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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

quinta-feira, 12 de abril de 2012

εṡсαɾαṿεlhø

E maldita seja aquela tarde!



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Eu já não estava bem. Eu já não estava inteira. Eu vinha com um histórico de milhares de erros. De decepções. As coisas estavam erradas, e aquele não era o momento da escolha certa. Aquela decisão não devia ter sido tomada ali, num momento de tal fugacidade. 

Eu estava pronta para mais um capítulo desta história. Mais um capítulo comum e sem grandes mudanças. Mas então veio a reviravolta. O que chamariam de "clímax". O que eu chamaria de clímax. 

E todo clímax dá lugar à um desfecho. 

E maldita seja aquela manhã.



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Eu estava ansiosa. Nervosa. Tremia. Eu sabia que aquela decisão mudaria minha vida. Sabia que aquela manhã dividiria a minha história em "quem fui" e "quem serei". Mas eu não fazia idéia de quanto.

E nem era pela escolha em si, mas pelas pessoas que ela me traria. Pelos sorrisos que me proporcionariam. 

E então eu cheguei. Me pus diante daquela porta, decidida à entrar naquele novo mundo. E à correr os riscos que tivesse que correr.

Ele estava ali. Sentado. No centro daquele lugar vazio. Estava me olhando, como todo mundo faz quando vê algo que não conhece. Estava sozinho e tão tímido... E eu, terrivelmente constrangida por aquele olhar.

Sorte minha não saber ainda o quanto aqueles olhos ainda me manipulariam. O quanto eu seria escrava das perguntas que eles faziam; e sobretudo das questões que eles acendiam dentro de mim. Porque aquele olhar tinha - e ainda tem - o insano poder de me tirar o rumo, a razão... a sanidade.

E maldito seja aquele olhar de oceano!



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As coisas foram se ajustando, as perguntas foram sendo respondidas, o barco foi seguindo a rota. Navegando. Eu fui dançando conforme o ritmo da música - ou, às vezes, simplesmente como se ninguém estivesse vendo. Fui deixando as coisas fluirem naturalmente, à passos curtos. À pausas longas.

Fui deixando tudo de lado, simplesmente porque a idéia de ele me comandar era ruim. Simplesmente pelo fato de que não estava mais acostumada a estar nas mãos de alguém, totalmente. Fui fingindo que a tempestade enfim havia terminado, e cheguei à acreditar nessa mentira que moldei conforme minha vontade.

Fui inventando novos olhares cativantes e sorrisos mais abertos. 

E maldita seja aquela notória timidez!



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Eu errei mais e mais e mais. Fui escrevendo meu conto de falhas de uma forma ainda pior do que outrora, antes daquela tarde decisiva. Mas fui vivendo sem me importar com isso, porque acreditava que passaria. Mas ele ressurgiu. Tinha que fazer isso.

Ele enfim se mostrou meu tão sagrado amuleto, tal como um escaravelho para os antigos egípcios. Ele me salvou dessa minha morte interna, dessa minha inércia. Ele me acordou, e parecia mesmo que havia me protegido por todo aquele tempo. 

E maldito seja este amuleto!



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Mas, mais que tudo: bendito seja este escaravelho. Talvez, como na literatura, "O escaravelho do Diabo"; "O escaravelho de ouro"...

Bendito seja aquele olhar que me acende - por mais que isso seja deveras inapropriado. Bendita a sensação de "estar viva" que ele me proporciona... E bendita seja a eterna ressurreição que meu eu-interior só experimenta com ele. Porque ele me guia dentro desta escuridão aterrorizante de mim mesma. Ele me ilumina. Me ensina a navegar.

Por mais que, talvez, ele queira que eu me afogue. Sem mais. Sem salvação...






E bendita seja aquela tarde!


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