"ѕαвє... נá fαz тємρσ qυє єυ qυєяια тє fαℓαя ∂αѕ ¢σιѕαѕ qυє тяαgσ иσ ρєιтσ... ѕαυ∂α∂є... נá иãσ ѕєι ѕє α ραℓανяα ¢єятα ραяα υѕαя. αιи∂α ℓємвяσ ∂σ ѕєυ נєιтσ..."
Esta é a minha caixinha de segredos... Todo mundo tem uma... Mas esta é a minha...
Para ser sincera, eu não me lembro bem a combinação, a senha... Mas de vez em quando as lembranças arrombam o cadeado, e aí códigos não são necessários...
Às vezes acho que meus amigos, meus irmãos, estão lá dentro, ou sabem bem a senha do tal cadeado... Talvez eles tenham criado a combinação, e por isso eu não saiba... Mas, acontece que eles sabem bem o que se passa lá dentro!
Sabem quando eu não estou bem, e eu não estou nada bem agora... Na verdade, há uma semana eu não sei o que é dormir direito... Tento dormir, e não consigo... Imagens e pensamentos invadem a cabeça e não me deixam em paz... Vozes e palavras que eu preferia não lembrar saem da caixinha e tomam meu corpo por completo.
E eu não consigo dormir, viro na cama, tentando não pensar. E as lágrimas escorrem pelo meu rosto, na tentativa vã de limpar tudo que me machuca. Mas elas inundem a cama, meu quarto, meu mundo... E, de repente, eu não tenho mais onde ficar... Lugar nenhum, é o MEU lugar!
E eu tento empurrar tudo pra caixa novamente, mas as lembranças só vão quando querem, e eu consigo finalmente dormir... Não uma noite tranquila... Mas, uma noite cheia de sonhos... Sonhos de uma noite de verão...
E eu me viro, como uma louca em uma camisa de força... E acho que sussurro frases sem nexo ao longo da noite. E quando eu me encontro em "paz", já é tarde. Há onze semanas eu não conheço o significado da palavra: paz!
A minha caixinha de segredos nem sempre foi assim... Ela nem tinha um cadeado! Ela era mais bonita, mais viva! Eu gostava bem mais... E lá dentro, tinha bem menos lembranças, e elas pesavam bem menos! Eu gostava do conteúdo da caixa...
Naquela época, eu a conhecia pela palavra: coração!
Hoje não... Não consigo imaginar algo sem cor, sem vida, com um nome tão leve. Não consigo imaginar algo que me faça tão mal, com o nome de algo que outrora me fizera tão bem. Não consigo abrigar os sentimentos mais lindos em algo tão... frio!
Não sei como fazer o amor caber num espaço tão breve, como na poesia. Não sei como fazer com que ele caiba em qualquer lugar. Acho que deveria expulsá-lo da caixinha... Afinal, sendo ele assim tão grande, o melhor que posso fazer é tirá-lo da caixa, para que as lembranças não tentem nunca mais sair.
Mas ele parece estar grudado com uma cola muito forte, que não deixa que eu o retire daqui. Ou, quem sabe, eu não tenha força suficiente para descolar o que quer que seja. Às vezes acredito que seria melhor jogar a caixa toda fora!
Mas embora eu tente, eu não consigo! é como se todo o meu corpo dependesse do conteúdo da caixa. E eu me sinto morrer sempre que a toco. E eu me sinto morrer neste segundo. Porque eu estou com a caixa nas mãos... Tão pesada, gris... E aquela música parece fúnebre quando eu tento me lembrar da letra... Do que ela dizia... Do que você me dizia!
Quem sabe eu deva comprar uma nova? Talvez uma caixinha de 1GB resolva... Este modelo de 8GB só me trouxe problemas... Eu coloquei um monte de momentos que não vão voltar, e agora isto tudo cai em mim como uma correnteza! Eu me sinto mais pesada agora. Eu me sinto acabada, como se cada segundo tivesse servido apenas para provar que eu não devia ter feito tudo da maneira que fiz... Como se eu estivesse sempre errada!
Vou tentar um novo modelo na virada do ano... Como num ritual, tentar queimar a caixa. Tentar sobreviver, pelo menos. Mas embora eu tenha a certeza do que devo fazer, eu não sei se quero! Não sei se quero sobreviver.
Todo mundo tem a sua caixinha de segredos. Só esta é a minha!
