Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

domingo, 22 de novembro de 2015

ᗩᗰᗩᖇᗩᑎTᕼᑌᔕ

É inocência demais acreditar que nunca voltaria aqui para escrever sobre você? E seria perda de tempo fazer isso agora? Eu não sei a resposta para nenhuma das perguntas, e admito que desde nossa última conversa tenho tido dúvidas também sobre elas.

Mas a questão é que com o tempo eu percebi que, mais do que odiar a sua aparente indiferença, eu odeio a cordialidade. Detesto conseguirmos lidar tão facilmente um com o outro como se fôssemos desconhecidos. Detesto que não pareça ensaiado, e que eu só seja capaz de sentir minha própria dor. Porque duvido que você sinta alguma, e quero duvidar também desta minha certeza.

E eu não devia querer isso.


Os últimos meses foram torturantes. Cada olhar, cada vez que esbarramos acidentalmente. "Pro tanto que eu te queria, o perto nunca bastava; e essa proximidade não dava". Me senti muito mais distante de mim do que de você, e o mais infeliz é que nossa proximidade era somente física. Tentei fingir que não mas, durante todo esse tempo, tenho me sentido perdida.

Tenho me sentido com medo. Como se nunca mais pudesse ser capaz de me despedir completamente, como se o tempo nunca fosse passar. Por vezes parece que ele literalmente para, e que é tudo mentira ou pesadelo. Às vezes você me olha e eu sinto você tão perto que a dor dá uma trégua. Mas quando o relógio volta a contar seus minutos; quando os ponteiros voltam a girar, sinto que a ferida se reabre... volta a sangrar.

Eu só queria não sentir nada disso. Nunca mais.


E é tanto desejo camuflado por este "não querer", que tentei apagar cada detalhe que ficara para trás e que transbordava uma paixão não concretizada. É incrível como - pensando nisso agora - as coisas também pareçam ter sido fáceis para mim.

Apaguei fotos, cada vestígio do teu sorriso. Deletei desenhos que recordavam tão claramente aqueles dois pontos que convertiam os meus dias em noites. Até me convenci de que todos os meus textos foram muito mais ficcionais.

Tentei não transformar romance em drama.


Mas ao cortar tudo o que eu julgava ser laço, vi que não tinha ainda desatado todos os nós. Então precisei apelar para um esforço final: cortei a trança. Cortei os fios que se uniam naquele eterno penteado rebuscado, ainda que figurativo. Tentei destruir ali as memórias de suas mãos entre os meus cabelos, como se nunca tivessem existido ou, mesmo ao existir, nunca tivessem significado nada.

A ideia é doar. Dar à alguém que precisa, além dos fios, dos sonhos ali impregnados. Passar adiante toda a esperança que cultivei estando perto de você. Porque vejo agora, bem mais do que antes, que foi amor o que nutriu as madeixas e as fez mais fortes, de modo a permitir que suportassem o peso e todo o significado implícito naquele gesto.

E agora sim posso afirmar: reescrevi as memórias. Para nunca mais me perder no que era real e no que eu inventei.