que sou agora também não é a versão final de mim mesma.

E prometo agora muitos inícios e, um dia, um único final. Será feliz, seja como for. Já prendi o fôlego muitas vezes; agora estou pronta para respirar o que for que esteja nesse ar.

E então... perder o fôlego.


quinta-feira, 4 de junho de 2015

Ɗσιѕ Ƥσηт♡ѕ

Estou ouvindo aquela música do Nando Reis. Estou pensando no all star que você devia ter (mas não tem, nem azul, nem de qualquer cor). Estou pensando nas conversas que foram sendo adiadas, principalmente por covardia minha. Estou pensando que o tom com o qual ele canta aquela música, para a tua voz, parece exato.

Estou fingindo que "estranho seria se eu não me apaixonasse por você". Estou me perguntando se algo em nós combina tanto quanto um all star azul combinaria com o meu, preto, de cano alto. Estou me perguntando se há algum sentido em metade desses sentimentos que insistem em me inundar.

Estou pensando em tudo que o compositor desconhecia quando escreveu a canção, mas que mereciam ser musicadas agora. Neste instante, estou pensando nas duas pintinhas que fazem morada embaixo desse seu olhar. Em como tudo sobre mim parece caber nessa linha reta entre esses dois pontos.


E enquanto a canção muda, eu me questiono sobre tudo o que mudou desde que você surgiu. Já escrevi tanto sobre isso, na tentativa vã de compreender, que sinto ainda estar no meio dessa mudança. E a dúvida que me resta é se estarei pronta para que você fique, ou para que você se vá.

Nesses últimos meses tudo parece girar em torno disso: de saber se um dia estaremos prontos para nós dois; se a gente de fato vai saber se estiver. Porque, às vezes, como naquela outra música, acredito que eu esteja um pouco atrasada.

É loucura vir aqui dizer novamente que eu estou com medo? Dizer que nada nesse mundo parece me fazer mais sentido que sua boca em formato de coração? Ou dizer que meu coração acelera quando você sorri?


Tenho um milhão de frases engasgadas, que não me permiti te falar. Tenho algumas lágrimas também, que verto vez ou outra. Elas parecem correr muito mais rápido do que a minha semana, e não têm metade da capacidade que suas mãos nos meus cabelos têm de me acalmar.

Incrível que eu tenha até um fio de cabelo branco agora. Ainda mais incrível que eu sinta que a melanina "fugiu" daquele fio, da mesma forma que as palavras insistem em escapar pelos meus lábios entreabertos.

Se eu lhe falo tanto, e tanta coisa sem sentido, é por puro medo de falar as coisas certas e elas lhe parecerem erradas.


Mas a verdade é que meu corpo inteiro está lutando entre si, em busca de uma forma de sobreviver depois de você. Meu pulmão poupa ar quando se aproxima, para que ele não me falte quando for embora. Meu coração acelera para que eu possa fugir ou lutar. Meu cérebro ainda não decidiu o que vai fazer.

O sangue insiste em ir corar minhas bochechas, apenas para me sacanear. Minhas pernas e pés esquecem de como andar e, na dúvida, eu prefiro ficar parada. Meus olhos decidem sozinhos onde focar, e é por isso que me pego encarando aquelas marquinhas que são só suas; aquele "beijo escondido no canto da boca" tal qual o da Wendy em Peter Pan.

Minhas mãos sentem frio e almejam pelo calor da sua pele. Meus ouvidos procuram as gírias do seu vocabulário. Os lábios não sentem um gosto doce no sal. E eu... não vejo a hora de te reencontrar.


sexta-feira, 22 de maio de 2015

Sօɮʀɛ ʍɨʍ

Chegou enfim a hora tão temida de falar sobre tudo aquilo que não conheço ou que conheço tão pouco. Falar sobre o que me dá medo; sobre o que há além do que me cerca. Preciso falar do que corre por dentro. Depois de tanto "mimimi" sobre ele, faltou falar sobre mim. E essa falta eu nem sei se realmente fez falta.

Depois de falar sobre seu sorriso e seus olhos, chegou a hora de falar dessa minha timidez; do que impede que eu me leia nos olhos dele. É hora de falar daquela música, e não de como ela ficaria na voz dele. Tenho agora que entender como ela ficaria em mim.

Não vou mentir e dizer que sei por onde começar (ele mesmo sabe que sou sincera). Tentando organizar minhas ideias, vi que não tenho ideia de quem eu realmente sou. Irracional esperar então que ele me mostre de verdade quem ele é.


Ao longo dessa semana, percebi que sou feita de sonhos. Olhando o céu naquela noite, percebi que sou toda nuvem. Vi que de nada adiantava espera-lo chover, se era primeiramente em mim que estava acumulada toda essa água.

Nesta semana notei que, do frio, vem o calor. Percebi que o abraço mais forte é capaz de apertar até por dentro de nós. Em um segundo, senti todo o ar fugir de dentro de mim. Em ainda menos tempo, deixei que cada pingo de coragem se esvaísse.

E, a esta altura do campeonato, já nem lembro se - de fato - é sobre mim que estou escrevendo agora. Nesses dois meses eu perdi completamente a noção de quem eu sou e do que meu agora é todo dele.

Desde que ele surgiu, tenho me perguntado se algo dele tem se tornado meu também.


