Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Querido diário,

Eu não sei o que estou sentindo nem o que se passa pela minha cabeça. Me sinto perdida e, como chamou aquele amigo, descompassada. Estou dançando uma música que desconheço e que, portanto, não sei dançar. Estou no meio de um jogo que não sei jogar. E, na verdade, nem sei se estou jogando ou sendo apenas a peça com a qual ele está jogando. E esse não saber é perturbador. Eu não quero jogar.

Ao longo desse ano eu vivi a minha vida em um ritmo muito diferente do que estava acostumada. A ideia de que tudo pode se perder em um segundo tem me feito ir muito além, até meio apressada. Eu tenho sentido mais as coisas, por medo de não conseguir aproveita-las antes que acabem. Com medo de a minha vida inteira passar enquanto eu me pergunto o que fazer.

Mas estou me perguntando agora.


É que, depois daquele fatídico final de semana que separa quem eu era de tudo o que eu posso ser, eu tomei muitas decisões baseadas no agora, e algumas presas ao passado. Aquele relacionamento no qual insisti pela sensação de que ele unia as duas variações de mim, e todos os efêmeros que o sucederam. Toda a pressa de viver a liberdade que eu não sei viver. Demorou muito para eu perceber que não precisava disso.

É que, às vezes, acontece algo na vida da gente. Mas, em outras vezes, acontece alguém. E ele está acontecendo. Ou simplesmente já aconteceu, e eu perdi o momento exato em que ficou no passado. Então eu estou remoendo cada segundo, em busca do erro que eu sei que não cometi. Estou com pressa de viver a calma que ele me inspira.

E talvez meu erro esteja justamente nisso.


O quê, exatamente, eu quis dizer com "podia acontecer mais vezes"? A leveza da conversa, e o conforto de estar ali, o sorriso que eu quero tentar entender, ou a angústia de não saber no que estou investindo? Eu sinto que já vivi tudo isso vezes demais. 

E eu não sei se são todas as outras conversas que perderam a graça, ou se sou só eu e minha eterna preguiça em relação a esse jogo de "interação social sem aprofundamento". Eu quero conhecer alguém de verdade, alguém que me enxergue quando me olha. Alguém que também exista em muitas outras camadas sob a superfície.

E eu não quero precisar esconder.


Então estou me perguntando agora, talvez por achar que - para os meus padrões - seja tudo cedo demais. Tudo isso é por mim ou realmente por ele? Eu permaneço nesse jogo por medo ou por acreditar? Eu me tornei a pessoa que eu temia; que não quer "estar com alguém", mas simplesmente "não estar sozinha"? Porque eu realmente tenho me sentido muito sozinha esse ano.

Estou me perguntando se foi ele quem "fugiu com a minha paz", ou se toda essa confusão é resultante apenas do caos que - há tempos - já se instaurou sem que eu percebesse. Porque eu gosto muito mais dele do que de todos os outros, mas eu não sei se esse é realmente um bom parâmetro. Afinal, eu não gosto de nenhum outro. Só daquele sorriso que eu realmente não sei decifrar.

Estou buscando o que me falta naquilo que eu nunca tive.

E me perguntando se dá tempo de eu o ter sem possuir.

De unir minha liberdade à liberdade dele.


"- Eu quero partilhar a vida boa com você."