Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Querido diário,

Eu não sei o que estou sentindo nem o que se passa pela minha cabeça. Me sinto perdida e, como chamou aquele amigo, descompassada. Estou dançando uma música que desconheço e que, portanto, não sei dançar. Estou no meio de um jogo que não sei jogar. E, na verdade, nem sei se estou jogando ou sendo apenas a peça com a qual ele está jogando. E esse não saber é perturbador. Eu não quero jogar.

Ao longo desse ano eu vivi a minha vida em um ritmo muito diferente do que estava acostumada. A ideia de que tudo pode se perder em um segundo tem me feito ir muito além, até meio apressada. Eu tenho sentido mais as coisas, por medo de não conseguir aproveita-las antes que acabem. Com medo de a minha vida inteira passar enquanto eu me pergunto o que fazer.

Mas estou me perguntando agora.


É que, depois daquele fatídico final de semana que separa quem eu era de tudo o que eu posso ser, eu tomei muitas decisões baseadas no agora, e algumas presas ao passado. Aquele relacionamento no qual insisti pela sensação de que ele unia as duas variações de mim, e todos os efêmeros que o sucederam. Toda a pressa de viver a liberdade que eu não sei viver. Demorou muito para eu perceber que não precisava disso.

É que, às vezes, acontece algo na vida da gente. Mas, em outras vezes, acontece alguém. E ele está acontecendo. Ou simplesmente já aconteceu, e eu perdi o momento exato em que ficou no passado. Então eu estou remoendo cada segundo, em busca do erro que eu sei que não cometi. Estou com pressa de viver a calma que ele me inspira.

E talvez meu erro esteja justamente nisso.


O quê, exatamente, eu quis dizer com "podia acontecer mais vezes"? A leveza da conversa, e o conforto de estar ali, o sorriso que eu quero tentar entender, ou a angústia de não saber no que estou investindo? Eu sinto que já vivi tudo isso vezes demais. 

E eu não sei se são todas as outras conversas que perderam a graça, ou se sou só eu e minha eterna preguiça em relação a esse jogo de "interação social sem aprofundamento". Eu quero conhecer alguém de verdade, alguém que me enxergue quando me olha. Alguém que também exista em muitas outras camadas sob a superfície.

E eu não quero precisar esconder.


Então estou me perguntando agora, talvez por achar que - para os meus padrões - seja tudo cedo demais. Tudo isso é por mim ou realmente por ele? Eu permaneço nesse jogo por medo ou por acreditar? Eu me tornei a pessoa que eu temia; que não quer "estar com alguém", mas simplesmente "não estar sozinha"? Porque eu realmente tenho me sentido muito sozinha esse ano.

Estou me perguntando se foi ele quem "fugiu com a minha paz", ou se toda essa confusão é resultante apenas do caos que - há tempos - já se instaurou sem que eu percebesse. Porque eu gosto muito mais dele do que de todos os outros, mas eu não sei se esse é realmente um bom parâmetro. Afinal, eu não gosto de nenhum outro. Só daquele sorriso que eu realmente não sei decifrar.

Estou buscando o que me falta naquilo que eu nunca tive.

E me perguntando se dá tempo de eu o ter sem possuir.

De unir minha liberdade à liberdade dele.


"- Eu quero partilhar a vida boa com você."

quinta-feira, 24 de outubro de 2019

Essa eu fiz pra tudo que eu não soube o que era

23:23. Quase meia-noite. Você já deve estar no milésimo sono, mas eu simplesmente não consigo. Estou experimentando diferentes e variadas sensações desde aquilo que me disse, e nenhuma delas é boa.
Estou, com isso, fazendo uma retrospectiva de tudo o que vivemos; ciente de que chegou a hora - enfim - do ponto final.
Esta é a minha forma de te dizer que eu não quero mais te ver.

Estou pensando na música nova daquele artista que eu adoro e que você detesta. Não na que eu pedi para você ouvir, mas na que vai anunciar esta despedida, e que você talvez nem se dê conta. Mas tudo bem sobre isso; eu também não tinha entendido até agora.
É que você parece se esforçar demais para ficar, e eu mereço alguém que fique sem precisar de esforço algum. E porque - se a palavra é essa - eu também tenho me esforçado muito e, pensando bem, você não vale tudo o que passei.
Neste dueto, eu sempre fui sozinha. E, se for pra eu ser assim, quero ser unicamente por mim.

Este texto eu faço para que seja o último. Pro cara que foi o primeiro, o segundo, o décimo segundo e (provavelmente) o único em diferentes coisas na minha vida e que, surpreendentemente, não soube o que fazer em relação a nenhum dos meus números.
E que, consequentemente, foi capaz de errar em todos eles.
Ou, talvez, inevitavelmente.

Houve mentira, decepções (talvez ambos no plural). E houve, como eu disse ontem a uma amiga, liberdade. Só que calculada. Você me deixou solta, como quem estava livre pela primeira vez na vida e sem saber o que fazer a respeito. Mas me observando. E então, toda vez que você me perdia de vista, me chamava de volta. Sempre foi tudo pelo controle.
Agora, seu experimento vai ter que ser cancelado ou, então, transferido para essa nova garota. Eu cansei de ser a cobaia para você testar esse papel de bom moço.
Meu papel de trouxa já não me cabe mais.

Então, meus números vão continuar crescendo. Talvez um dia parem. Ou talvez isso não aconteça. E, claro, o seu nome vai ficar - como todos os outros. A maioria único, mas nenhum especial o suficiente para ficar gravado.
A carta (se é que podemos chama-la assim) que foi lida, embora nunca enviada, vai para o lixo; que ainda é um lugar mais digno do que a sua estante.
(Você durou mais do que a tinta naquele papel)
Porque...

"Prezado Amigo,
apesar de não saber porquê, eu te amo.
Mas
eu realmente não gosto muito de você."


terça-feira, 9 de julho de 2019

A ridícula ideia de nunca mais te ver...


No início, a ideia era nunca mais te ver. Não ouvir nunca mais a sua voz, não sentir sua respiração no meu rosto, "desacostumar" com seu ronco. A ideia era voltar à minha vida, ao mesmo tempo em que você voltava para a sua. Era esquecer o seu sorriso - sobretudo o meio irônico que eu adorava provocar. Deixar de lado o calor da sua pele, o seu coração pulsando e o suor. No início, a ideia era fechar os olhos para a vida com a qual aprendi a sonhar. Mas agora, ver que a ideia inicial era o fim, soa incômodo demais. Silencioso demais, e eu sinto falta do barulho da sua presença.

Então eu preciso começar a falar. E eu sinto que tenho uma vida inteira pra te contar.




