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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

segunda-feira, 20 de novembro de 2017

Lebenslangerschicksalsschatz

Depois de tudo o que escrevi aqui ao longo dos anos, chega a ser vergonhoso falar que "desta vez o sentimento é diferente", porque a gente sempre acredita que é. Mas daqui, do topo do monte de minhas desilusões, chega a doer fisicamente admitir que nem me lembrava como é me sentir assim. Da última vez, eu tinha 15/16 anos e a vida inteira pra viver a filosofia de Tránsito Ariza:

"Aprovecha ahora que eres joven para sufrir todo lo que puedas, que estas cosas no duran toda la vida.";

no entanto, acreditava verdadeiramente que não tinha porque sofrer à partir de algo que, aparentemente, me fazia bem. Desta vez, não vejo motivos para amar algo que me faça sofrer. E ainda assim não consigo evitar.


Se isso era um teste, sinto que fracassei. Ter conseguido, com sucesso, fugir de todos os que chegaram com calma, pedindo licença foi fácil. Dizer "não" à quem me fazia uma pergunta era a resposta óbvia; a única que eu poderia imaginar. Mas expulsar alguém que entrou sem pedir (e provavelmente sem perceber) e que nem eu mesma notei a tempo é complicado. É como erva-daninha que aparece sabe-se lá de onde. É como algo que se torna parte de nós e vai ficando pela comodidade. Eu tenho medo de ter me acostumado.

E eu queria ser capaz de escrever este texto inteiro sem começar uma única frase com "ele" ou algo que o remeta; sem parecer uma personagem de um filme que ou fala com homens ou fala deles. Mas eu sou fruto do que acompanhei. Sou mulher que acreditou em príncipes encantados - e que depois se desencantou -; que se apaixonou por Mr. Darcy, e sonhou com um amor como o de Florentino e Fermina. Sou do tipo que chorou assistindo dorama, só por ver que o final feliz não estava óbvio. E do tipo que procurou o "guarda-chuva amarelo" acreditando que, depois dele, ainda haveria a "trompa francesa azul". 

Sou do tipo, agora, que olha pra ele e não vê nada.


E este é mais um fracasso: citá-lo depois de prometer não mais o fazer. Mas ele é o reflexo de todas as minhas promessas não cumpridas. É ter me apaixonado cega e inevitavelmente apesar do tanto que eu tentei evitar em todos os outros casos. É não conseguir ir embora, pela primeira vez. Ele é a vontade insana de chorar em dias alternados, e a dor excruciante diante da ausência. Ele é a soma das contradições.

Pela primeira vez em nove anos, deleguei a escolha a outra pessoa. Pedi para ele não sair da minha vida quando eu saísse por aquela porta. Fiquei, apesar da certeza do não. Acho que algo em mim ainda queria estar errada.  E era certo que seria um erro. E apesar de ter dito para mim que sim, eu não me arrependo. Só imploro que tenha sido a última vez; que eu aprenda a reforçar minhas defesas, porque eu descobri que não estava preparada para o inesperado.

Irônico, pois parece que esperei por isso a minha vida inteira.


Ele é Beinaheleidenschaftsgegenstand. E eu sou só o acúmulo dos "quase".

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