Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sábado, 26 de janeiro de 2019

Antropônimo.

Paralelas não se cruzam. E muita gente acha triste a ideia de duas retas que parecem seguir o mesmo caminho sem nunca se encontrar. Mas ninguém parece se importar com as vidas que se cruzam uma única vez e nunca mais. E eu acho isso muito pior.

Eu não devia ser o alimento para o ego de ninguém. Não devia me sentir culpada por nenhum sentimento. Não devia, a esta altura da vida, estar me questionando se foi culpa do tempo, de alguém ou se não há culpa nenhuma a ser atribuída agora. Me parece errado querer uma vida em que você nunca tivesse existido.

Mas você fala em "não ser o que eu mereço", como se coubesse a você decidir por mim. Sua decisão é apenas sua. E você parece não querer assumir a responsabilidade por ela. Te contar sobre minha vida não te dá o direito de achar que sabe o que é melhor para mim. Eu esperei que você fosse capaz de dizer as palavras certas: "você não é o que eu quero para a minha vida".

Nós não somos crianças. Você não devia ir embora como tal.


De mesmo modo, eu não deveria estar escrevendo aqui. Nem devia ter me abalado com aquela mensagem que surpreendeu um total de zero pessoas. Mas eu não pude evitar. Nem vou pedir desculpas desta vez. O que eu te ofereci sempre disse mais sobre mim.

Não posso me pedir para ser menos. Nem me colorir com tons pastéis, quando eu nasci para ser tom vivo. Te colorir nunca foi um plano, só foi o que eu faço toda vez. Eu sou feita de amor, e menos do que "tudo" nunca me satisfez.

Mas a decisão sobre a minha vida sempre foi minha. E, se eu errei, foi ao te dar a impressão de que era sua. Eu ainda tenho certeza da minha decisão, e a questão não é você não poder ser o que eu espero. É você não querer. (Usar a palavra certa importa). E eu nunca disse o que eu espero.

Até porque eu só planejo o meu futuro quando o conjugo no presente.


Mas agora você é passado. É um dos nós da minha história que nunca criou laços. É o "nós" que nunca foi nada além de um "eu e você"; e eu não consigo entender como acabamos parando no mesmo lugar. Pairando sob o mesmo "quase". Essa é a única parte que parece piada.

Embora pareça cruel. Eu estava bem. Havia alguém de quem eu nunca poderia gostar desta forma, mas com quem eu poderia me ajustar. (É esse o caminho que você acha que eu quero/devo seguir?). Eu quis você porque não imaginava onde estaríamos em seguida. Não imaginar o meu futuro me pareceu uma ideia incrível.

Mas esse breu também é passado agora. Aquele buraco que parece que vai ficar toda vez que eu pensar. Eu ainda não sei como vou pensar em você; se com carinho ou alguma mágoa. Mas eu sei exatamente como vou pensar em quem eu sou exatamente neste momento: com orgulho.

Olhando daqui, eu me sinto muito mais forte depois de você.


E eu poderia terminar com algum trecho - provavelmente o refrão - daquela música que me fez gostar daquela cantora pop. Poderia agradecer e esperar o próximo. Poderia voltar duas casas e tentar uma nova jogada com aquele cara (não foi a primeira nem a segunda vez que eu o coloquei na casa dos "quase").

Poderia até pensar em alguma música daquela banda que compartilhamos - até mesmo aquela que te mandei da primeira vez que nos despedimos. Mas ela não cabe mais aqui; mesmo quando eu te quis, quis pelo que eu sou e o quis para mim. Insistir foi algo que fiz por mim, para que eu pudesse ser quem eu precisava ser.

Mas nada disso importa agora que não resta nada a dizer além de adeus. Porque não digo nada disso com o intuito de tentar (re)começar com um outro alguém. Tudo bem se nunca mais houver outra pessoa. Eu não nasci para um diálogo; me encontrei nestes monólogos.

E não tenho medo de ser só. Tenho medo de ser apenas.


segunda-feira, 21 de janeiro de 2019

Démodé

Ela sempre achou que tudo se colocava no papel. Sempre foi do tipo que escreve cartas, bilhetes espalhados para serem lidos em momentos aleatórios do dia corrido. Do tipo que desenha sorrisos atrás das contas a pagar, que coloca trechos de música entre as anotações da faculdade.

Quando menina, tinha um caderninho com cheiro de morango que nunca emprestava. Escrevia seus sentimentos ali, fantasiava o que diziam que ela ainda iria sentir. Ela tinha uma série de perguntas prontas, às quais respondia vez ou outra, como se assim pudesse capturar suas nuances. Ela sempre soube que iria mudar, e achou que conseguiria perceber quando acontecesse.

