Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

domingo, 10 de fevereiro de 2019

"How I Met Your Father" in "The Office"

Estou participando de um desafio de séries agora, assim como já participei de um desafio de filmes, de livros e de músicas. O ócio e o tédio me levam a participar destas coisas. Mas, no final, isso parece ser algo positivo pra mim, sobretudo neste momento.

Anteontem a questão era "o personagem de série que mais se parece com você", e eu respondi "Ted Mosby" de "How I Met Your Mother". Na hora, comentei que não tinha muito orgulho disso, porque eu assisti a série inteira e é claro que o Ted é passional e exagerado. E eu não queria ser assim.

Mas estou assistindo "The Office" agora, e no último episódio que vi, uma ex disse ao "Michael Scott" que ele romantizava demais as coisas, que tendia a enxergar muito mais do que havia de verdade em suas relações interpessoais. E eu me identifiquei com isso também. Como se eu fosse a mistura mal equilibrada destes dois personagens.

Normalmente isso não iria para a frente, mas eu tenho pensado demais em como conduzo as coisas. E, certamente, eu não escreveria sobre; mas também estou fazendo isso agora. E eu concordo. Mas não me arrependo. Porque quando eu penso nas relações que eu tive (e quando comparo com o que escrevi sobre elas - porque eu sei que exagero nos textos) eu vejo que está tudo bem, que não feriu ninguém e, principalmente, que eu tirei algo bom de cada uma delas.

O "cappuccino para dois" que eu nunca vou pedir foi o primeiro de que eu realmente me orgulhei. Ainda é algo que eu goste de ler, mesmo que não signifique mais nada. Tê-lo escrito foi eternizar a forma como eu me senti naquela noite, com aquele vestido que amava, e aqueles olhares que eu já não me importo em tentar entender. Dele eu tirei a motivação para escrever, já que sempre tive dificuldade em falar.

Todas as cores foram sendo gravadas separadamente, e hoje o que vejo em mim é um arco-íris de experiências. Aquele vestido também era o que eu usava quando conheci a imensidão do "azul", naquele sábado em véspera de páscoa, quando o shopping estava tão lotado que perdi meu brinco favorito (uma borboleta de capim dourado). O sorriso dele iluminou meu dia.

O próximo foi "vermelho no mel", e o que vai ficar gravado pra sempre é o olhar. Mais do que a implicância que me irritava toda vez que ele se aproximava, e o jeito fora do comum com que - de repente - acabamos grudados depois de um almoço. Mais do que as ligações de madrugada, das suas fotos no carnaval, todas com o telefone na orelha. O carinho, mais do que o calor.

Também teve o "preto e branco", que não foi realmente cor na minha vida, mas uma ausência delas. Dele ficou a solidão, o vazio e o pensar mais antes de agir. Veio a calma para contrapor toda a minha urgência. Veio o espaço para colorir de "laranja". E toda a espera para deixar que a cor se impregnasse em cada parte de mim. Veio o "vazio do excesso". Veio "amarelo" e o elo que eu nunca entendi.

O "escaravelho" foi quase uma fantasia ou um conto de fatos. Foi o comentário que eu não dei importância na hora, mas que eu devia ter ficado para saber. Foi aquele amor "2x1" que resultou em lembranças adoráveis e fotos que ainda me fazem sorrir. Aquela fase confusa, em que eu ainda não tinha certeza de quem eu era e do que queria ser. Aquela "anomia romântica" em que misturei "letras" e "duas metades" num "baile de máscaras" de "416 dias" entre "o rei e eu".

Tudo pareceu culminar em um "fulgor" à "meia noite". Na "patologia" nunca anunciada, "ilegal" e "contumaz" que instigou "treze doses de ciúmes e de cicuta" e que demorou anos para que chegasse enfim à "ultima dança". Uma dança "imatura", incompleta, que fez dele uma companhia necessária. Um par eterno, ainda que num papel que não tenha desempenhado durante todo o tempo. Meu amigo, meu confidente, meu porto seguro. O beijo todo errado, o amor mal amado, as risadas compartilhadas e as ofensas veladas.