Eu acho improvável que, um dia, leia isto. Para você, esta ausência é pacífica. É em mim que pesa toda a presença dessa solidão. É em mim que ecoam todas as palavras que ainda emanam desse sentimento. Todos os "eu te amo" que eu ainda quero te dizer, a falta de dividir as dores e delícias do cotidiano. Amar sozinha dói, mas não me cala. E tudo que tenho dito para mim mesma precisa ser dividido agora... ainda que você recuse esse meu discurso. Ainda que as cartas sejam sempre devolvidas ao remetente. Ainda que eu me depare com os inúmeros avisos de "destinatário ausente". Talvez o tempo me ensine a me acostumar.

Eu preciso te contar sobre tudo que me lembra você. Sobre os compromissos que marquei na minha agenda, que compartilhei com você e que você prometeu que iria. Sobre a vontade crescente de conversar com você todos os dias. Da vontade de perguntar para sua mãe como você está. Do medo de descobrir que você vai bem melhor sem mim. Porque eu tenho andado descompensada. Sem saber para onde vou e, por vezes, sem me lembrar de onde vim. Tenho andado procurando você.

Só que esta busca não é fácil. Você não está nas outras pessoas, nos outros corpos ou em qualquer outra boca. Nossa conversa fácil não flui neste monólogo e outro diálogo não é suficiente. As músicas que fiz nossas não fazem mais sentido algum. Eu sinto que o tempo está passando sem que eu siga junto. O relógio parece correr enquanto eu permaneço onde você me deixou.


São 52 dias sem nenhum significado real. Nada que vá ficar quando tudo o mais acabar. Livros que não comentei com você, filmes que não assistimos juntos e todas as pequenas trivialidades que perdemos. 52 dias fingindo que está tudo bem, mas sem saber sequer o que restou a ser nutrido. Alimentando uma certeza que não cresce ou que nunca nasceu. Alimentando um fantasma, uma fantasia. Mantendo a ridícula ideia de nunca mais te ver.

A gente devia ter ido assistir "Aladdin" juntos. Acabei assistindo com um amigo qualquer, e eu fiquei pensando se você teria gostado - era algo que só eu queria ver. Você só ia por minha causa; exatamente como eu só fui assistir "Capitã Marvel" e "Os Vingadores" por você. Assim como fomos ver "Dumbo" só porque eu pedi. Este filme também deveria ter sido uma coisa nossa; outro momento que parecesse palpável mesmo dias depois. Mas foi só um modo de passar o tempo que parece estar sempre de brincadeira comigo.

Você devia ter ido comigo nas festas de família. Devia ter conhecido o meu sobrinho, assim como eu conheci o seu, e ter sido apresentado ao "menino". Parte da minha família parou de perguntar, mas para os demais eu ainda não tive coragem de dizer. As palavras tornam tudo definitivo. Um "." pode ser convertido em "...". Mas quando você colocou um "ponto final" nessa nossa história, ficou complicado eu converter em "por enquanto". Você nunca mais me procurou, e me deu a impressão de que só eu perdi alguma coisa naquele sábado à noite. Eu perdi a minha única chance.

E isso ficou muito evidente naquele casamento em que eu confirmei a sua presença. Você devia estar ao meu lado, e era pra você que eu devia ter me virado quando começou a tocar "Hedwig's Theme" para que o noivo entrasse. Você devia ter começado a cutucar minha cintura, empolgado, quando começou a tocar a música tema de "Game of Thrones" - você devia reclamar por eu não conhecer. E devia ser você me testando pra ver se eu reconhecia o tema de "O Senhor dos Anéis". Você teria sorrido instintivamente, e eu teria te amado ainda mais naquele sorriso.

Porque aquela cerimônia foi o que me doeu mais. Porque eu vi que te queria ali, ao meu lado, pela vida inteira. Porque eu senti sua falta mais do que queria admitir - muito mais do que me faz bem. E porque, pela primeira vez na vida, eu queria estar no lugar da noiva. E eu nunca estarei.


****... Cada dia a mais me soa como um dia a menos. Um encontro a menos, um sorriso a menos. Muito menos noites bem dormidas ou manhãs bem aproveitadas. E é claro que eu posso estar enganada, mas eu acho que para nós dois. Eu acho que era a sua chance também. E nós precisamos rever aquela ideia. Nós precisamos nos rever. E ficar bem.

Eu ainda quero assistir "O Rei Leão" com você.


quarta-feira, 12 de junho de 2019

Rewrite the Stars ⭐


"Onde não puderes amar, não te demores."
Naquele dia de janeiro, quando o primeiro tchau ainda não tinha sequer sido dito, eu li e adaptei esta frase. "Onde não puderes ser amada, não te demores.". Foi a primeira vez que assumi a posição de afastamento, ainda que não a visse como uma forma de me proteger. Ainda que não soubesse as proporções que aquela história poderia tomar.

Agora, vendo tudo de um panorama diferente, as palavras que eu nunca encontrei momento exato para falar, podem enfim fluir. E as citações que ficaram pendentes encontram o lugar ideal. 

"Obrigada por ter sido quem eu precisava. Mesmo que isso tenha significado você não permanecer na minha vida."


Por certo tempo, me peguei pensando naquela conversa nossa, naquela sexta-feira antes de o meu mundo desmoronar. Pensando em como eu senti que ainda poderia existir um "nós" implícito no aparente "eu e você". Naquela conversa gostosa, despretensiosa. 

Pensando em como você não era mais uma preocupação, em como havia outra pessoa entrando na minha vida, e em como eu achava isso algo tranquilo. Eu e você permaneceríamos como amigos, ao menos até admitirmos que deveríamos ter tentado mais. Eu e ele permaneceríamos nos vendo ocasionalmente, até nossos caminhos - inevitavelmente - se separarem. Eu nunca gostaria dele como gostava de você; e nunca o teria como a ele.

Minha vida seguiria da mesma maneira, com as mesmas coisas pequenas que pareceriam gigantes.



Mas aí tudo mudou, e nós fomos obrigados a repensar o que estava acontecendo. Você se tornou um apoio tão forte e tão seguro que foi surpreendente. Eu quis que a gente tivesse se decidido mais cedo. Queria ter falado mais sobre você, para tranquilizar os corações de quem me amou até o último segundo.

Você perguntou se eu queria que fosse me ver naquela hora - deixando de lado tudo que estava fazendo. E veio quando eu disse que estava na hora de vir. Então você ficou. Na minha vida, nos meus braços, no meu sorriso no meio da tarde; seu cheiro nos lençóis.

E eu, que desde então me perguntava para onde ir, me senti estupidamente feliz com você ao meu lado. Me senti completa, me senti infinita. Nos seus braços acreditei que não havia perdido completamente o meu lugar no mundo - senti que só precisei redefini-lo. Que não importa tanto o destinatário; ao menos não mais do que o remetente. O que importa é a mensagem.

