Read around the world / Lea todo el mundo...

MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

terça-feira, 2 de outubro de 2018

𝑰𝒎𝒂𝒕𝒖𝒓𝒐

Este texto é diferente de todos os outros. É um texto que lhe remeto, em que quase lhe dou nome. Seria uma carta, se eu ainda tivesse dezesseis anos e paixão por longas cartas escritas à mão e levemente perfumadas. Mas, se eu o fizesse, nada disso seria seu. Nada nosso foi assim real, palpável e duradouro como uma carta. Então é só um texto num blog fantasma que funciona como uma espécie estranha de diário há onze anos. Algo que vai ficar esquecido em alguns meses, deixado lá atrás junto de tantas outras falas. Vai ficar como mais um ponto nestas reticências que eu chamo de vida.

E eu espero que você também fique, enfim, para trás. Que esta coisa a que me apego há oito anos vá embora e fique só como algo que compôs a minha história. Porque eu já estou cansada de sempre acreditar que há alguma reciprocidade. Porque todas as vezes em que você me estendeu a mão, não havia nada.

E eu teimei em procurar.


À partir de agora, eu não me importo mais com a sua opinião. Se acha que eu vou embora muito facilmente, ou se temos algo (sabe-se lá onde) em comum. Não vou mais pedir atenção nem dedicar a minha atenção a você. Já perdi tempo demais, chances demais. E eu nunca recebi nada em troca. E também me convenci de que não esperava nada.

Mentira. Cresci ouvindo que "todo mundo espera alguma coisa" e não importa se não é sábado à noite. A gente sempre espera; todo meu respeito a quem realmente acredita que não. Eu esperava aquele cara de camiseta laranja (e você me disse que não restou nada). Esperava reencontrar o rapaz para quem dediquei laranja, amarelo e todas as cores com as quais me colori.

Alguém com quem achava ter criado algum elo - pela dificuldade de simplesmente ir. E, se eu procurava um erro meu nesta questão, eis aqui.


A verdade é que depois de um tempo eu me convenci que gostava do caos que me trazia. Mas se for para eu colocar na balança, você sempre me fez mais mal do que bem. E a gente não funcionou de nenhuma forma. (Ironicamente, este texto todinho para você também não parece funcionar. E isso faz ainda mais com que ele seja seu.)

Eu queria dizer seu nome. Escrever. Para não deixar qualquer dúvida; para me obrigar a lhe mandar este link. Para alimentar minha esperança de que leia e nunca responda. Mas eu nunca te dei nenhum apelido para poder camuflar e ainda assim para que se reconheça. E acho improvável que se lembre que um dia te mandei uma música.

Que, um dia, quis te mandar um poema.


Por muito tempo eu te achei imaturo. Também acho que agi assim - por tantas vezes, que comecei a acreditar que isso não era completamente ruim. Mas, no final, percebi que esta não é uma palavra para descrever nós dois, individualmente. Mas ainda é a palavra que eu vou guardar ao pensar em você.

Porque eu sei que vou pensar. Mas, à partir de agora, silenciosamente.

. . . . . .

Esta foi a única maneira que encontrei pra te dizer "adeus". Público - ainda que impopular -, que é pra tentar me convencer a realmente não voltar a te dizer "olá". E, talvez, na esperança de que você procure por sinais de que eu te procurei.

Eu espero que você ainda se lembre de mim.

sábado, 12 de maio de 2018

Ordinary Things

Eu te conheci aos 17 anos. 

Me apaixonei por você aos 17 anos. Você não estava interessado, e assim a gente acabou ficando amigo. Do nosso jeito; do jeito de quem raramente se via (e eu estou sendo generosa com esse "raramente"). Mas que, quando conversava, parecia que tinha se conhecido a vida inteira. 

Você foi quando eu decidi comemorar meu aniversário de 18 anos no shopping. Não fomos quando, naquele mesmo mês, meu avô - e uma das pessoas que mais amei na vida - se foi na véspera do show do Skank (nossos ingressos estão guardados, até hoje, intactos, como uma recordação de que a maior perda que sofri não deixou nenhuma prova física). 

E acho que também perdi um pouco das minhas esperanças em relação a você naquele momento.


Só que algo ficou latente. 

Ardente. E eu me prometi não desperdiçar a chance se um dia a tivesse. Mas então o mundo deu mais uma de suas voltas, em dezembro de 2012, quando eu passei para a segunda etapa do vestibular. Você brincou que eu só estava esperando você sair para eu ingressar na federal. (Sempre tinha parecido que nós dois não cabíamos no mesmo lugar). E a gente acabou brincando sobre tanta coisa, tanta besteira que, quando vi, já tínhamos extrapolado algum limite bem tênue e mudado nossos status do Facebook para "noivos". E teve tanta gente que acreditou, que parte de mim também achou que era saudável voltar a acreditar.

Foi quando vi que aquela questão sobre a tal chance nunca foi um "e se" acontecesse, mas "quando" acontecesse. 

Demorou quase um ano.


A gente ficou bem próximo naquele ano, com umas conversas bem mais diretas, com umas visitas ocasionais na faculdade e quando a gente enfim se beijou, eu estava matando aula. Mas eu sabia que estava no lugar exato. Com você era onde eu queria estar. 

Eu, como sempre, cumpri minha promessa: não estraguei aquela chance, mesmo não tendo certeza de que devíamos continuar. Era um segredo nosso, e ali devia permanecer. Mas o problema começou quando você disse que eu não devia esconder. Foi então que eu passei a confiar em você como o cara com quem eu estava, e não mais como o amigo que eu conhecia há três anos. 

Foi aí que você estragou tudo. O que eu achava que era tudo.