Mas ela acreditava que a visão que tinha de amor era única e que se manteria. Foi criada para acreditar em contos de fada, em finais felizes. Sua princesa favorita encontrou o amor verdadeiro e uma biblioteca; e é claro que ela relevou toda a magia e objetos falantes. Ainda assim parecia real, e podia acontecer para ela.

Seu primeiro amor foi o melhor amigo. Aquele que brincava com ela como um igual, com quem ela ria - os olhos verdes que ela nunca esqueceu, e que sempre pareceram sorrir. Ela sempre gostou de olhos que sorriem. Ele a beijou na escola, aquele beijo que ela esperava desde "Meu Primeiro Amor", e que carregava tanto carinho. Eles se desencontraram depois.

Então, na bagunça do adolescer, teve aquele menino implicante de quem ela fugia. Que ela achava meio bobo, que falava dela com um brilho nos olhos que chegava a cegar. E que a venceu pelo cansaço. Ele foi provavelmente o primeiro sobre quem ela escreveu. Porque ele fez o ciclo completo: desconhecido - colega - amigo - primeiro pedido de namoro - amigo - colega - desconhecido. Ele tinha olhos de jabuticaba.

O segundo pedido não foi de nenhum rapaz. Foi de uma mãe, e o filho era bem promissor; um candidato a príncipe encantado. Ela nunca escreveu sobre ele, mas tinha uma caixa de bilhetes trocados como um segredo, que contavam aquela história através das perspectivas dos dois. Mas ela jogou tudo fora quando alguns bilhetes foram lidos por outra pessoa. Alguém maculou aquela pureza e, no final, cada um seguiu seu caminho com a lembrança de um beijo que não se concretizou. Ela nunca perguntou se ele pensava naquela tarde.

Ela fingiu esquecer e seguiu em frente. Acha que "era julho de 86" quando todos seus sonhos romantizados esbarraram na realidade. Não que ela não tenha gostado; foi muito melhor do que ela imaginava. Ela não lembra de uma característica específica, olhos ou sorriso. Mas ela nunca se esqueceu do gosto: era de liberdade. Ela era uma menina, mas ele parecia um homem. E enquanto ela escrevia, ele cresceu. Casou-se e teve uma filha.

A música na época era "Because of You", seu sorriso era metálico e a timidez que desenvolveu ainda não dava sinais de aparecer. Ela distribuía abraços de "bom dia", e tinha um apelido carinhoso para cada amigo. E beijou um amigo dos amigos dela só porque estava de ótimo humor. Eles ficaram juntos o resto do dia, e na manhã seguinte o sorriso que ela deu na foto foi capturado no momento exato em que ele apareceu naquele teatro - o cheiro de Malbec ainda é todo dele. Ele a pediu em namoro e ela aceitou. Mas se perguntarem agora, ela diria que ele era só casual. Quatro anos de casualidades.

O único que ela chamou de namorado nem sequer foi o próximo para quem ela disse sim. Ela estava tão acostumada a escrever, que achava que algumas palavras não valiam tanto se fossem apenas ditas. E ela não se importou em dizer coisas que o machucaram, porque tinham dito a ela que o tempo curaria tudo. A ametista que ele deu a ela - lasca do mineral que ele guardava como amuleto - ficou para sempre guardado no medalhão que ela usava. Ela sempre foi do tipo que gostou de ter evidências físicas de um "quase amor".

Mas quando o amor realmente veio, não deixou nada a que se apegar. Ele ainda deve ter o CD, mas todos os corações de origami e todos os "eu te amo" que ela disse na vida já devem ter ido para o lixo há anos. A música que ficou foi "Thinking of You", que ela só conheceu depois que ele partiu. Quando partiu o coração dela. E dissipou qualquer vestígio de seus sonhos infantis. Ela nunca mais viu a covinha do sorriso, e tentou coloca-la em todos os seus textos à partir de então.

Ela brincou com os sentimentos do próximo, achando que assim apagaria o fato de que haviam brincado com os seus. Começou a renegar a ideia do amor. A criar muros onde antes ela via pontes. Não havia mais espaço para a princesa do conto de fadas; os vilões começaram a fazer mais sentido. Mas a professora de português disse que seus textos eram bons ("sua mãe sabe que você escreve isso?!"), e ela nunca mais parou. Viveu à partir deles.