O que importa e que fica pra sempre, em nós e nos outros, é o que queríamos dizer com os sorrisos, o toque e até com o "não dito". O que fica é a vez que eu segurei o "eu te amo" pela primeira vez, e a vez que enfim assumi. É a certeza de que as ações do verbo "amar" abriram porta para esse sentimento.

Eu precisava sentir amor por alguém.


Porque - você sabe bem disso - aprendi naquele treinamento que "amar" e "amor" são diferentes. Que "amar" é verbo; e verbo exige ação.

Então te amei quando segurei sua mão ao sairmos da livraria depois do primeiro beijo. Ao entrar naquele carro no final do primeiro encontro. Você me amou quando colocou "Molejo" pra tocar, e cantou. E, antes mesmo de nos encontrarmos, me amou ao enfrentar a "pior chuva" da sua vida, no caminho para o shopping.

A gente amou em cada ação. Nas idas e então nas voltas. Nas conversas que talvez nem precisassem ter acontecido. No relógio que continuou contando mesmo quando nós dois estávamos parados. Nós dois conjugamos o verbo, e eu me arriscaria a dizer que de modo proporcional.

A questão que sempre ficou pendente foi o sentimento.


Um sentimento que nunca veio. Cuja ausência foi mais forte do que qualquer outro sentimento ou sensação que pudesse estar presente. Destruindo tudo antes que houvesse algo sólido o suficiente construído. Antes que eu tivesse tempo de te dizer que o seu sorriso sonolento me dava um pouquinho de sono também. Que eu mudei a minha posição para dormir, para que pudesse me encaixar nos seus braços.

A semana corria lenta demais pra saudade que me consumia. Com você, eu senti que amor era muito mais; uma entidade quase palpável. Algo ou alguém que esteve com a gente desde o início, embora sempre nesse descompasso fatal. Querer você, sem ter, mudou completamente minha vida e quem eu era.

Porque, depois de uma década, você foi a frase que eu tive tanto medo de voltar a dizer. Foi um amor impossível e, ao mesmo tempo, inevitável.


Ainda assim você se foi. E, ao cruzar aquela porta pela última vez, você nem olhou para trás quando fechei a porta. Pra você, não havia nada de valor a ser deixado. E eu voltei a ser somente "a garota chorando no escuro". Exatamente como tudo havia terminado daquela primeira vez.

Mas esse não é um texto sobre sofrimento, dor ou perda. É sobre o que você me disse no dia seguinte. Que você tinha ficado triste na volta pra casa, mas que tinha a sensação de ter tomado a decisão certa. Quase um mês depois, eu concordo.

****, você foi um anteparo onde antes havia estado a minha base. Foi alguém vindo sabe-se lá de onde para me dar um apoio que eu ainda não sabia que precisaria. Você foi primavera para a Rosa que ainda não havia desabrochado.

E então eu aprendi a ser o jardim inteiro.


Então, nesta quarta-feira (esse dia não poderia mesmo ter significado maior pra nós dois), eu te agradeço. Por ter entrado na minha vida como se já fizesse parte dela há tempos. Por ter me feito sorrir mais. Por ter me impulsionado a ser quem eu precisava ser e ainda não sabia. 

Por ter insistido todas as outras vezes que me afastei por medo de seguir adiante e sofrer mais. Por ter insistido no "nós" que você mesmo nunca acreditou. E por, naquele domingo de maio - quando eu achei que precisava me afastar de todos que me amavam -, compartilhar comigo sua própria família.

Quando tudo o mais pareceu sumir, você me ensinou a reescrever as estrelas.

domingo, 28 de abril de 2019

Knowing Me, Knowing You

Eu tenho pensado muito em nós dois. Pensar não é algo que eu consiga evitar. Estou tentando entender a dimensão dos meus próprios sentimentos e o que, deles, é mais seu do que meu. No meio disso, estou tentando mensurar o que você tem me dito e procurando, nas suas palavras, o que é meu. Estou avaliando o quanto de nós dois se encontra, pra tentar justificar esse turbilhão.

Estou buscando um único motivo para ficar, e amor não basta. Ele é todo meu, e vai continuar em mim aonde quer que eu vá. E estou fingindo ignorar que, caso você leia e a gente volte a conversar, seus comentários serão ácidos. É que escrever é minha forma de te dizer o que eu não consigo pessoalmente.

Escrever é te contar as conversas que tenho comigo mesma.


Você foi novidade em mim. Foi detalhes que ninguém mais poderia ser. E existir você em diferentes intensidades, desde o último dezembro, foi salvação antes mesmo de eu me sentir perdida. Por isso eu serei eternamente grata. Você me fez uma mulher mais segura, mais forte. E, quando eu me senti desabar, você me mostrou que eu era uma pessoa completa. Me ajudou a ver que havia mais em mim do que o que eles me ajudavam a ser - e que esta base estará comigo pra sempre.

Você me ajudou a ver quem eu era. E eu precisava muito de um olhar de fora. À partir dele, consegui me enxergar melhor por dentro. E pouco não vai me bastar. Assim, eu volto a escrever para você. Porque eu quero que sejamos muito mais do que "o bastante".

Eu quero a palavra que te assusta. Ontem eu usei as que me assustavam.


Nossa história não é algo que possamos medir através do tempo então, por favor, tire esse pensamento da cabeça. Não é uma questão de "cedo demais", e mesmo depois de tudo o que dissemos, ainda não acho que ultrapassamos o limite a ponto de ser "tarde demais". Nem é uma questão de trechos de música, sejam eles de Engenheiros ou ABBA ("If I said I care for you / Could you feel the same way too? / I wanna know // What's the name of the game?"). 

É algo que ultrapassa as nossas conversas, que parece não chegar nem perto das nossas discussões. E que, quanto mais eu questiono, mais eu me pergunto se é "nosso", ou se estamos - cada um de um lado - contando uma história diferente.

Estou buscando um meio termo, porque parecemos estar em dois extremos.


E "compromisso" é uma palavra forte, eu concordo. Mas, para mim, não é um rótulo, um status a ser alterado, uma obrigação. E se é essa a forma com que você enxerga, nós nunca iremos a lugar nenhum. Compromisso é "comprometimento". É unirmos as histórias que estamos escrevendo em uma única - e aqui também não cabe discutirmos "tempo". É usarmos mais "nós" onde antes só cabia um "eu e você" e, assim, assumirmos que fazemos parte da vida um do outro.

É sabermos quando cabe incluir o outro nos nossos planos, ao invés de nos colocarmos em um segundo plano sempre que surgir algo diferente. E eu acho que você sabe disso tudo, só estou tentando explicar porque assim eu tiro da minha cabeça o pensamento de que você só não quer incluir a mim. Porque, mesmo inconscientemente, eu já tenho feito isso.

E eu não quero com qualquer outra pessoa.