E, para honrar a comparação ao Ted, veio o "espinho"; o "antônimo" de tudo que eu buscava, o "eufemismo" na tentativa de disfarçar tudo meu que ele tomava com tanta facilidade. Veio "Escobar", para fazer de mim Capitu em sua dualidade (mas eu nunca acreditei na infidelidade dela). Veio alguém que pareceu "catalisador", mas que ainda está aqui reagindo comigo, ainda que eu não saiba o produto final. O relacionamento "clichê" para quem eu nunca soube se preparava um "café" ou a minha vida. E para quem, afinal, deixei tudo de lado, sem demora; e ficou para os dois.

De Michael Scott, restou uma "milonga" que eu teimei em comparar a uma obra de "Michelangelo", como se fossem "dois pontos" que resumissem a reta que representava a vida dele na minha história - a tentativa de encontrar onde elas se uniam. Todas as flores que nos coloriram tão pouco, que nos perfumaram sem que percebêssemos, e que ele usou para enfeitar os meus cabelos - eu as recolhi para enfeitar meus textos e mantê-lo aqui pra sempre. Eu nunca vou me esquecer da escada, do telefone sem fio, daqueles colchonetes no escuro e do meu primeiro fio de cabelo branco.

Eu me lembro de tudo. De cada palavra, cada beijo, abraço ou despedida. De cada cara que marcou a minha vida, positiva ou negativamente. Na faculdade, brincavam com a minha memória que não falhava - exceto nas provas. Ao longo do tempo, fui vendo que o problema nunca foi esquecer, foi lembrar. A mente da gente prega peças, e o passado às vezes parece muito melhor do que foi.

No final, foram muitos sonhos e "faz de conta". Mas também veio a "realidade", e é quem eu sou. Uma mulher que ainda gosta de acreditar, que tenta ser melhor. Que, na adolescência, se esforçou tanto para que nenhum cara tivesse "a garota que foi dele", que acabou se reinventando a cada nova experiência. Que foi carinhosa para quem precisava de carinho; que foi ~convidada a se retirar~ de um espaço público por ~conduta inadequada~.

Cada um teve de mim o que eu achei que merecia. Cada um dos meus sentidos ou temperaturas.

Só eu tive o conjunto completo.


E acho que é nisso que eu pensava quando comecei a divagar. Romantizar as coisas não é algo ruim. Sentir demais é melhor do que evitar sentir. Eu vou chorar, ouvir "Bleeding Heart" em posição fetal (olá, 16 anos). Depois vou lavar o rosto e seguir em frente. Vou conhecer "the one" tantas vezes que vou perder a conta. Talvez, no final, perceba realmente que minha vida não caminhou para encontrar "the yellow umbrella", mas para aprender a valorizar "the blue french horn" e toda a minha história cheia de desilusões.

Então vou ouvir "La Vie En Rose", pensando em tudo que não consigo esquecer nem se tentar. E vou sentir saudade, talvez voltar a procurar quem não devia (já fica avisado, porque ainda não me decidi). Ignorar os conselhos de amigos bem intencionados, escutar o diabinho no meu ombro.

Talvez o mundo todo esteja errado, e eu esteja certa desta vez.

É só ~mais uma vez~. E eu tenho a vida inteira.


"Já vi o fim do mundo algumas vezes
E na manhã seguinte 'tava tudo bem"

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2019

Sorvete para um.

Quando se foi, veio o "luto". A perda. A negação. E eu ouvia os conselhos daquele amigo, e até concordava, tendo em mente um único pensamento: "ele está errado". O "ele" podia ser qualquer um dos dois: o amigo ou você. O que eu não queria era que o "erro" fosse o meu julgamento. E aceitar o que meu amigo dizia era admitir que eu tinha entendido tudo errado, e caído em uma armadilha. Cilada.

Com o passar do tempo, fui percebendo que meu problema foi não saber direito como reagir a um fora. Não estou acostumada a eles. Sempre fui eu quem foi embora, e - agora eu tenho até orgulho em dizer - sempre fiz questão de dizer o porquê. "Eu não vejo futuro em nós dois". "Eu não quero namorar alguém para preencher um espaço, sufocar carência". EU. Assumir que estava indo embora por decisão minha sobre o que eu queria - ou não - para a minha vida.

