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MI CASA... SU CASA...

"Toda noite de insônia / Eu penso em te escrever... // Escrever uma carta definitiva / Que não dê alternativa pra quem lê... // Te chamar de carta fora do baralho / Descartar, embaralhar você..."

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Hydrαrɢyrυм

Faz algum tempo que venho adiando a vontade de escrever aqui. É que, às vezes, não falar sobre alguma coisa nos dá a doce ilusão de que não há nada acontecendo. De que vai simplesmente passar. Mas quem me conhece sabe que eu não costumo esquecer.

Algumas coisas vão doer para sempre (e lembrar é uma forma de cutucar a ferida). Por mais que o corpo não mostre, a alma não cicatriza. E em outros tempos eu poderia dizer um "jamais", mas só por hoje vou me atrever a descartá-lo. Porque aprendi que existem coisas com as quais nunca sequer sonhamos e que nos valem muito mais do que aquilo que já passou.

Beleza deixa de ser um adjetivo explícito em que reparamos enquanto esperamos o tempo correr. Se torna a delicadeza implícita nos gestos desengonçados de quem simplesmente não se preocupa. E eu não estava preparada para isso.

Ideais se perdem tão facilmente que parecem nunca ter sido "ideais" pra mim. Todos os planos traçados sobre o passado parecem ficar realmente para trás. Neste momento eu só quero o presente daquele olhar. E eu poderia parafrasear Bentinho: teus "olhos de cigano oblíquo e dissimulado" me fazem acreditar - e almejar - um futuro.

O ontem é palpável. Mas é tudo que eu não posso tocar agora que me é excruciante. Pela primeira vez eu não acho que tenho todo o tempo do mundo, e estes meros minutos que gasto escrevendo parecem desperdício. Essa solidão me parece desesperadora. A escuridão me parece ausência. O silêncio é lunar. E eu queria seu riso lunático. Tudo o que criei no vazio em mim.


Porque você me tocou e eu sinto o calor daquele toque até agora. Não é cotidiano para mim. Tem horas em que chego a acreditar que posso viver sem tocar alguém. E por menos que isso seja físico, é o tato que me faz falta. Você é psicológico, e tenho medo de colocar minhas mãos em você e não ser real.

O medo é, eu sei. E ele é que deveria se dissipar. E eu deveria despir todos esses sentidos e sentimentos em um leito onde eu possa fluir. Porque sem querer eu rio, e deságuo neste seu mar.

Razão para isso não há. Não ar. Sufoco no que escondo, fica o dito pelo não-dito. E não sei se um pode se perder no outro, enquanto o segundo se encontra. Parece algo que deve ser feito junto, e (desta vez não pela "primeira vez") a timidez parece me consumir.


Faz muito tempo que quero escrever aqui. Mas faz muito pouco tempo que encontrei o motivo pelo qual eu precisava escrever aqui. Necessidade era algo a que eu já não estava familiarizada.

Agora eu sinto essa ânsia novamente.

Verdade ou não, ao menos ocupa meu ócio. E quem sabe se torne um vício.

Ou mesmo aquilo que eu nem sonho que possa mudar a minha vida.

Ruim seria se eu nunca tivesse ficado "louca por você"...


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