Então ela começou a separar - embora negue que foi ali - os homens sobre os quais escreveria e com os quais se envolveria. Misturou as coisas em raríssimas vezes. Os príncipes foram feitos para serem escritos, eles não funcionariam juntos na vida real. Óscar, Michelangelo, Escobar... foram codinomes de homens que ela idealizou. O nome de grafia errada ela nunca escreveu. O nome que pareceu certo ela quer esquecer.

Os ingressos daquela sessão de cinema ela guardou. Dentro da capa de um filme que ela queria ver com ele. Ela se pergunta o que desaparecerá primeiro: se a tinta daquele papel, ou o sorriso de sua memória - torce para que seja o segundo (a tinta é o prazo que ela delimitou). Mas o beijo no rosto vai ficar para sempre; soou como um último adeus da primeira pessoa em anos que ela misturou em palavras e sentimento (pareceu aquela única despedida que ela nunca esqueceu). Todos os textos foram uma despedida gradual, porque a ideia de um "até logo" parecia natural.

Agora parece ensaiada. Premeditada.

A versão da bruxa má para o "e foram felizes para sempre".




E este texto é para sua amiga, que pediu carinhosamente que ela escrevesse sobre si mesma.
Mas como separar uma história que é a soma de todas as outras?

No final, sempre será mais do mesmo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2019

Biblioteca da Memória

Às vezes convém fazer um retrospecto, um introspecto. Vale vasculhar memórias antigas, lembranças que foram importantes e que ainda nos guiam. Às vezes a gente precisa guardar certas pessoas, relevar experiências, revelar segredos. De tempos em tempos a gente precisa se perguntar quem a gente é, e o quão distante estamos de quem gostaríamos de ser.

Normalmente eu faço isso no final do ano, mas o ano passado foi atípico. No final de 2017, naquela cerimônia que me fez tão absurdamente feliz, a grande questão foi se, na infância, podíamos nos imaginar ali. E eu certamente não podia. Mesmo num passado mais recente eu não poderia. Sempre mudei muito fácil de opinião. Porque sempre me pareceu que o "para sempre" era longo demais, e eu não tinha tempo suficiente. Ainda parece. Mas eu não sou mais criança.

E, tampouco, sou quem fui na semana passada.


Eu sempre gostei de ler. Sempre imaginei algo enorme em cada livro, uma nova realidade em cada universo. E, consequentemente, sempre gostei de escrever. Eu sempre soube que faria isso a vida inteira, só não imaginava sobre o quê e - pensando agora - uma espécie de diário me pareceria pouco. Mas acabou se ajustando.

As palavras acabaram me levando ao tal sonho do jornalismo - viver à partir da escrita, da curiosidade, do conhecimento. O amor me tirou da utopia. Ele não foi o primeiro para o qual escrevi, mas moldou minha escrita - ele se tornou meu objetivo. E, até hoje, tantos anos depois, ainda escrevo um modo de me sentir como me sentia com ele. Ainda converto "querer" em "gostar; "gostar" em "estar apaixonada" e "paixão" em um "quase amor". 

Mas nunca foi a mesma coisa. E tudo bem.


A dor me levou à empatia. Com o tempo, fui aprendendo a me colocar no lugar dos outros, e a sentir suas dores como se fossem minhas. Então eu quis ser psicóloga, pra tentar encontrar algo bom no sofrimento alheio. Como se assim eu pudesse aprender a lidar com os meus próprios monstros. Ou, ao menos, na tentativa de mascara-los.

No intervalo, veio o relacionamento bumerangue que nunca levou a lugar nenhum. Veio o amigo que, felizmente, ainda se mantém amigo. Uma série de "tanto faz" atrelados à nenhum significado. "O amor em seu formato mínimo", como na canção do Skank que eu amei de primeira. Veio uma série de caras que inspiraram meus textos e que foram sucedidos sempre por outro que eu achava mais estimulante.

E eu, que era toda sonho, me tornei ar.


Em algum momento, veio aquele texto sobre buscarmos sempre alguém que tivesse algo que nós mesmos não temos. Eu não sei se alguém serviu como molde para ele; acho que foi uma conversa despretensiosa. Mas então eu passei a reparar o que buscava naqueles com que me envolvia. E ainda reparo. Só parei de reparar no que, de fato, ficava em mim.

Terminei um curso técnico que gostava, mas não muito, e ingressei num curso que amava, numa faculdade que "não muito". De lá ficou uma pessoa com a qual não converso muito mais, mas que ainda é um dos maiores amigos que encontrei na vida. Encontrei uma alma que combinava com a minha. Com o nome que me trazia dor ao proferir. E ainda o vejo como uma forma de cura.