A raiva veio no intermédio. Veio das conversas de madrugada com o amigo cético e desconfiado. Veio dos meus medos, minhas dúvidas. Veio da facilidade de usar as frases dele pra justificar o que eu não tinha coragem de desenhar. Foi perceber que eu podia estar errada em relação a você, que minha opinião podia não fazer sentido algum, que todas as impressões que me causou podiam ser só passos estrategicamente delimitados.

Eu também já ensaiei o que falar, já sorri por conveniência. Já fiz algo que nem fazia questão, só pensando no efeito que isso poderia causar em alguém. E agora eu não me orgulho tanto, mas já fingi sentimentos na tentativa de dar tempo de sentir alguma coisa. Meu crime foi amar sempre muito pouco. E eu nem tinha percebido isso até então.

No meio de tudo, tentei negociar. Se não mais com você, comigo mesma. "Se eu fizer tal coisa, pode ser que aconteça tal coisa". Eu ensaiei muita coisa nessa época. Foram planos e conselhos ignorados, de amigos que simplesmente optaram por torcer pela minha felicidade. Mas eu ainda não sabia que já teria seguido adiante. Eu achava que você era um ponto de chegada, e não só um novo ponto de partida.

A imagem que ficou na mente é de anos atrás. Da única vez que coloquei um ponto final por mensagem, porque o receptor era mais tentador do que a ideia de ir embora. Porque eu tinha medo de ser convencida e ficar pela comodidade. Quando ele me pediu pra gente se encontrar, e ficou me enumerando motivos para seguirmos em frente juntos; enquanto eu tomava um sorvete, calada, já com minha decisão tomada. Eu nunca me arrependi.

Meu medo em relação a nos encontrarmos e discutirmos pessoalmente nunca foi chorar. Foi me ver no lugar dele, gastando tempo, saliva, paciência e esperança com alguém que já tinha decidido seguir em frente sozinho. Foi te ver, através da janela, indo embora sem olhar para trás. A ideia de que, ao relembrar desse encontro, você nunca se arrependesse. Que tivesse a mesma certeza que eu tenho ao me lembrar daquele.

Então veio a depressão. Quando me peguei pensando em você como alguém que nunca mais veria, seu sorriso como algo completamente distante, seu cheiro como um perfume que eu nunca mais tentaria distinguir. A vontade de nem sair de casa, de não encontrar ninguém nunca mais. A preguiça de conversar com os amigos, pois o assunto - mesmo que não especificamente você - iria surgir e eu só queria esquecer que existiu.

Veio a pergunta que eu estava negando: carinho ou mágoa? E, para responder, precisei balancear tudo que eu achei que teria aos 26 para 27, e que não estou sequer próxima de conseguir. Minha visão de mim na adolescência e já na fase adulta. As poucas certezas que se mantiveram. Precisei me lembrar de que meus pensamentos sobre você foram e ainda são meus - e as mágoas que ficaram também são.

Tudo bem que, aos 26, eu ainda não tenha sequer o emprego (que dirá a carreira) que sempre sonhei. Que eu ainda more com os meus pais, apesar de todas as divergências. Tudo bem que eu nunca tenha saído do país, e que o sonho da Argentina esteja tão distante quanto o de conhecer a Espanha. Não será nenhum problema que eu nunca vá à Grécia ou não conheça as pirâmides do Egito; que eu nunca encontre a "cidade perdida dos Incas".

Eu não preciso projetar meus sonhos em outra pessoa, nem apressar a vida que desenhei mas que não parece caber direito na minha. É um dia de cada vez, um pensamento por vez, um sentimento sendo aproveitado quando surgir. É a formatura de uma amiga, uma conversa que atravessa a noite, um dia pegando sol no clube, e o bronzeado que vai ficar sabe-se lá por quanto tempo.

O que eu sonhei aos 16 já era obsoleto aos 18. O que eu desejei para os 28 talvez não chegue antes dos 30. Talvez eu tenha - neste instante - que escolher um novo caminho.

Tudo bem se eu não te encontrar daqui a 15 anos.


A fase final do luto (de tudo) é a aceitação.