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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sábado, 21 de setembro de 2024

"Anéis do Poder " não é tão legal assim

Depois de dias com uma vontade imensa e um tanto quanto surreal de escrever aqui novamente, e depois de três anos completamente distante daqui, meu retorno não é tão triunfal assim. Eu me arriscaria a dizer que totalmente o contrário disso.

Eu continuo tendo o mesmo nome, mesmo telefone e mesmo endereço. Ainda assim, não sou a mesma pessoa que escreveu nesta página por anos a fio, apesar de a pessoa pela qual eu me motivo a escrever permanecer a mesma. Nos pensamentos, porque fisicamente ele se foi há muitos anos.

É que o gostar faz parte disso, aparentemente. De, quando dizemos que o amor foi embora, estarmos nos referindo sempre ao alvo deste amor, porque o sentimento em si é mais resistente. O sentimento é aquilo que, se não há espaço o suficiente pra ser sentido, aparece para te humilhar. É aquilo que te exige respostas a perguntas que você tem fingido que nunca fez e que ainda não sabe como responder. Por isso estou aqui agora, tentando conter o que eu sinto ou espalha-lo tanto por aí até que se perca.

Há cerca de dois meses tenho sido assombrada. Sonhos que me fazem perder um pouco o sono e a vontade de deitar na minha cama todas as noites. Uma obsessão que eu achava que já estava encerrada e que reapareceu para ver que eu estou mais próxima desse encerramento do que ela - aparentemente, veio de outra vida e ficará para a próxima. E, assim, tenho me questionado todos os dias sobre coisas que vão além da minha compreensão porque nunca me pertenceram. Venho ensaiando as respostas que ele nunca me deu.


Durante todos os anos em que escrevi aqui, o fiz com a certeza inocente de que o amor me traria respostas; e quando achei que ele enfim tinha chegado, me afastei. Hoje vejo que eu estava errada sobre quase tudo, desde o "timing". O amor chegou, o alvo desse amor foi embora, e eu continuei sofrendo como se nada tivesse mudado. Porque, de fato, nada mudou. O amor passou por mim como se não me enxergasse, e o que eu achei a vida inteira que seria o "ponto de chegada", se tornou apenas um novo "ponto de partida".

Agora, de onde estou neste exato momento, eu não enxergo muito além. Nem sobre o ponto do passado em que me perdi, nem o ponto do futuro em que voltarei a me encontrar. Só sigo com a esperança de que eu consiga me salvar desse tsunami de imensos "nada" ou dessa areia movediça que me suga sem que eu consiga segurar em um ponto firme. São muitos "pontos", mas eu sigo questionando a "vírgula".

Em que momento nós decidimos nos excluir das nossas vidas e ignorar a história que - apesar de curta e traçada meio a contragosto - existia inegavelmente? E, quando eu de fato ignorei tudo de nós para tentar seguir, por que você me assistiu à distância e invisível? Por que você não enxerga a injustiça contida em todo esse processo?

Você, naquela última conversa, disse que eu não era feliz. Disse que eu não me lembrava. Mas eu me lembro exatamente de tudo o que eu senti; você quem se esqueceu de lembrar o contexto inteiro. Você focou em si mesmo, e esqueceu que eu estava tentando recolher os cacos da minha vida completamente despedaçada. Que eu chorava todas as noites em que você não estava, até dormir, numa casa imersa em silêncios sombrios e escandalosos. Eu podia não esbanjar felicidade, mas é que - para mim - foi complicado demais equilibrar o meu vazio enquanto tentava te convencer de que valeria a pena quando eu voltasse a me inundar de vida.

As pessoas que eu mais tinha amado no mundo haviam ido embora, e eu acordava todos os dias com medo de que você também se fosse.

Mas acho que você teve ainda mais medo desse medo meu.


Então estou aqui, na frente do meu notebook - como não fazia há tempos -, olhando a primeira foto sua que eu amei, e a única foto nossa - que nos separou mais do que uniu -, lendo os protótipos bobos de uma conversa que você não sustentou. Lendo o que eu provavelmente ainda vou conversar sozinha, apesar de haver um sinal me confirmando que você recebeu a mensagem. Acreditando que não vai voltar a me bloquear, porque me fez essa promessa; e porque acredito que você goste da sensação de ser o único de nós capaz de cumpri-las.

E eu já pensei e repensei um bocado de vezes sobre tudo isso. Sobre o ego que eu te culpei de manter sempre tão inflado. Minha conclusão é de que não tenho mais tempo para ficar nessa disputa. Se for questão de ego, você venceu. Eu não ligo de parecer a mais fraca e a mais propensa a longas humilhações públicas. Não ligo de parecer que não consigo superar nada, nem de que possa se achar "o irresistível" e que eu esteja simplesmente alimentando algum complexo de superioridade. O que você pensa diz respeito somente a você. E eu ofereço apenas aquilo de que sou feita.

Dúvidas, muito mais do que afirmações. Uma coleção de copos muito variada; perdendo apenas para a playlist do spotify. Uma série de tiragens de tarot que, infelizmente, não são tão bonitas e floreadas quanto as que você poderia pagar para alguém tirar em uma tenda de circo - algumas me fazem chorar; até nelas sou meio humilhada.

Mas as cartas me disseram que era você antes de ser. E que talvez continue sendo depois (é que sempre existe o livre arbítrio). E eu quero entender se foi destino, escolha ou karma. Eu só sei que aprendi muito com você. 


E o que você absorveu de mim?

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