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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

E ainda não passou...





Sábado completa seis meses. Para muitas pessoas, seis meses não é nada. Mas para quem perde alguém a quem se ama, seis meses é uma eternidade.


Antério. Seu nome veio do grego, se bem me lembro. Significa “cheio de flores”. E de fato nenhum nome cairia de forma mais perfeita a ele. Meu avô, vô, vovô. “Vovô Roso”, como diria a Carol. Sempre ele.


Foi numa sexta-feira que vimos a sua estrela apagar. Mas eu acho que, naquele fim de tarde, a estrela de toda a nossa família passou a brilhar com menos intensidade. Eu não conseguiria imaginar dor mais forte, nem vazio maior.


Ter que me despedir dele foi como se o mundo parasse de girar, e eu estivesse de cabeça pra baixo. Eu me senti cair num buraco sem fim. E eu sei que era assim com toda a família. E nós tivemos que ficar apoiados uns nos outros.


Pra ser sincera, acho que a gente ainda está se segurando pra não desabar. Eu não consigo acreditar que já tenhamos saído do tal buraco. Porque eu ainda não me sinto completamente segura aqui.


Dentro do meu peito, o coração ainda aperta ao ouvir o seu nome ou olhar para sua foto. Quando eu sinto seu perfume naquele boné, tudo mais perde o sentido. O som da voz dele fica me rondando, e é como se ele estivesse do meu lado.


E eu tiro forças do sorriso dele. O jeito gostoso do meu avô sorrir, ainda que hoje apenas na minha memória, sempre vai iluminar meu dia. A forma dele andar sempre vai me motivar a dar um passo a frente. Esse amor incondicional nunca vai mudar.



Eu não sei se ele pode me ouvir, mas toda noite eu converso com ele. Eu sinto muita falta dele. Todos nós sentimos. O vovô foi meu maior exemplo. Um homem espetacular. Não era perfeito - claro que não -, mas até no seu jeito “cabeça dura” de ser via-se uma pessoa incrível. Eu acho que puxei esse jeito meio turrão dele.


Ah... meu avô era inteligentíssimo. Aliás, ele era sábio. Ele aprendeu demais com a vida, e eu admiro essa sua capacidade incrível de observação.


Meu avô também gostava de escrever. Em seus cadernos, ele escrevia tudo o que lhe acontecia, como num diário. E eu me perco ao ler suas anotações. Em cada linha, há tanto dele, que eu quase acredito que ele mesmo está me contando aquilo, com sua voz e jeito tranqüilo de falar.


Eu sinto saudades da voz dele. E da maneira que ele falava dos programas na televisão. Era tudo tão único... Tão exclusivamente dele.


Mas o que eu mais sinto falta são os abraços dele. Dele me abraçar quando eu o ia visitar, dele perguntar como estava todo mundo por aqui. Dele me oferecer laranja, mexerica... E do riso dele, quando dizia “se eu cultivasse uns porquinhos, vocês iriam aceitar.” ...


Hoje eu sinto muito mesmo por não ter aceitado aquela laranja serra d’agua.


Hoje eu percebo o quão cada detalhe era importante. Hoje eu penso e vejo que meu vô nunca mais vai acenar pra mim do portão. Hoje eu vejo que ele nunca mais fará piadinhas com meu pai. Eu sei disso, mas eu não consigo entender.


Eu sabia que um dia ele teria que partir. Mas ele se foi muito cedo.


Eu queria poder estar com ele ao menos por mais um minuto. Olhar nos olhos dele e dizer o quanto eu o amo e sempre o amarei. Dar um último abraço apertado, e ver aquele sorriso sincero que era só dele.

Eu queria que ele me dissesse que um dia essa dor iria ao menos amenizar.

Só mais uma vez. Eu queria estar com o “Vovô Roso” novamente.