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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sexta-feira, 18 de março de 2016

𝓔𝓼𝓹𝓲𝓷𝓱𝓸

Não fale com estranhos...

Talvez eu não devesse vir aqui hoje e escrever qualquer coisa. Talvez eu devesse ter escrito ontem e aprendido com tudo que me doeu outrora. Talvez eu devesse deixar essas ideias amadurecerem e escrever amanhã. Talvez eu devesse dormir e esquecer.

Talvez eu devesse agir como uma adulta, quiçá pela primeira vez na vida ou em muito tempo. Talvez fosse mais sensato fingir que eu não tenho motivos para estar chateada comigo mesma. Que eu não tenho esperanças. Que eu posso falar que "tinha", no passado, como quem enfim encontra um caminho.

Eu podia vir aqui e falar que vai ficar tudo bem, mas sinto que estaria mentindo para mim mesma. E estaria mentindo muito mal. Porque nem sempre eu acredito que tudo possa ficar bem. Porque eu não posso voltar atrás e seguir reto por aquele corredor. Não posso fingir que não deixei de lado os conselhos que toda mãe dá aos seus filhos. 

Mas, se pudesse, eu voltaria.


Não estranhe.

As palavras não vão sair coerentes hoje. Meu texto não vai ser coeso. Nem há de ser meu. É dele e de todos os outros estranhos com os quais eu poderia ter puxado assunto. É de quem sentir que dá para salvar uma ou outra frase. Ou de quem puder acreditar que há algo passível de salvação em mim.

Esses parágrafos cegos e desconexos, incapazes de conversar entre si (como tampouco somos), são para quem também acreditou em algo muito além das expectativas. De quem quis fazer algo apesar de saber que era errado. Para alguém que, assim como eu, acreditou veemente que se não ferisse outra pessoa, não seria assim tão grave causar um dano a si próprio.

Esse texto é pra quem tem olhos cuja cor eu não consigo distinguir. Para alguém que consegue mesclar quente e frio sem parecer morno. Para alguém que talvez esteja ainda mais perdido do que eu. Se é que isso seja possível.

Cada uma destas linhas é para Le Petit Prince, para o aviador.


Sejamos estranhos.

Nesta madrugada, e só nela, vou tentar me esquecer de onde estou. Peço que não me recordem. Que não se recordem de mim. Porque eu preciso acreditar que o difícil não é esquecer; é lembrar. Nesta madrugada, e por todas as suas horas, vou tentar não ser feliz às três pelo que pode me ocorrer às quatro da tarde. Vou fingir que sou responsável por alguém, e que não tenho delegado responsabilidade demais a outro alguém.

Vou fingir que sou um rascunho e que posso apagar esses erros tão dolorosos da minha história. Só por este final de semana vou acreditar em finais, sem ligar muito se serão felizes para sempre. Vou tentar me forçar a crer que o livro que estava rabiscando numa folha qualquer não era um conto de fadas. Só ao longo dessa madrugada eu vou tentar apagar o "Prince" depois de "Le Petit".

E pelos próximos 15 minutos vou tentar apagar da memória a sensação incômoda que fica quando apenas esperamos o tempo passar. Sem nos dar conta de que nosso tempo está passando. De que se "nosso" envolvesse realmente um plural, esse relógio estaria estagnado.

Mas ele corre e não parece que um dia será capaz de me esperar.


Corpo estranho.

Daqui em diante, vou acreditar - ainda que esta seja a mentira sincera que eu procurasse - que enxergar logo no início todos os erros deste enredo ruim só pode me fazer bem. Que eu sou capaz de seguir adiante como se nunca tivesse sentado e esperado por alguma resposta ou sinal de algo em que eu própria não acredito.

Senta ao meu lado. Fica em silêncio. Dá aquele sorriso que espreme seus olhos e só me confunde mais. Ou se afasta, ri como um louco e nunca mais me dedica a sensação de ter te provocado um sorriso. Mas, por favor ou misericórdia, recoloca a redoma em torno de mim.

Esse excesso de oxigênio está me sufocando, e este vento está me ferindo. E agora eu não sei sequer se tenho como revidar.


Eu era rosa.
Mas me esqueci que rosas têm espinhos.


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