Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sexta-feira, 16 de novembro de 2012

ɐɔıʇuâɯoɹ ɐıɯouɐ


Tudo que vai ser escrito aqui hoje já foi dito antes. Muitas vezes. Vou bater na mesma tecla que bato nesses anos todos. Talvez seja sobre a única coisa que eu consiga falar. Ou saiba falar. Na verdade, eu até recomendo que feche esta página e vá fazer algo mais construtivo. Eu vou escrever tudo que me fere, que me estraçalha. Mas já escrevi tudo isso antes.

E vou escrever novamente.


Eu só estou cansada. De tudo. De mim. De não conseguir apagar nem um pouquinho dele. De ainda me lembrar de cada conversa, cada palavra e sorriso que ele me deu; cada mínimo detalhe. De procurar esses detalhes dele nos outros. Eu já estou cansada de procurar um futuro que ficou no passado.

Mas nenhum cansaço parece adiantar. Nenhuma palavra nova, nenhum rosto desconhecido, nenhuma música que eu sei que ele odiaria. Absolutamente nada apagou minha memória. Ele continuou longe, e cada dia mais. A distância aumentou psicologicamente. A loucura também. O vazio foi dando lugar à um sentimento completamente diferente e que eu não sei nomear. O meu pavor foi se tornando uma espécia branda de obsessão, que me impedia de deixar de lado. E eu fui nutrindo as palavras, nutrindo o que quer que fosse que estivesse vivendo nesse meu vazio.

Eu só não podia deixar que ele se fosse de dentro de mim. Do único lugar onde ele ainda é aquele menino. Porque dói ver no que ele tem se transformado. Dói nunca mais tê-lo visto sorrir. E me perguntar se ele também deixou de sonhar.


É que durante esse tempo eu fui vivendo sozinha parte do que a gente tinha brincado viver. Aquelas coisas idiotas. E acabei abandonando planos que tínhamos traçado juntos. Eu me pus na estaca zero e vi que não tinha para onde fugir. Traçar novos planos só me fez querer mais e mais. Porque ainda que eu trilhasse mil caminhos diferentes, ele estaria no final de cada um deles.

"Você não é de onde eu vim. Você é para onde eu vou."


Eu me pergunto todos os dias, cogito todos os "e se..." que poderia - ou não - cogitar. Porque eu sei que ainda que ele suma (como eu tanto sonhei), eu sempre vou encontrá-lo. Porque cheguei ao ponto crítico em que seria muito mais fácil perder o resto desprezível de mim que existe aqui, neste corpo; do que esquecer o "todo" que ele foi, e que eu mantenho vivo.

Irônico é saber que tem gente que vai ler e achar lindo (né, Clara)? É, pode ser bonito mesmo, a dor é em mim. Ninguém sente a "beleza" do outro. Não... Não estou culpando ninguém, também não sinto o que sentem. É normal. Ridículo, na verdade. Mas perfeitamente comum.


Tão ridículo e tão comum quanto as conclusões - nada conclusivas - a que cheguei. Se ele me perguntasse, eu lhe diria que não... ele não é minha cicatriz. Tão cedo ele não será cicatriz. Talvez nunca venha a ser. Ele é essa ferida que eu mantenho aberta. Ele é a doença que, por não conhecer, não posso tratar de forma eficaz. Posso tratar os sintomas, com os mais variados remédios, elixires, pomadas. Mas tudo volta bem pior depois.

Ainda que eu pudesse apagar minha memória, eu me apaixonaria toda vez que cruzasse meus olhos com os dele.