Por muito tempo eu achei que saberia quando conhecesse a pessoa certa, porque sentiria algo como "o fim de uma espera que durou uma vida inteira" (e talvez até seja assim, e eu esteja insistindo demais na tecla errada), mas não é assim que eu me sinto em relação a você - e eu gosto que não seja. Porque, desta forma, você me parece real. Me parece uma alternativa pras perguntas que eu não sei a resposta. E porque você se faz minha primeira pergunta pela manhã.

Eu disse que talvez o último final de semana tenha sido um erro - talvez tenha errado ao dizer isso. E sinto, constantemente, que estou entre um milhão de motivos para ir embora, me agarrando a um único motivo para ficar: porque é você; porque sou eu. Mas eu não sei direito o que se passa pela sua cabeça, porque você às vezes me parece distante. E o silêncio forma as palavras em mim...

Você ainda estará comigo esta noite?


sexta-feira, 19 de abril de 2019

Preocupa não...

Depois de tudo o que aconteceu na minha vida nos últimos meses, me parece uma besteira imensa estar aqui escrevendo novamente sobre você. A gente parece pequeno demais, insignificante. Mas me incomoda, e tudo o que eu queria te dizer fica em aberto enquanto você permanece em silêncio.

Uma das moças sobre quem eu comentei com você me disse para seguir em frente sem olhar pra trás. "Ele não vai falar nada, porque ele não se importa." - ela falou. E isso me incomodou. Incomodou porque eu me reconheci na frase dela. Porque eu vi ali meus próprios medos, toda minha insegurança.

Me chateou porque eu acho que ela está certa.


Acho que a porta não está entreaberta como daquela última vez. Acho que foi embora sem fazer barulho, mas vedando a porta atrás de si. Impedindo que eu a ouvisse bater e corresse a tempo de te alcançar. Porque eu disse que te ver indo embora era difícil demais. E você ainda vai ter a coragem de dizer que fez isso pensando em mim.

Minha última mensagem não foi uma pergunta, mas ainda assim espera uma resposta. Se você não queria ir, por que pareceu tão fácil? Eu tenho vivido tudo isso sozinha? Porque, a esta altura, eu tenho me questionado se você esteve aqui ou se foi tudo fruto da minha imaginação.

Minha cama pareceu vazia ontem à noite.


O feriado parece errado - eu tinha feito planos. E tudo que eu achei que você estava fazendo de errado também já foi refutado - "ele não está fazendo nada errado, porque ele nunca quis fazer o que, pra você, parece certo". Eu me apeguei a um punhado de mentiras, de migalhas e a um sentimento que nunca foi de mais ninguém além de mim.

E agora eu fico aqui. Pensando em você em todas as horas, acumulando pequenos momentos que eu quero compartilhar. Desenhando cenários para tudo o que nunca vamos viver. E me convencendo de que logo vai passar.

Procurando provas de que foi tudo um engano, um erro. Esperando para te ver ser engolido no que você criou, sabendo que - mais cedo ou mais tarde - não vai mais haver nenhuma dúvida. Eu fui só mais uma; sozinha e um tanto vulnerável. Carente demais para não reconhecer os sinais.

Implorando por um ponto de chegada.

(Nunca vi chorar tanto por alguém que não te quis...)

domingo, 10 de fevereiro de 2019

"How I Met Your Father" in "The Office"

Estou participando de um desafio de séries agora, assim como já participei de um desafio de filmes, de livros e de músicas. O ócio e o tédio me levam a participar destas coisas. Mas, no final, isso parece ser algo positivo pra mim, sobretudo neste momento.

Anteontem a questão era "o personagem de série que mais se parece com você", e eu respondi "Ted Mosby" de "How I Met Your Mother". Na hora, comentei que não tinha muito orgulho disso, porque eu assisti a série inteira e é claro que o Ted é passional e exagerado. E eu não queria ser assim.

Mas estou assistindo "The Office" agora, e no último episódio que vi, uma ex disse ao "Michael Scott" que ele romantizava demais as coisas, que tendia a enxergar muito mais do que havia de verdade em suas relações interpessoais. E eu me identifiquei com isso também. Como se eu fosse a mistura mal equilibrada destes dois personagens.

Normalmente isso não iria para a frente, mas eu tenho pensado demais em como conduzo as coisas. E, certamente, eu não escreveria sobre; mas também estou fazendo isso agora. E eu concordo. Mas não me arrependo. Porque quando eu penso nas relações que eu tive (e quando comparo com o que escrevi sobre elas - porque eu sei que exagero nos textos) eu vejo que está tudo bem, que não feriu ninguém e, principalmente, que eu tirei algo bom de cada uma delas.

O "cappuccino para dois" que eu nunca vou pedir foi o primeiro de que eu realmente me orgulhei. Ainda é algo que eu goste de ler, mesmo que não signifique mais nada. Tê-lo escrito foi eternizar a forma como eu me senti naquela noite, com aquele vestido que amava, e aqueles olhares que eu já não me importo em tentar entender. Dele eu tirei a motivação para escrever, já que sempre tive dificuldade em falar.

Todas as cores foram sendo gravadas separadamente, e hoje o que vejo em mim é um arco-íris de experiências. Aquele vestido também era o que eu usava quando conheci a imensidão do "azul", naquele sábado em véspera de páscoa, quando o shopping estava tão lotado que perdi meu brinco favorito (uma borboleta de capim dourado). O sorriso dele iluminou meu dia.

O próximo foi "vermelho no mel", e o que vai ficar gravado pra sempre é o olhar. Mais do que a implicância que me irritava toda vez que ele se aproximava, e o jeito fora do comum com que - de repente - acabamos grudados depois de um almoço. Mais do que as ligações de madrugada, das suas fotos no carnaval, todas com o telefone na orelha. O carinho, mais do que o calor.

Também teve o "preto e branco", que não foi realmente cor na minha vida, mas uma ausência delas. Dele ficou a solidão, o vazio e o pensar mais antes de agir. Veio a calma para contrapor toda a minha urgência. Veio o espaço para colorir de "laranja". E toda a espera para deixar que a cor se impregnasse em cada parte de mim. Veio o "vazio do excesso". Veio "amarelo" e o elo que eu nunca entendi.

O "escaravelho" foi quase uma fantasia ou um conto de fatos. Foi o comentário que eu não dei importância na hora, mas que eu devia ter ficado para saber. Foi aquele amor "2x1" que resultou em lembranças adoráveis e fotos que ainda me fazem sorrir. Aquela fase confusa, em que eu ainda não tinha certeza de quem eu era e do que queria ser. Aquela "anomia romântica" em que misturei "letras" e "duas metades" num "baile de máscaras" de "416 dias" entre "o rei e eu".