Lá, aprendi que eu podia ter mais do que me falavam.


Então comecei a sonhar ainda mais alto, porque eu queria ir além dos meus sonhos infantis. Eu queria encontrar meu lugar no mundo e tinha pressa. De lá, veio a realidade exatamente do jeito como ela é. E ainda bem que a conheci - não é bonita, mas eu precisava aprender a lidar com ela.

Também veio o sorriso mais bonito que já me pertenceu. Ele não sabe, mas eu adorava a liberdade de estar "presa" a ele. Estar onde eu queria estar, muito além de onde queriam que eu estivesse. Os cantos escondidos, os segredos de liquidificador. A "beleza de gestos, abraços, mãos, dedos, anéis e lábios, dentes e sorriso solto" que ele não tem ideia do quanto foi difícil ter que abandonar.

Eu gostei muito dele; quase acreditei que era amor. Mas eu não podia ficar.


Eu ainda tinha um erro a cometer, mas que era inevitável. Tinha escolhido e trilhado esse caminho por tanto tempo que não tinha como escapar por um atalho - e ele merecia ser algo muito melhor do que uma fuga. Ele merecia ser o destino final, e agora eu vejo a ironia desta escolha de palavras. E eu agradeço por ele se sentar ao meu lado no restaurante naquele dia; por ter escolhido voltar e - então - ficar na minha vida.

Sobre o erro, estive com ele ontem à noite. E o saldo foi bem positivo, na verdade - o passado ficou no passado. Conversar com ele foi divertido, mas não o suficiente para eu não querer ir embora. E talvez, ao mandar embora - recentemente -  quem eu queria sim como amigo, eu tenha reencontrado alguém que me queria como amiga.

Nós somos apenas partículas de poeira dentro da galáxia.


Depois veio o cara que eu nunca deveria ter magoado. Ele riria se soubesse que estou exatamente no ponto em que ele se perdeu. Eu ainda concordo com alguns dos meus pensamentos - mesmo que agora eles se refiram a mim -, mas não devia tê-los expressado. Não sei o que dele ficou em mim, talvez certo grau de carência que me fez enxergar sentimento onde não havia nada, mas espero - se algo meu ficou nele - que ele tenha se tornado alguém mais seguro. Ele tinha muito potencial. E eu quase fiquei para descobrir.

Se eu tivesse ficado, onde estaria agora? Em uma casa de cercas brancas, vivendo o amor dito tradicional? Aquele relacionamento seguro, onde a gente sabe pra onde vai quando cai a noite; pros mesmos braços, mesmo sorriso, mesma conversa. Mesmas trivialidades. Eu não estaria escrevendo este texto. Não teria escrito a maioria destes.

E, provavelmente, ele teria escrito a minha vida.


Mas eu fui embora, e a verdade é que peguei tantos caminhos não previstos que não sei mais qual merece ser citado como uma experiência especial. Descobri que nem me lembro de alguns nomes, e que isso faz de mim alguém bem diferente do que eu imaginava no início dessa jornada. E muito distante do que desenhei para os meus 28 anos. Talvez eu precise desenhar um novo caminho com pressa, ou aprender a lidar com a possibilidade de nunca chegar ao meu sonho, afinal.

Enfim, teve aquele cara que já começou mentindo. Mas que, então, tentou se corrigir e eu acabei ficando pra entender melhor. Ele parecia uma pessoa bem bacana por trás do personagem que havia criado, mas ele sabia atuar muito bem. E incorporou tanto o personagem, que passei a não diferenciar quando era ele e quando era quem ele queria ser.

E pra mim já basta eu existir nessa dualidade.


Então veio você. O cara por quem e para quem eu tenho escrito com essa frequência absurda. O cara que respondeu à minha pergunta zoada e rebateu com outra de igual cunho. Eu ri demais naquele momento. Foi a melhor "primeira conversa" que eu tive em dez anos, e aquela também deixou marcas indeléveis. Você me tirou da minha zona de conforto, e é por isso que eu faço questão de guardar todas as impressões que ficaram. Não quero esquecer, porque não quero mais aquela monotonia de ter sempre as mesmas conversas.

Só estou lutando para não criar outro padrão inatingível. Pois nenhum outro cara vai ser você, e a memória é coisa cruel. Ela grava o que é bom, porque de dor já basta cada dia que a gente vive. Mas vai passar, todos os caras anteriores passaram. Só precisa chegar a hora certa para isso.

