Seis anos depois de tudo, eu me
pergunto se algo de que me recordo um dia foi real... Se eu realmente te amava,
se você me amava também. Se houve sinceridade, sentimento ou carência. Ou uma
mistura de tudo isso.
Depois de todo esse tempo eu
ainda preciso de respostas, porque tenho me feito – todos os dias – novas
perguntas. Se existia amor, quando acabou? Porque eu ainda sinto que há amor em
mim. Mas não sinto que haja “você” em nenhum lugar.
Ao longo destes anos eu senti a
necessidade de mudar cada mísero pedacinho de mim mesma, para que nunca ninguém
tivesse a garota que um dia foi sua. E acabei perdendo minha essência por
inteira, tentando eternizar a sua. Mas hoje eu percebo que nunca houve esta
parte sua.
Eu nunca conheci aquele que
mantive vivo na memória. Eu me deixei enganar pelos truques sujos da minha
mente, que tentava em vão responder às crescentes dúvidas. E, um dia após o
outro, eu me apaixonei repetidas vezes pela fantasia que eu criava.
Nunca foi você. Foi somente o que
eu sonhava ter sido um “nós”.
Mas nunca houve um “nós” também. Você
disse que eu tinha feito a escolha certa ao preferir você ao saco de pão. Mas
eu me ludibriei pelo “poder” dessa minha única escolha. Você fez todas as
outras. E nem se deu ao trabalho de me incluir nelas.
Por um tempo, durante aquele
outubro, eu acreditei piamente que tínhamos feito aquilo juntos. Que eu tinha
segurado a sua mão e caminhado ao seu lado, até cada um seguir seu próprio
rumo. Mentira. Assim como este, aquele novembro me mostrou que nunca tínhamos
estado lado-a-lado. Quando um dava um passo, o outro dava dois. Estávamos em
descompasso.
E um dia você soltou a minha mão
para poder ir mais longe.
Agora eu me pergunto se fui eu
que corri, ou se você simplesmente parou no lugar. Ou se perdeu na via errada.
Não parece que conseguiu o que buscava. Mas talvez até tenha conseguido e o seu
jeito derrotado de me olhar seja apenas fruto da imaginação. Um dia eu até
imaginei ser amada.
É que eu já falei várias vezes
sobre perdões que nunca vêm e, embora nem sempre seja sobre você, são seus
olhos que me vêm à mente. Eles me pedem desculpas todas as vezes e eu sei que
jamais vou conseguir te desculpar por aquilo. Por ter sido vil comigo e,
principalmente, por ter fingido um dia que se importava.
Nunca foi pela crueldade. Foi
pelo amor.
2.217 dias e um milhão de
lágrimas. Por algo que me disseram ser “namorico de adolescência”. E que
obviamente o foi. Crescer se mostrou uma experiência horrível, e às vezes eu
acordo com uma vontade imensa de não estar aqui. Porque a parte que amou você
era a melhor parte de mim, e nunca existiu para mais ninguém. E me disseram que
isso aconteceria.
Em que pedaço disso tudo eu me
perdi? A partir de qual boca eu percebi que nunca mais seria a sua? E a partir
de qual pele eu notei que nem sabia mais como era te tocar? A partir de qual
fuga vi que nunca mais seria tocada novamente?
Nunca foi o corpo. Foi o
simbolismo de cada coração de origami.
Há seis anos eu te dei o meu
coração – sentimento e órgão. Dei o calor do sangue fluindo pelas veias. Você
me deu o som dos batimentos cardíacos: a porta que se fecha.
Há seis anos pus nas suas mãos
todo o meu amor, tal qual as adolescentes apaixonadas sempre fizeram e sempre
farão. Você deu pérolas aos porcos.
Eu te dei sorrisos e suspiros. E você me ensinou
que o último suspiro é o início da morte.