Tudo pareceu culminar em um "fulgor" à "meia noite". Na "patologia" nunca anunciada, "ilegal" e "contumaz" que instigou "treze doses de ciúmes e de cicuta" e que demorou anos para que chegasse enfim à "ultima dança". Uma dança "imatura", incompleta, que fez dele uma companhia necessária. Um par eterno, ainda que num papel que não tenha desempenhado durante todo o tempo. Meu amigo, meu confidente, meu porto seguro. O beijo todo errado, o amor mal amado, as risadas compartilhadas e as ofensas veladas.

E, para honrar a comparação ao Ted, veio o "espinho"; o "antônimo" de tudo que eu buscava, o "eufemismo" na tentativa de disfarçar tudo meu que ele tomava com tanta facilidade. Veio "Escobar", para fazer de mim Capitu em sua dualidade (mas eu nunca acreditei na infidelidade dela). Veio alguém que pareceu "catalisador", mas que ainda está aqui reagindo comigo, ainda que eu não saiba o produto final. O relacionamento "clichê" para quem eu nunca soube se preparava um "café" ou a minha vida. E para quem, afinal, deixei tudo de lado, sem demora; e ficou para os dois.

De Michael Scott, restou uma "milonga" que eu teimei em comparar a uma obra de "Michelangelo", como se fossem "dois pontos" que resumissem a reta que representava a vida dele na minha história - a tentativa de encontrar onde elas se uniam. Todas as flores que nos coloriram tão pouco, que nos perfumaram sem que percebêssemos, e que ele usou para enfeitar os meus cabelos - eu as recolhi para enfeitar meus textos e mantê-lo aqui pra sempre. Eu nunca vou me esquecer da escada, do telefone sem fio, daqueles colchonetes no escuro e do meu primeiro fio de cabelo branco.

Eu me lembro de tudo. De cada palavra, cada beijo, abraço ou despedida. De cada cara que marcou a minha vida, positiva ou negativamente. Na faculdade, brincavam com a minha memória que não falhava - exceto nas provas. Ao longo do tempo, fui vendo que o problema nunca foi esquecer, foi lembrar. A mente da gente prega peças, e o passado às vezes parece muito melhor do que foi.

No final, foram muitos sonhos e "faz de conta". Mas também veio a "realidade", e é quem eu sou. Uma mulher que ainda gosta de acreditar, que tenta ser melhor. Que, na adolescência, se esforçou tanto para que nenhum cara tivesse "a garota que foi dele", que acabou se reinventando a cada nova experiência. Que foi carinhosa para quem precisava de carinho; que foi ~convidada a se retirar~ de um espaço público por ~conduta inadequada~.

Cada um teve de mim o que eu achei que merecia. Cada um dos meus sentidos ou temperaturas.

Só eu tive o conjunto completo.


E acho que é nisso que eu pensava quando comecei a divagar. Romantizar as coisas não é algo ruim. Sentir demais é melhor do que evitar sentir. Eu vou chorar, ouvir "Bleeding Heart" em posição fetal (olá, 16 anos). Depois vou lavar o rosto e seguir em frente. Vou conhecer "the one" tantas vezes que vou perder a conta. Talvez, no final, perceba realmente que minha vida não caminhou para encontrar "the yellow umbrella", mas para aprender a valorizar "the blue french horn" e toda a minha história cheia de desilusões.

Então vou ouvir "La Vie En Rose", pensando em tudo que não consigo esquecer nem se tentar. E vou sentir saudade, talvez voltar a procurar quem não devia (já fica avisado, porque ainda não me decidi). Ignorar os conselhos de amigos bem intencionados, escutar o diabinho no meu ombro.

Talvez o mundo todo esteja errado, e eu esteja certa desta vez.

É só ~mais uma vez~. E eu tenho a vida inteira.


"Já vi o fim do mundo algumas vezes
E na manhã seguinte 'tava tudo bem"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Sorvete para um.

Quando se foi, veio o "luto". A perda. A negação. E eu ouvia os conselhos daquele amigo, e até concordava, tendo em mente um único pensamento: "ele está errado". O "ele" podia ser qualquer um dos dois: o amigo ou você. O que eu não queria era que o "erro" fosse o meu julgamento. E aceitar o que meu amigo dizia era admitir que eu tinha entendido tudo errado, e caído em uma armadilha. Cilada.

Com o passar do tempo, fui percebendo que meu problema foi não saber direito como reagir a um fora. Não estou acostumada a eles. Sempre fui eu quem foi embora, e - agora eu tenho até orgulho em dizer - sempre fiz questão de dizer o porquê. "Eu não vejo futuro em nós dois". "Eu não quero namorar alguém para preencher um espaço, sufocar carência". EU. Assumir que estava indo embora por decisão minha sobre o que eu queria - ou não - para a minha vida.

A raiva veio no intermédio. Veio das conversas de madrugada com o amigo cético e desconfiado. Veio dos meus medos, minhas dúvidas. Veio da facilidade de usar as frases dele pra justificar o que eu não tinha coragem de desenhar. Foi perceber que eu podia estar errada em relação a você, que minha opinião podia não fazer sentido algum, que todas as impressões que me causou podiam ser só passos estrategicamente delimitados.

Eu também já ensaiei o que falar, já sorri por conveniência. Já fiz algo que nem fazia questão, só pensando no efeito que isso poderia causar em alguém. E agora eu não me orgulho tanto, mas já fingi sentimentos na tentativa de dar tempo de sentir alguma coisa. Meu crime foi amar sempre muito pouco. E eu nem tinha percebido isso até então.

No meio de tudo, tentei negociar. Se não mais com você, comigo mesma. "Se eu fizer tal coisa, pode ser que aconteça tal coisa". Eu ensaiei muita coisa nessa época. Foram planos e conselhos ignorados, de amigos que simplesmente optaram por torcer pela minha felicidade. Mas eu ainda não sabia que já teria seguido adiante. Eu achava que você era um ponto de chegada, e não só um novo ponto de partida.

A imagem que ficou na mente é de anos atrás. Da única vez que coloquei um ponto final por mensagem, porque o receptor era mais tentador do que a ideia de ir embora. Porque eu tinha medo de ser convencida e ficar pela comodidade. Quando ele me pediu pra gente se encontrar, e ficou me enumerando motivos para seguirmos em frente juntos; enquanto eu tomava um sorvete, calada, já com minha decisão tomada. Eu nunca me arrependi.

Meu medo em relação a nos encontrarmos e discutirmos pessoalmente nunca foi chorar. Foi me ver no lugar dele, gastando tempo, saliva, paciência e esperança com alguém que já tinha decidido seguir em frente sozinho. Foi te ver, através da janela, indo embora sem olhar para trás. A ideia de que, ao relembrar desse encontro, você nunca se arrependesse. Que tivesse a mesma certeza que eu tenho ao me lembrar daquele.