"Todos as horas ferem. A última mata."


Esse ano eu vou focar em ser menos quem eu fui, e bem mais em quem eu posso ser. Utilizar a sua dica e focar no campo profissional (espero que ele foque em mim também). Porque nada em ninguém pode me fazer mais feliz do que eu mesma.

"I've got so much love
Got so much patience
I've learned from the pain
I turned out amazing
Say I've loved and I've lost
But that's not what I see
'Cause look what I've found
Ain't no need for searching"

E o que eu escrevo sobre você fala muito mais sobre mim.






"Please, don't see
Just a girl caught up in dreams and fantasies
Please, see me
Reaching out for someone I can't see"

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Estrela Vespertina

Você disse que a decisão de nos tornarmos amigos era minha. Não é. À partir do momento em que te exclui de todas as minhas listas, tudo se tornou só seu. Eu não tenho mais direito nenhum de te perguntar como você está, ou de me importar com o rumo que sua vida vai tomar. E que eu espero que seja o que está esperando. Buscando.

Também não tenho mais orgulho e amor próprio, aparentemente. Do contrário, encerraria essa série de postagens - você já deve ter encerrado. Escreveria algo vendável - vai que eu consigo, afinal, tomar um novo rumo na vida. Ou simplesmente deixaria como rascunhos; não seria o primeiro texto sobre você que eu deixo só pra mim.

Mas eu acho que quero que leia. Não que eu acredite que ainda possa haver algo entre nós, só porque eu sinto muito que tenha tomado essa proporção. Porque eu não menti quando disse que foi a melhor pessoa que eu conheci em muito tempo.

"Aléjate de mi, escapa, vete ya no debo verte
Entiende que aunque pida que te vayas no quiero perderte"

Seu patrono é um cachorro, e eu amei isso em você. Lealdade. A característica que eu mais prezo em alguém, talvez pela minha dificuldade em confiar. Algo que você provavelmente não percebeu quando me trouxe em casa no primeiro dia. Eu tive dois segundos pra decidir, e a verdade é que eu teria ido com você para qualquer lugar. Dizem que o cachorro também está associado a perdão. Espero que não te incomode que eu continue escrevendo. Que perdoe este texto quando eu disse que não haveria mais.

Mas eu sou javali; a natureza agressiva, feroz e destruidora. Uma força capaz de criar e tirar vida. Na cultura mexicana, os cães guiam os espíritos para o mundo dos mortos - abrem o caminho. E eu queria que houvesse um modo de você me ajudar a criar um caminho de volta pra sua vida. Da forma que quisesse. Mas entendo que não o faça. Se estivéssemos em posições contrárias, eu também não o faria.

Eu provavelmente me sentiria incomodada. Assustada. Eu ia querer ainda mais distância. Só que ouvi uma série de músicas "para pensar" o dia inteiro, e talvez este texto me ajude a decidir qual delas vou adotar como o lema de vida ("Kid Abelha" só vai voltar a servir quando eu seguir em frente).

"Eu podia ser como você
Com todo seu carisma que cativa
Eu podia ser igual você
Mas a minha latência é tão nociva"

Normalmente sou eu quem vai embora. Às vezes por medo de que a pessoa vá, a maioria por medo de que não vá e que em algum momento em precise lidar com confiança, amor e todos os sentimentos que só me soam familiares na teoria. Escrever sobre amor sempre foi minha forma de tentar criar algo que ficasse, porque eu sempre fui efêmera demais. Porque coisas boas não acontecem aos montes nessa minha vida pacata.

E, quando acontecem, machucam. "A obsessão me dói, faz com que eu me exceda. Você é uma pessoa boa, essa é só minha defesa." E eu espero que desta vez seja a última. Mas eu espero saber de você. Nem que seja por uma foto no perfil de uma outra pessoa, pra eu saber que você está bem. Você merece conquistar o mundo. Rodar o mundo. Conhecer as culturas, os sabores. Conhecer a pessoa maravilhosa que você é.

Você disse que eu era uma luz. Vou tentar me iluminar, dissipar esse medo, essa escuridão. 

"And he see the universe when I'm in company
It's all in me"

Eu respeito a sua decisão.
Sua ausência.
Seu silêncio.
Seu tempo.
Sonhos.
Você.


"Te guardo solto pra se aventurar
É tão bonito te espiar viver
Se encontra, se perde, se vê
Mas volta pra se dividir"

sábado, 5 de janeiro de 2019

"Deixei no ar a porta aberta..."

