Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sexta-feira, 6 de janeiro de 2017

𝓒𝔞𝔣𝔢́

"Certas coisas não param de acontecer em nós até o fim da vida." Seria bem hipócrita da minha parte negar ou ignorar quem sou agora, mesmo quando a intenção é mudar.

A questão é que não me basta "querer ser melhor" quando volto a repetir certos hábitos, nem é possível fazê-lo sem perder parte da minha humanidade. E o problema é que eu já acho que me resta pouco dela.

Eu não queria vir aqui desta vez. Estou com medo principalmente do meu próprio julgamento. Os conselhos que dou aos outros não me cabem; a dor que desta vez é minha me cala. E enlouquece.


Às vezes, e quanto mais me pego pensando nisso, eu me questiono sobre quem eu me tornei. Digo que tenho orgulho, mas não tenho certeza sequer de que me conheço. Os padrões que adotei com o passar do tempo são tão diferentes daqueles que tenho criticado? Eu não sou melhor em nada.

Olhando no espelho; estudando o castanho dos olhos em busca do brilho; eu chego à conclusão de que não tenho nada. De que "nada" é tudo o que eu tenho. E, embora eu pudesse citar aqui aquela música que diz: "nada é uma palavra esperando tradução"; a verdade é mais pontual.

Ontem à noite eu não conheci um guri. Tampouco ele me pareceu sozinho - não parecia que era minha aquela solidão. Mas tudo queimou sem aquecer.


Hoje eu não quero citar Engenheiros. Essa banda não é dele, nem tenho o direito de atribui-la a ele. A ele cabe o que nunca coube a nenhum outro, pois nele também não há nada que seja de mais ninguém.

(Nesta hora eu até cogito dar a música real - SUA -, mas quero manter algo seu para mim. Quando você sair - ou já saiu - da minha vida, esta peça talvez me ajude a crescer.)

Desta vez eu quero agradecer, e quase quero fazê-lo pessoalmente, a todas as pessoas detrás das portas que precisei fechar para que esta pudesse ser aberta. Estar sozinha dentro dessa sala enorme e não me dispersar, me dá foco para não esperar que nada mais venha por esta porta. Não virá. E tudo bem desta vez.

Então, pelas horas que me restam desta primeira sexta-feira do ano, vou me permitir só ficar diante de sua porta. Com a esperança de ver alguma luz, e a aceitação do escuro como um amigo. Nós dois sabemos enxergar na escuridão. E eu posso até me acostumar.


Eu "amei te ver". Mas essa também não é uma música do Tiago Iorc e você não vai voltar. E, embora "teu jeito rime com o meu", tampouco somos Anavitória. Desta vez eu não vivi um clichê. Vivi uma fuga.

Não vou ser cruel. Não vou procurar mais pretextos. Eu não tenho para onde ir. Somos cúmplices. E sempre seremos fugitivos.

"Quanto tempo você vai ficar?
Preparo um café       
ou preparo minha vida?"