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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sábado, 12 de maio de 2018

Ordinary Things

Eu te conheci aos 17 anos. 

Me apaixonei por você aos 17 anos. Você não estava interessado, e assim a gente acabou ficando amigo. Do nosso jeito; do jeito de quem raramente se via (e eu estou sendo generosa com esse "raramente"). Mas que, quando conversava, parecia que tinha se conhecido a vida inteira. 

Você foi quando eu decidi comemorar meu aniversário de 18 anos no shopping. Não fomos quando, naquele mesmo mês, meu avô - e uma das pessoas que mais amei na vida - se foi na véspera do show do Skank (nossos ingressos estão guardados, até hoje, intactos, como uma recordação de que a maior perda que sofri não deixou nenhuma prova física). 

E acho que também perdi um pouco das minhas esperanças em relação a você naquele momento.


Só que algo ficou latente. 

Ardente. E eu me prometi não desperdiçar a chance se um dia a tivesse. Mas então o mundo deu mais uma de suas voltas, em dezembro de 2012, quando eu passei para a segunda etapa do vestibular. Você brincou que eu só estava esperando você sair para eu ingressar na federal. (Sempre tinha parecido que nós dois não cabíamos no mesmo lugar). E a gente acabou brincando sobre tanta coisa, tanta besteira que, quando vi, já tínhamos extrapolado algum limite bem tênue e mudado nossos status do Facebook para "noivos". E teve tanta gente que acreditou, que parte de mim também achou que era saudável voltar a acreditar.

Foi quando vi que aquela questão sobre a tal chance nunca foi um "e se" acontecesse, mas "quando" acontecesse. 

Demorou quase um ano.


A gente ficou bem próximo naquele ano, com umas conversas bem mais diretas, com umas visitas ocasionais na faculdade e quando a gente enfim se beijou, eu estava matando aula. Mas eu sabia que estava no lugar exato. Com você era onde eu queria estar. 

Eu, como sempre, cumpri minha promessa: não estraguei aquela chance, mesmo não tendo certeza de que devíamos continuar. Era um segredo nosso, e ali devia permanecer. Mas o problema começou quando você disse que eu não devia esconder. Foi então que eu passei a confiar em você como o cara com quem eu estava, e não mais como o amigo que eu conhecia há três anos. 

Foi aí que você estragou tudo. O que eu achava que era tudo.


Na verdade, quando aconteceu eu fiquei meio pasma. Acreditei no que me dizia, mesmo parecendo tão falso, porque era mais fácil do que acreditar que você era capaz de me subestimar tanto e ser tão pouco honesto comigo. Depois eu deixei no passado, junto com tudo que eu pensava saber sobre você. Eu o mandei embora da minha vida e fechei aquela porta. 

Você sempre encontrou uma janela para entrar de novo. 

E isso foi tomando tamanha dimensão na minha vida que eu passei a deixar a janela aberta para que você viesse e, às vezes, até sinalizei para que encontrasse o caminho mais rápido. Mas eu nunca mais quis te ver pessoalmente. E sempre que isso aconteceu - assim, sem premeditação (afinal, Contagem é um ovo) -, eu fingi que não vi.

Mas a verdade é que eu nunca te perdi de vista, nem me escondi de você. 


Ao longo destes cinco anos, eu sempre me mantive e ainda me mantenho à vista, ainda procuro por você em todos os lugares e espero ansiosamente por tocar a sua pele; por sentir seu sorriso novamente no meu rosto. 

Há muito tempo eu vivo com a sensação de que estou em busca de algo que se perdeu.

Só agora percebi que era você.


ilustrações: Paulo Mariotti