Não sei se virá aqui hoje e lerá este texto também. Talvez eu queira que faça isso, e é meio hipócrita da minha parte. Talvez eu ache que algo faltou ser dito, ou que foi dito do modo errado - eu me arrependo da última mensagem. Naquela série, disseram que "nada de bom acontece depois das duas da manhã", mas meu fuso horário sempre foi diferente e as coisas desandam bem mais cedo.

Mas a verdade é que nem assim eu acho justo culpar o tempo. Eu estava com raiva, e ela funciona como um estopim. Eu quis falar aquilo, eu pensei antes de escrever. E mandei torcendo para estar errada, mesmo que tenha camuflado atrás de um "está tudo bem". Você sabe que não está. Ou deveria saber.

"Eu que não bebo pedi um conhaque para enfrentar o inverno
Que entra pela porta que você deixou aberta ao sair"


E eu não sei em que momento achamos justo utilizar as frases de uma banda para esconder as nossas. Quando precisei remeter a você uma música que eu adoro e que agora vai estar interligada à você em minha memória. Também não sei o que poderíamos ter feito para evitar que chegasse a este ponto.

Eu não deveria ter escrito aquele(s) texto(s)? Não deveria ter utilizado a minha única forma de tentar expulsar as palavras que ficaram presas na garganta e que eu não conseguiria falar? Usar uma série de frases bem escritas que me lembrariam depois que eu o conheci, e todos os porquês de ainda assim não saber quem você é?

"Toda noite de insônia eu penso em te escrever
Pra dizer que teu silêncio me agride
E não me agrada ser um calendário do ano passado"


Eu escrevi sobre você. E, ainda que mais ninguém além de nós saibamos isso, eu não perguntei o que você pensava a respeito. Escrevi, acrescentei aquela música que é só sua, e esperei que lesse. É ridículo não esperar que falasse algo a respeito - mas ninguém nunca falou. E eu não sei realmente o que se passou pela sua cabeça ao ler. Acho que ao escrever, eu não penso realmente nisso. Sempre achei que escrevia só pra mim. Porque sempre achei que só importava para mim.

E eu não estou tentando me fazer importante para você com qualquer uma dessas afirmações. Não estou pedindo que pense em mim como um conjunto raro de boas qualidades, porque ler qualquer coisa similar foi o que mais me incomodou. Eu não queria ler que apareci na hora certa para te preparar para a pessoa certa. Ninguém quer ser apenas um caminho que leva ao destino final. Eu preferia não ser absolutamente nada.

"Ontem à noite, a noite 'tava fria
Tudo queimava, nada aquecia
Ele apareceu, parecia tão sozinho
Parecia que era minha aquela solidão"


Eu vou tentar encerrar tudo agora. Não escrever mais sobre alguém que não virá, ou que eu nem sei se entenderá porque eu quis que viesse. Vou encerrar antes de te mandar minha música favorita e me arrepender de tê-la ligado a alguém que não a merecia. Mas esse erro assim, tão vulgar, nunca foi meu. E eu vou ciente disso.

Eu dei o meu melhor. Não foi o suficiente. Foi pouco demais, mas era tudo o que eu podia fazer. Agora vou ficar aqui, do meu lado dessa porta, fingindo que desgosto tão facilmente quanto gosto de alguém. Porque eu sei que não há volta e, enquanto tentava nos convencer do contrário, eu tive medo de que ficasse só porque eu pedia. Metade de você realmente é pouco para o inteiro que eu sou. Mas, iguais a você, não haverá um monte.

"Um dia desses
Num desses encontros casuais
Talvez a gente se encontre
Talvez a gente encontre explicação"


sexta-feira, 4 de janeiro de 2019

O Ficar e o Ir da Gente

"Certas histórias não param de acontecer em nós até o fim da vida."
- Chico Buarque

Este texto é diferente de todos os outros que escrevi para você. É um agradecimento por tê-lo sempre por perto, como uma das constantes da equação que chamo de vida. Porque eu já neguei, já te pedi pra ir, já fui bem dura nos meus comentários. Mas você nunca vai realmente.

E você, que já chamei "ventania", foi se tornando "calmaria" na tempestade dos meus sentimentos.


Ontem não foi um dia legal pra mim, foi um pot-pourri fadado a me fardar de clichês. Foi uma mistura de sensações, de dores que já experimentei antes, de sentimentos que fingi nunca ter sentido. Foi um final intenso para algo que não foi tão intenso assim - mas você sabe que "intensidade" é meu nome do meio.

