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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

domingo, 29 de outubro de 2017

Nα̃σ

Várias vezes nestes últimos dias eu me peguei pensando em tudo o que há e que não pode ser dito ou descrito. Percebi que escrever apenas sobre o que pode ser contado através de palavras era muito vago para exemplificar este misto de emoções que tomam conta de mim. Porque eu sempre quero acreditar que desta vez é diferente.

Invariavelmente, escrever você tão explicitamente neste texto torna-o um clichê como todos os outros. Torna você uma soma do que a gente quer que funcione, o meu "Trem Bala", meu "Stranger Things" - com a diferença de que, em relação a você, eu realmente gosto do produto final.

Todavia, a dúvida ainda é constante e me motiva a voltar a escrever. Bilhetes, cartas, somas e notas que ficarão guardadas, arquivadas como um relato de tudo o que eu senti em vão. Mensagens que você não lerá e que, quiçá, eu venha a enviar a um desconhecido através de uma garrafa. A certeza de que o sentimento é universal me inspira a amontoar essas linhas mal traçadas, com a sensação de que - mesmo sem sentido - quaisquer pessoas que as lerem as sentirão.

Olho ao redor. Convido-o a fazer o mesmo. As paredes, móveis e pessoas têm seus cheiros, texturas e sonhos. Cada um é um livro que espera sedento por alguém que o leia, e por mais que pensemos que a vida é um livro aberto, ainda existe um segredo a ser descoberto. Eu queria saber qual é o seu; mas ainda não tenho coragem de deixar que você me descubra.

Raras vezes eu me expus tanto através do não-dito. Sempre me senti mais segura escrevendo, por isso escolhi essa forma para me declarar tantas vezes. Mas não posso escrever uma frase simples num papelzinho para lhe dar. Faltam palavras, mesmo que eu as escolha cuidadosamente. Você é um sentimento raro que ainda não dei nome.


Hoje estou aqui, com um bocado de medo que me impede de seguir em frente. Que me pede para me esconder e encolher num canto qualquer de um refúgio comum. E eu fico, como quem aceita uma proposta suja, com um pouco de vergonha de admitir. Fico como quem espera ajuda. E escrevo como quem espera você.

Uma vez ouvi uma música que dizia: "Ele é um pouco de mentiras inteiras, vazias, mas quando ditas se transformam em poesias.", e foi como ter você descrito ali, em palavras que eu jamais teria usado. Foi como ter exposto em versos tudo o que colori sobre você e que talvez me impeçam de distinguir o que há de verdade sobre quem é, e sobre tudo o que podemos ser.

Gosto da sensação, de qualquer modo. De fingir possibilidades dentro das improbabilidades. Gosto da sensação de intimidade, ainda que por vezes pareça forçada e às vezes pareça algo tão natural. Gosto da sensação de me sentir dopada, obcecada; como se sente em toda paixão. Sinto medo de que não passe logo. Sinto medo de deixar que passe sem deixar marcas.

O que eu digo faz algum sentido? Minhas frases lhe parecem críveis? (Porque eu me sinto incrível, se quer saber). Eu tento, mas não consigo imaginar você lendo uma coisa assim. Mas vejo claramente a cena de alguém que leia e entenda, e é por isso que escrevo. Você é um medo insano cujo nome quero gritar. Você é o barulho que vou reter. E silenciar.


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