Na verdade, quando aconteceu eu fiquei meio pasma. Acreditei no que me dizia, mesmo parecendo tão falso, porque era mais fácil do que acreditar que você era capaz de me subestimar tanto e ser tão pouco honesto comigo. Depois eu deixei no passado, junto com tudo que eu pensava saber sobre você. Eu o mandei embora da minha vida e fechei aquela porta. 

Você sempre encontrou uma janela para entrar de novo. 

E isso foi tomando tamanha dimensão na minha vida que eu passei a deixar a janela aberta para que você viesse e, às vezes, até sinalizei para que encontrasse o caminho mais rápido. Mas eu nunca mais quis te ver pessoalmente. E sempre que isso aconteceu - assim, sem premeditação (afinal, Contagem é um ovo) -, eu fingi que não vi.

Mas a verdade é que eu nunca te perdi de vista, nem me escondi de você. 


Ao longo destes cinco anos, eu sempre me mantive e ainda me mantenho à vista, ainda procuro por você em todos os lugares e espero ansiosamente por tocar a sua pele; por sentir seu sorriso novamente no meu rosto. 

Há muito tempo eu vivo com a sensação de que estou em busca de algo que se perdeu.

Só agora percebi que era você.


ilustrações: Paulo Mariotti

sábado, 3 de fevereiro de 2018

мηємσ̂ηιcα

Eu provavelmente não devia estar fazendo isso. Mas, sabe aquele discurso que, por vezes, eu me pego ensaiando? Estou com medo de que você nunca chegue a ouvi-lo. Porque, pensando agora, não acho que um dia você - ou qualquer outra pessoa - vá me perguntar.

Então esse texto é a resposta àquela pergunta que eu queria que você me fizesse. A pergunta que eu gostaria de te fazer, mas que não tenho coragem porque parte de mim sabe a resposta.

Desde o dia em que eu te conheci, não reconheço mais a sensação de ter um pensamento que seja só meu. Porque, desde aquele dia, desconheço a capacidade de passar um único dia sem pensar em você.

Porque nestes seis meses e dezesseis dias, você foi meu primeiro pensamento pela manhã, e minha última lembrança antes de fechar os olhos. E eu não tenho orgulho nenhum disso.

Da mesma forma que me envergonha um pouco assumir que cada texto que escrevi, cada música que compartilhei, foram para você. Foram as formas que eu consegui encontrar para, discretamente e quase sem querer, tentar te dizer o que estava preso na garganta.

Cada passo, mesmo que não parecesse, foi na tentativa (vã) de me encontrar mais perto. Mas, ironicamente, "ao lado ainda é muito mais longe que qualquer lugar"; exatamente como na música que compartilhei hoje mais cedo.

E eu queria poder dizer que este é meu último passo: a confissão. Mas acho pouco provável. Porque eu não acho que vá ler. Porque acho que, mesmo se o fizer, vai fingir que não é sobre você. Porque isso te obrigaria a aceitar que as coisas não podem ser como eram antes. Porque provavelmente você acabaria percebendo que todo esse sentimento foi escondido no lugar menos provável que alguém procurasse: à mostra.

Então, tudo bem se ler e resolver ignorar. Por um tempo, vou continuar escrevendo. Talvez eu não publique tudo, mas é que escrever é a única maneira que encontrei para desabafar; porque guardar as coisas que parecem nos preencher completamente machuca. Este é o meu reservatório de memórias e a minha penseira.

Vá, que eu vou te guardar pra sempre com carinho.


quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Cίгισ

Mais cedo, eu comecei a escrever. Escrever algo que você jamais leria. Sobre um sentimento que você não saberia. Mais cedo eu comecei a escrever o que eu sinto durante o dia.

Mas quando as luzes se apagam, parece que mais alguma coisa se apaga em mim. Segurança, esperança... eu nem sei. Mas, no escuro, as coisas parecem mais claras. E algumas ideias do rascunho ignorado permanecem verdade. Pelo menos pra mim.

É mais do que "gostar".


Só que, ao contrário do que eu acreditava, o sentimento só não me basta. Não parece real assim, guardado. Amor me parece algo que se doa, não algo que se acumula. Então eu talvez esteja errada chamando deste modo.

Talvez seja gratidão; porque agora eu tenho certeza de que foi diferente. Pra mim, você nunca foi o segundo, nunca esteve sob a sombra de alguém que eu pensei ter conhecido.

E acho que, por não ter compreendido de imediato, você me conheceu.


Talvez seja medo, uma sensação sufocante de nunca mais me sentir assim: confortável comigo. Ou talvez seja comodidade, a calma desse seu sorriso; o seu abraço que parece ter a dose certa de calor.

E, talvez (só talvez) seja amor. Sentido da forma errada, incompleto. Talvez seja amor que se traveste de amizade, mas que permanece latente. Mas eu torço para que não seja.

Porque eu sei o que o seu silêncio vai me dizer novamente.


À noite, o sentimento - seja ele qual for - se converte em mais do que palavras: verte lágrimas. E uma confiança estranha em algo que não sei identificar.

Mas não dói. É só algo que parece necessário, natural. É só a saudade que, há meses, eu já sabia que ia sentir. Todos os dias.

É só a indiferença que eu vou ter que voltar a fingir.


Mas eu acredito em você. Eu confio que, em algum momento, as coisas vão mudar. Eu sinto que a gente ainda vai se ver em outro lugar.

Eu quero, um dia, conseguir ter a conversa completamente sincera que, por vezes, me peguei ensaiando. Mas talvez seja só algo em que eu precise acreditar.

Porque você não sabe, mas mudou outra coisa em mim. Você me fez ter fé.