Ontem eu senti demais o que não havia sentido algum em sentir. Mas, como na música que é quase meu lema de vida, "já vi o fim do mundo algumas vezes, e na manhã seguinte estava tudo bem". Este texto é minha forma de te agradecer por ser minha "manhã seguinte" todas as vezes. Porque você é a conversa que eu quero ter para me sentir melhor.

E eu sinto que já fugi vezes demais.


A verdade é que, quando se foi, eu senti que deveria ter ficado. Que aquele não podia ser um ponto final, então fiz reticências a partir dele. Porque eu ainda quero seu sorriso de algum modo, nem que seja pra lavar minhas preocupações. Porque eu quero aquele emoji que, pra mim, tem um significado completamente contrário ao seu. Quero seus trocadilhos e piadas de duplo sentido que me fazem mais feliz.

Você diz que não me entende (e eu te entendo, afinal, eu também não me entendo), mas o que me importa é que você me conhece melhor. E que conhece o pior de mim e ainda assim fica. A gente não precisa se entender, só aceitar a confusão que nos colocou diante um do outro e ficar se olhando até descobrir as marcas que ficaram em nós. Minha marca debaixo do olho é sua desde aquela quarta-feira em que a reparou.

E eu prefiro acreditar que algo em você seja meu também.


Ontem eu abri minha vida pra você novamente. Sem hostilidade ou pitada de ódio (por isso, nem sei se este texto funcionou desta vez); só o carinho que te dediquei integralmente outrora. Porque eu pensei demais naquele discurso fajuto de "hora errada", e foi em você que eu pensei. E tudo bem se a tal "hora certa" não vier. Eu não sei exatamente pra quê - de qual modo -, mas sei que você é uma/a pessoa certa. E não estou disposta a deixar minha vida passar sem descobrir.

Então só vem e segura a minha mão.

Me mostra que não estou sozinha.



quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Realidade.

Muita coisa ficou por ser dita. Havia muito que eu queria saber como escrever no meio daquelas vírgulas, daquela urgência em forma de discurso. Os motivos para que ficasse, para que estivéssemos no tempo certo. Para te fazer acreditar que eu posso ser a pessoa certa.

Mas se você tem certeza, então não sou. E não é culpa de ninguém, muito menos "do momento".


Porque, se quiser colocar isso tudo numa questão de hora, eu tenho mil motivos para lhe dar a mesma desculpa: eu queria ter te conhecido em outro momento. Queria ter te conhecido aos quinze anos, antes de amar alguém pela primeira vez e de ter me coberto por todas as cicatrizes de uma desilusão. Queria ter te conhecido com uma situação financeira e emocional melhor - com um emprego e um lugar para chamar de meu.

Mas amor, paixão ou [insira sua palavra favorita aqui] não aparece quando a gente quer, espera ou se julga melhor preparado. Faz sua própria hora, surge num olhar, num sorriso e fica. Vai arrumando espaço em cada brecha, empurrando as coisas menos importantes e se moldando na nossa vida; esperando que façamos o mesmo.

E é claro que você não sabe - não deu tempo de saber -, mas eu sempre fui do tipo que impediu que saísse do controle. Que manteve enquanto havia algo bonito a ser escrito, enquanto estava ao alcance das mãos, quando dava pra saber do começo e do fim. Mas eu te deixei entrar.

Porque, se meu medo fosse embora, deixava o espaço exato pra você.


O problema é que, ao longo dos dias, meu pensamento foi se tornando mais e mais seu, e meu medo teve medo de não ser mais o dono de mim. Foi saindo aos poucos, tentando ser mais visível, foi passando para quem estava mais próximo de mim, como se dissesse: "é seu dever temer pelo que pode acontecer com ela".

E essa seria a reação natural independente de quem fosse. A ideia de me ver fugir da minha zona de conforto, com planos que excluíam outras pessoas, dá um pouco de medo. Mas essa briga eu só comprei porque era você. E meu medo era todo dela.

Ainda é, e o espaço que deveria ser todo seu está vazio.


E eu não te culpo também. Não sei o que precisaria se moldar para que eu coubesse na sua vida e no seu coração. Não sei se você parou para pensar nisso, se fez como eu e ficou medindo os prós e os contras. Se algo meu ficou na sua memória o suficiente pra te fazer pensar em mim no meio da sua tarde cheia. Se você quis, mesmo que só um pouquinho, que eu te pedisse pra ficar.

Porque eu quero que fique. Mais do que gostaria de admitir, bem mais do que vou te falar diretamente. De uma forma que nunca vou deixar transparecer. Porque eu sei que vai embora mesmo assim. E negação é a primeira fase do luto.