E nesse instante, só sei que tenho me pintado com suas cores preferidas e me contraposto naquilo que não há como ignorar. Tenho feito-o não por mal, mas na tentativa de me acumular nele, de acrescentar minhas crenças às dele.

Tenho me revestido de "quando" onde antes eu só via "se". Tenho mudado meus pontos de vista, e me permitido ver tanto potencial em nós. Desde que coloquei meu olhos nele, tenho me importado menos com quem um dia eu fui, e bem mais com quem um dia virei a ser.

Hoje, sendo tão dele sem o ser e sem que ele saiba, tenho sido mais minha do que até então me permitia. Porque, vendo agora o quanto posso amar alguém, sinto-me muito mais leve e muito mais livre do que me sentia quando achava-me incapaz de me prender.


Tendo enfim conquistado a liberdade que tanto acreditei almejar, vi que a felicidade não está no voo, mas no pouso. E sinto que não preciso temer dizer isso em voz alta, muito embora me falte a voz. Também sinto que não é certo esconder amor.

E eu juro - agora para ele - que, quando tiver voz e coragem, vou lhe dizer tudo o que sinto. Vou conseguir te olhar nos olhos sem corar, e te abraçar e respirar ao mesmo tempo. Prometo-lhe o melhor de mim. Se você quiser.

E a mim, prometo tudo o que puder cumprir. O melhor e pior de cada dia. Prometo vida, depois de tanto tempo só de sobrevivência. Sobre mim, fica a incerteza sobre quase tudo e a certeza de uma única coisa: depois dele, sou toda eu.


sábado, 9 de maio de 2015

Miocárdio

Prometi para mim mesma que não voltaria a escrever aqui por um tempo. Que não viria escrever sobre você. Mas a esta altura do campeonato, não tenho certeza de mais nada, e é injusto não tentar me reorganizar da única forma que sei fazer

Nos últimos dias, tenho ouvido músicas que não conhecia, visto filmes que anteriormente não veria e conhecido coisas nos outros e em mim que eu ignorava. Nos últimos dias tenho sorrido mais, me sentido naturalmente mais leve.

Por vezes me pego falando sobre você e, de repente, me sinto corar. E há tanto entusiasmo, que qualquer um que já tenha presenciado a cena - a esta altura - sabe claramente quem é você.


Irônico como eu que sempre pareci apressada hoje pareço não ter pressa alguma. Como se a música fizesse sentido e "nossa hora tivesse todo tempo para chegar". E é claro que tudo isso é por sua causa novamente, ainda que eu não saiba bem o que está acontecendo.

Às vezes tenho a estranha sensação de que não é um agente externo que me provoca estas sensações. Me parece que está dentro de mim, controlando a mínima alteração no meu organismo. Porque quando chega perto inesperadamente, por mais que eu sinta o ar, não consigo respirar. E quando encosta em mim - qualquer ínfimo toque - tem o poder de acelerar meu coração.

Sua existência me inspira da mesma forma que sua presença me paralisa. 


Ao longo deste curto prazo senti e vivi momentos que antes não me permitiria, me preocupei bem menos; ainda que estivesse apavorada. E aprendi que, mesmo que nunca sejamos mais do que dois, eu nunca estarei sozinha novamente. Que eu não preciso fugir de mim por medo.

Às vezes penso se você entende o quão importante se tornou. Se faz ideia das mudanças que provocou em mim simplesmente por estar ali. E, quando penso, me pergunto se - acaso soubesse - isso faria alguma diferença. Se fosse capaz de compreender sequer metade do que estou passando, veria que não é exagero? Entenderia porque a urgência se transmuta em calma?

Se sentisse o calor que seu abraço é capaz de me proporcionar, perceberia o porquê de eu querer morar no C que formam seus braços?


Desde que você apareceu, tenho procurado razões para não ser. Enumerado motivos para ficar calada ou para me expor. Medido os prós e contras de estar aqui, e tentando encontrar "porquês" para cada coincidência, acaso ou sorte. Desde que apareceu tenho sido tão menos tudo o que fui, que fico me questionando quem sou agora.

E a cada sorriso seu, eu tenho tido mais dúvidas acerca daquela que um dia serei. São sessenta certezas dissolvidas em dúvidas por minuto; sete personalidades novas incluídas em quem sou, em uma única semana. Uma tentativa de ser alguém novo e melhor a cada vez que a gente se vê, para que um dia eu seja certa para nós dois.

Loucura como, depois de jurar não agir assim, eu faço promessas para nunca mais ser algo além de sonhos. Porque - talvez - se sonhasse comigo, fosse realidade.


Após uma vida inteira (trivial considerando minha pouca idade), através dos seus olhos eu consigo ver que ainda há uma vida inteira para ser vivida, e é nela que se escondem todos os mistérios que acreditei um dia poder ou até ter conseguido revelar. Releve a besteira, desvenda-os comigo. Deixe que eu revele o que há de novo em você e que releve aquilo que não for essencial agora.

Deixe-me jogar este jogo de palavras, prometo que será a única coisa com que irei brincar. Após um terço - quiçá um quarto - desta minha vida, só peço uma oportunidade de provar que nada foi em vão. Que não foi simplesmente sorte o que me trouxe até este momento; que não foi por qualquer outro motivo que me transformei em algo que somente você pudesse moldar.

Deixe que, só desta vez, meu coração faça o trabalho que não tenho delegado a ele. Deixe que ele bata por alguém e que, ao menos desta vez, eu não apanhe.