Então veio a depressão. Quando me peguei pensando em você como alguém que nunca mais veria, seu sorriso como algo completamente distante, seu cheiro como um perfume que eu nunca mais tentaria distinguir. A vontade de nem sair de casa, de não encontrar ninguém nunca mais. A preguiça de conversar com os amigos, pois o assunto - mesmo que não especificamente você - iria surgir e eu só queria esquecer que existiu.

Veio a pergunta que eu estava negando: carinho ou mágoa? E, para responder, precisei balancear tudo que eu achei que teria aos 26 para 27, e que não estou sequer próxima de conseguir. Minha visão de mim na adolescência e já na fase adulta. As poucas certezas que se mantiveram. Precisei me lembrar de que meus pensamentos sobre você foram e ainda são meus - e as mágoas que ficaram também são.

Tudo bem que, aos 26, eu ainda não tenha sequer o emprego (que dirá a carreira) que sempre sonhei. Que eu ainda more com os meus pais, apesar de todas as divergências. Tudo bem que eu nunca tenha saído do país, e que o sonho da Argentina esteja tão distante quanto o de conhecer a Espanha. Não será nenhum problema que eu nunca vá à Grécia ou não conheça as pirâmides do Egito; que eu nunca encontre a "cidade perdida dos Incas".

Eu não preciso projetar meus sonhos em outra pessoa, nem apressar a vida que desenhei mas que não parece caber direito na minha. É um dia de cada vez, um pensamento por vez, um sentimento sendo aproveitado quando surgir. É a formatura de uma amiga, uma conversa que atravessa a noite, um dia pegando sol no clube, e o bronzeado que vai ficar sabe-se lá por quanto tempo.

O que eu sonhei aos 16 já era obsoleto aos 18. O que eu desejei para os 28 talvez não chegue antes dos 30. Talvez eu tenha - neste instante - que escolher um novo caminho.

Tudo bem se eu não te encontrar daqui a 15 anos.


A fase final do luto (de tudo) é a aceitação.

sábado, 26 de janeiro de 2019

Antropônimo.

Paralelas não se cruzam. E muita gente acha triste a ideia de duas retas que parecem seguir o mesmo caminho sem nunca se encontrar. Mas ninguém parece se importar com as vidas que se cruzam uma única vez e nunca mais. E eu acho isso muito pior.

Eu não devia ser o alimento para o ego de ninguém. Não devia me sentir culpada por nenhum sentimento. Não devia, a esta altura da vida, estar me questionando se foi culpa do tempo, de alguém ou se não há culpa nenhuma a ser atribuída agora. Me parece errado querer uma vida em que você nunca tivesse existido.

Mas você fala em "não ser o que eu mereço", como se coubesse a você decidir por mim. Sua decisão é apenas sua. E você parece não querer assumir a responsabilidade por ela. Te contar sobre minha vida não te dá o direito de achar que sabe o que é melhor para mim. Eu esperei que você fosse capaz de dizer as palavras certas: "você não é o que eu quero para a minha vida".

Nós não somos crianças. Você não devia ir embora como tal.


De mesmo modo, eu não deveria estar escrevendo aqui. Nem devia ter me abalado com aquela mensagem que surpreendeu um total de zero pessoas. Mas eu não pude evitar. Nem vou pedir desculpas desta vez. O que eu te ofereci sempre disse mais sobre mim.

Não posso me pedir para ser menos. Nem me colorir com tons pastéis, quando eu nasci para ser tom vivo. Te colorir nunca foi um plano, só foi o que eu faço toda vez. Eu sou feita de amor, e menos do que "tudo" nunca me satisfez.

Mas a decisão sobre a minha vida sempre foi minha. E, se eu errei, foi ao te dar a impressão de que era sua. Eu ainda tenho certeza da minha decisão, e a questão não é você não poder ser o que eu espero. É você não querer. (Usar a palavra certa importa). E eu nunca disse o que eu espero.

Até porque eu só planejo o meu futuro quando o conjugo no presente.


Mas agora você é passado. É um dos nós da minha história que nunca criou laços. É o "nós" que nunca foi nada além de um "eu e você"; e eu não consigo entender como acabamos parando no mesmo lugar. Pairando sob o mesmo "quase". Essa é a única parte que parece piada.

Embora pareça cruel. Eu estava bem. Havia alguém de quem eu nunca poderia gostar desta forma, mas com quem eu poderia me ajustar. (É esse o caminho que você acha que eu quero/devo seguir?). Eu quis você porque não imaginava onde estaríamos em seguida. Não imaginar o meu futuro me pareceu uma ideia incrível.

Mas esse breu também é passado agora. Aquele buraco que parece que vai ficar toda vez que eu pensar. Eu ainda não sei como vou pensar em você; se com carinho ou alguma mágoa. Mas eu sei exatamente como vou pensar em quem eu sou exatamente neste momento: com orgulho.

Olhando daqui, eu me sinto muito mais forte depois de você.


E eu poderia terminar com algum trecho - provavelmente o refrão - daquela música que me fez gostar daquela cantora pop. Poderia agradecer e esperar o próximo. Poderia voltar duas casas e tentar uma nova jogada com aquele cara (não foi a primeira nem a segunda vez que eu o coloquei na casa dos "quase").

Poderia até pensar em alguma música daquela banda que compartilhamos - até mesmo aquela que te mandei da primeira vez que nos despedimos. Mas ela não cabe mais aqui; mesmo quando eu te quis, quis pelo que eu sou e o quis para mim. Insistir foi algo que fiz por mim, para que eu pudesse ser quem eu precisava ser.

Mas nada disso importa agora que não resta nada a dizer além de adeus. Porque não digo nada disso com o intuito de tentar (re)começar com um outro alguém. Tudo bem se nunca mais houver outra pessoa. Eu não nasci para um diálogo; me encontrei nestes monólogos.

E não tenho medo de ser só. Tenho medo de ser apenas.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Démodé

Ela sempre achou que tudo se colocava no papel. Sempre foi do tipo que escreve cartas, bilhetes espalhados para serem lidos em momentos aleatórios do dia corrido. Do tipo que desenha sorrisos atrás das contas a pagar, que coloca trechos de música entre as anotações da faculdade.

Quando menina, tinha um caderninho com cheiro de morango que nunca emprestava. Escrevia seus sentimentos ali, fantasiava o que diziam que ela ainda iria sentir. Ela tinha uma série de perguntas prontas, às quais respondia vez ou outra, como se assim pudesse capturar suas nuances. Ela sempre soube que iria mudar, e achou que conseguiria perceber quando acontecesse.

Mas ela acreditava que a visão que tinha de amor era única e que se manteria. Foi criada para acreditar em contos de fada, em finais felizes. Sua princesa favorita encontrou o amor verdadeiro e uma biblioteca; e é claro que ela relevou toda a magia e objetos falantes. Ainda assim parecia real, e podia acontecer para ela.