O ano passado foi errado em todos os momentos. Eu deixei passar todas as oportunidades, mesmo as mais difíceis de deixar passar; e eu não tive controle sobre nenhuma delas. Eu busquei meus erros, mas não foi questão de um erro meu. Simplesmente foram as oportunidades erradas. Você foi a única coisa que eu achei que fosse certa. E certamente não foi.

Te conhecer me fez ganhar o dia. O mês. O ano.


Te conhecer me fez ganhar esperança. Renovar meus sonhos já esquecidos.

Por duas semanas você foi o meu sonho.

Minhas lágrimas por duas horas.

E um estranho pelo resto da vida.

"Faz de conta..."

"Onde não puderes amar, não te demores." - Eleanora Duse
Foi a primeira frase do dia, e certamente a que eu precisava ler. De certa forma, para adaptar: "onde não puderes ser amada, não te demores"; porque amor não é algo que falte em mim.

A verdade é que, aparentemente, o ano que passou não deixou nada. Nem o que surgiu bem no finalzinho e que eu quis que ficasse. Não há onde me apegar, eu fui lançada sozinha. E a verdade é que eu detesto me sentir assim.


Naquela brincadeira de perguntas aleatórias, uma me persegue agora: "você já se apaixonou à primeira vista?". Para falar dela, é necessário usar outra daquelas respostas: "me expresso melhor escrevendo". E, agora que você se foi, tudo bem se ler o que escrevo sobre e para você; não há mais o perigo de te assustar. 

Eu só me apaixono de primeira. Vista, conversa, beijo ou, às vezes - bem mais raramente -, à partir da soma de tudo. Você foi a junção de tudo isso. Foi o sorriso espontâneo na foto (destoando da seriedade de todas as outras), a cabeça boa com uma conversa ainda melhor, e o primeiro beijo na livraria. Foi a liberdade de conversar sobre qualquer coisa, as mãos entrelaçadas - e que eu nunca fui de gostar - e o momento em que aumentou o volume para eu curtir a música de "Dirty Dancing".

Gostar de você foi fácil demais. Tanto, que esqueci de tentar evitar.


Agora, como na canção que me inspirou erroneamente ainda na infância, "você vai embora e eu não sei o que fazer. Ninguém me explicou na escola; ninguém vai me responder". Porque a verdade é que, até então, eu só me identificava com o trecho: "é tanto medo de sofrimento, que eu sofro só de pensar". E estou perdida.

E este texto não é exatamente para pedir ajuda a alguém que não vai me estender a mão. Não sei qual o objetivo dele, se é que há algum. Talvez seja só o desabafo que eu queria e não posso fazer. Nunca posso. Não há tempo. Nunca houve.

E, sobre isso, ficou também uma parte do jogo: "Você conta aos seus amigos sobre um relacionamento?" / "Não é da conta deles.". Não contar sempre foi meu modo de fuga; não precisar dizer que acabou o que nem começou. Não precisar falar sobre meus sentimentos confusos. 

Mas você fugiu da regra. Todo mundo soube.

E agora eu não quero que ninguém pergunte.


Minha mãe perguntou e eu desconversei - por isso ela estava surtando. Por isso eu pedi desculpas.
Minhas tias perguntaram. E entenderam que não era realmente da conta delas.
Minha melhor amiga perguntou. E pra ela eu disse o que me arrependo de ter dito: disse que me sentia melhor do que era seguro. Que não me lembrava da última vez que me senti assim. Disse o que não dá mais pra corrigir e fingir que nunca foi dito.
E então ela contou para a minha tia. E então a minha tia formou uma opinião sobre você.
E agora eu estou aqui tentando desconstruir a minha própria opinião.


Claro que eu vou seguir minha vida normalmente, tal qual era antes de você. Eu vivia bem, do meu jeitinho meio chato e entediante - mas meu. E vou continuar vivendo do mesmo modo. Eu só não queria. Eu só não entendo. Porque foi legal para mim - foi o que eu nunca senti quando alguém quis que eu sentisse.

Vou começar o ano da mesma maneira que todos os anos antes de você, e como provavelmente vou começar todos os anos depois. Fingindo que é igual, embora haja uma sensação ruim de ruptura; de uma rachadura a mais na parede que esconde meus sentimentos. Hoje é só mais um dia de mais um ano, da mesma vida que sempre vivi. Vai ficar tudo bem.

E, se não ficar, eu faço de conta.



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Eu gosto de você.

Tchau.