Seu primeiro amor foi o melhor amigo. Aquele que brincava com ela como um igual, com quem ela ria - os olhos verdes que ela nunca esqueceu, e que sempre pareceram sorrir. Ela sempre gostou de olhos que sorriem. Ele a beijou na escola, aquele beijo que ela esperava desde "Meu Primeiro Amor", e que carregava tanto carinho. Eles se desencontraram depois.

Então, na bagunça do adolescer, teve aquele menino implicante de quem ela fugia. Que ela achava meio bobo, que falava dela com um brilho nos olhos que chegava a cegar. E que a venceu pelo cansaço. Ele foi provavelmente o primeiro sobre quem ela escreveu. Porque ele fez o ciclo completo: desconhecido - colega - amigo - primeiro pedido de namoro - amigo - colega - desconhecido. Ele tinha olhos de jabuticaba.

O segundo pedido não foi de nenhum rapaz. Foi de uma mãe, e o filho era bem promissor; um candidato a príncipe encantado. Ela nunca escreveu sobre ele, mas tinha uma caixa de bilhetes trocados como um segredo, que contavam aquela história através das perspectivas dos dois. Mas ela jogou tudo fora quando alguns bilhetes foram lidos por outra pessoa. Alguém maculou aquela pureza e, no final, cada um seguiu seu caminho com a lembrança de um beijo que não se concretizou. Ela nunca perguntou se ele pensava naquela tarde.

Ela fingiu esquecer e seguiu em frente. Acha que "era julho de 86" quando todos seus sonhos romantizados esbarraram na realidade. Não que ela não tenha gostado; foi muito melhor do que ela imaginava. Ela não lembra de uma característica específica, olhos ou sorriso. Mas ela nunca se esqueceu do gosto: era de liberdade. Ela era uma menina, mas ele parecia um homem. E enquanto ela escrevia, ele cresceu. Casou-se e teve uma filha.

A música na época era "Because of You", seu sorriso era metálico e a timidez que desenvolveu ainda não dava sinais de aparecer. Ela distribuía abraços de "bom dia", e tinha um apelido carinhoso para cada amigo. E beijou um amigo dos amigos dela só porque estava de ótimo humor. Eles ficaram juntos o resto do dia, e na manhã seguinte o sorriso que ela deu na foto foi capturado no momento exato em que ele apareceu naquele teatro - o cheiro de Malbec ainda é todo dele. Ele a pediu em namoro e ela aceitou. Mas se perguntarem agora, ela diria que ele era só casual. Quatro anos de casualidades.

O único que ela chamou de namorado nem sequer foi o próximo para quem ela disse sim. Ela estava tão acostumada a escrever, que achava que algumas palavras não valiam tanto se fossem apenas ditas. E ela não se importou em dizer coisas que o machucaram, porque tinham dito a ela que o tempo curaria tudo. A ametista que ele deu a ela - lasca do mineral que ele guardava como amuleto - ficou para sempre guardado no medalhão que ela usava. Ela sempre foi do tipo que gostou de ter evidências físicas de um "quase amor".

Mas quando o amor realmente veio, não deixou nada a que se apegar. Ele ainda deve ter o CD, mas todos os corações de origami e todos os "eu te amo" que ela disse na vida já devem ter ido para o lixo há anos. A música que ficou foi "Thinking of You", que ela só conheceu depois que ele partiu. Quando partiu o coração dela. E dissipou qualquer vestígio de seus sonhos infantis. Ela nunca mais viu a covinha do sorriso, e tentou coloca-la em todos os seus textos à partir de então.

Ela brincou com os sentimentos do próximo, achando que assim apagaria o fato de que haviam brincado com os seus. Começou a renegar a ideia do amor. A criar muros onde antes ela via pontes. Não havia mais espaço para a princesa do conto de fadas; os vilões começaram a fazer mais sentido. Mas a professora de português disse que seus textos eram bons ("sua mãe sabe que você escreve isso?!"), e ela nunca mais parou. Viveu à partir deles.

Então ela começou a separar - embora negue que foi ali - os homens sobre os quais escreveria e com os quais se envolveria. Misturou as coisas em raríssimas vezes. Os príncipes foram feitos para serem escritos, eles não funcionariam juntos na vida real. Óscar, Michelangelo, Escobar... foram codinomes de homens que ela idealizou. O nome de grafia errada ela nunca escreveu. O nome que pareceu certo ela quer esquecer.

Os ingressos daquela sessão de cinema ela guardou. Dentro da capa de um filme que ela queria ver com ele. Ela se pergunta o que desaparecerá primeiro: se a tinta daquele papel, ou o sorriso de sua memória - torce para que seja o segundo (a tinta é o prazo que ela delimitou). Mas o beijo no rosto vai ficar para sempre; soou como um último adeus da primeira pessoa em anos que ela misturou em palavras e sentimento (pareceu aquela única despedida que ela nunca esqueceu). Todos os textos foram uma despedida gradual, porque a ideia de um "até logo" parecia natural.

Agora parece ensaiada. Premeditada.

A versão da bruxa má para o "e foram felizes para sempre".




E este texto é para sua amiga, que pediu carinhosamente que ela escrevesse sobre si mesma.
Mas como separar uma história que é a soma de todas as outras?

No final, sempre será mais do mesmo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Biblioteca da Memória

Às vezes convém fazer um retrospecto, um introspecto. Vale vasculhar memórias antigas, lembranças que foram importantes e que ainda nos guiam. Às vezes a gente precisa guardar certas pessoas, relevar experiências, revelar segredos. De tempos em tempos a gente precisa se perguntar quem a gente é, e o quão distante estamos de quem gostaríamos de ser.

Normalmente eu faço isso no final do ano, mas o ano passado foi atípico. No final de 2017, naquela cerimônia que me fez tão absurdamente feliz, a grande questão foi se, na infância, podíamos nos imaginar ali. E eu certamente não podia. Mesmo num passado mais recente eu não poderia. Sempre mudei muito fácil de opinião. Porque sempre me pareceu que o "para sempre" era longo demais, e eu não tinha tempo suficiente. Ainda parece. Mas eu não sou mais criança.

E, tampouco, sou quem fui na semana passada.


Eu sempre gostei de ler. Sempre imaginei algo enorme em cada livro, uma nova realidade em cada universo. E, consequentemente, sempre gostei de escrever. Eu sempre soube que faria isso a vida inteira, só não imaginava sobre o quê e - pensando agora - uma espécie de diário me pareceria pouco. Mas acabou se ajustando.

As palavras acabaram me levando ao tal sonho do jornalismo - viver à partir da escrita, da curiosidade, do conhecimento. O amor me tirou da utopia. Ele não foi o primeiro para o qual escrevi, mas moldou minha escrita - ele se tornou meu objetivo. E, até hoje, tantos anos depois, ainda escrevo um modo de me sentir como me sentia com ele. Ainda converto "querer" em "gostar; "gostar" em "estar apaixonada" e "paixão" em um "quase amor". 

Mas nunca foi a mesma coisa. E tudo bem.


A dor me levou à empatia. Com o tempo, fui aprendendo a me colocar no lugar dos outros, e a sentir suas dores como se fossem minhas. Então eu quis ser psicóloga, pra tentar encontrar algo bom no sofrimento alheio. Como se assim eu pudesse aprender a lidar com os meus próprios monstros. Ou, ao menos, na tentativa de mascara-los.

No intervalo, veio o relacionamento bumerangue que nunca levou a lugar nenhum. Veio o amigo que, felizmente, ainda se mantém amigo. Uma série de "tanto faz" atrelados à nenhum significado. "O amor em seu formato mínimo", como na canção do Skank que eu amei de primeira. Veio uma série de caras que inspiraram meus textos e que foram sucedidos sempre por outro que eu achava mais estimulante.

E eu, que era toda sonho, me tornei ar.


Em algum momento, veio aquele texto sobre buscarmos sempre alguém que tivesse algo que nós mesmos não temos. Eu não sei se alguém serviu como molde para ele; acho que foi uma conversa despretensiosa. Mas então eu passei a reparar o que buscava naqueles com que me envolvia. E ainda reparo. Só parei de reparar no que, de fato, ficava em mim.

Terminei um curso técnico que gostava, mas não muito, e ingressei num curso que amava, numa faculdade que "não muito". De lá ficou uma pessoa com a qual não converso muito mais, mas que ainda é um dos maiores amigos que encontrei na vida. Encontrei uma alma que combinava com a minha. Com o nome que me trazia dor ao proferir. E ainda o vejo como uma forma de cura.

Lá, aprendi que eu podia ter mais do que me falavam.


Então comecei a sonhar ainda mais alto, porque eu queria ir além dos meus sonhos infantis. Eu queria encontrar meu lugar no mundo e tinha pressa. De lá, veio a realidade exatamente do jeito como ela é. E ainda bem que a conheci - não é bonita, mas eu precisava aprender a lidar com ela.

Também veio o sorriso mais bonito que já me pertenceu. Ele não sabe, mas eu adorava a liberdade de estar "presa" a ele. Estar onde eu queria estar, muito além de onde queriam que eu estivesse. Os cantos escondidos, os segredos de liquidificador. A "beleza de gestos, abraços, mãos, dedos, anéis e lábios, dentes e sorriso solto" que ele não tem ideia do quanto foi difícil ter que abandonar.

Eu gostei muito dele; quase acreditei que era amor. Mas eu não podia ficar.


Eu ainda tinha um erro a cometer, mas que era inevitável. Tinha escolhido e trilhado esse caminho por tanto tempo que não tinha como escapar por um atalho - e ele merecia ser algo muito melhor do que uma fuga. Ele merecia ser o destino final, e agora eu vejo a ironia desta escolha de palavras. E eu agradeço por ele se sentar ao meu lado no restaurante naquele dia; por ter escolhido voltar e - então - ficar na minha vida.

Sobre o erro, estive com ele ontem à noite. E o saldo foi bem positivo, na verdade - o passado ficou no passado. Conversar com ele foi divertido, mas não o suficiente para eu não querer ir embora. E talvez, ao mandar embora - recentemente -  quem eu queria sim como amigo, eu tenha reencontrado alguém que me queria como amiga.

Nós somos apenas partículas de poeira dentro da galáxia.


Depois veio o cara que eu nunca deveria ter magoado. Ele riria se soubesse que estou exatamente no ponto em que ele se perdeu. Eu ainda concordo com alguns dos meus pensamentos - mesmo que agora eles se refiram a mim -, mas não devia tê-los expressado. Não sei o que dele ficou em mim, talvez certo grau de carência que me fez enxergar sentimento onde não havia nada, mas espero - se algo meu ficou nele - que ele tenha se tornado alguém mais seguro. Ele tinha muito potencial. E eu quase fiquei para descobrir.

Se eu tivesse ficado, onde estaria agora? Em uma casa de cercas brancas, vivendo o amor dito tradicional? Aquele relacionamento seguro, onde a gente sabe pra onde vai quando cai a noite; pros mesmos braços, mesmo sorriso, mesma conversa. Mesmas trivialidades. Eu não estaria escrevendo este texto. Não teria escrito a maioria destes.

E, provavelmente, ele teria escrito a minha vida.


Mas eu fui embora, e a verdade é que peguei tantos caminhos não previstos que não sei mais qual merece ser citado como uma experiência especial. Descobri que nem me lembro de alguns nomes, e que isso faz de mim alguém bem diferente do que eu imaginava no início dessa jornada. E muito distante do que desenhei para os meus 28 anos. Talvez eu precise desenhar um novo caminho com pressa, ou aprender a lidar com a possibilidade de nunca chegar ao meu sonho, afinal.

Enfim, teve aquele cara que já começou mentindo. Mas que, então, tentou se corrigir e eu acabei ficando pra entender melhor. Ele parecia uma pessoa bem bacana por trás do personagem que havia criado, mas ele sabia atuar muito bem. E incorporou tanto o personagem, que passei a não diferenciar quando era ele e quando era quem ele queria ser.

E pra mim já basta eu existir nessa dualidade.


Então veio você. O cara por quem e para quem eu tenho escrito com essa frequência absurda. O cara que respondeu à minha pergunta zoada e rebateu com outra de igual cunho. Eu ri demais naquele momento. Foi a melhor "primeira conversa" que eu tive em dez anos, e aquela também deixou marcas indeléveis. Você me tirou da minha zona de conforto, e é por isso que eu faço questão de guardar todas as impressões que ficaram. Não quero esquecer, porque não quero mais aquela monotonia de ter sempre as mesmas conversas.

Só estou lutando para não criar outro padrão inatingível. Pois nenhum outro cara vai ser você, e a memória é coisa cruel. Ela grava o que é bom, porque de dor já basta cada dia que a gente vive. Mas vai passar, todos os caras anteriores passaram. Só precisa chegar a hora certa para isso.

"Todos as horas ferem. A última mata."


Esse ano eu vou focar em ser menos quem eu fui, e bem mais em quem eu posso ser. Utilizar a sua dica e focar no campo profissional (espero que ele foque em mim também). Porque nada em ninguém pode me fazer mais feliz do que eu mesma.

"I've got so much love
Got so much patience
I've learned from the pain
I turned out amazing
Say I've loved and I've lost
But that's not what I see
'Cause look what I've found
Ain't no need for searching"

E o que eu escrevo sobre você fala muito mais sobre mim.






"Please, don't see
Just a girl caught up in dreams and fantasies
Please, see me
Reaching out for someone I can't see"